Bolsonaro associa ‘Triplo A’ ao Acordo de Paris e erra ao justificar não realização da COP 25 no Brasil
Na última quarta-feira (28), o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) falou sobre a decisão do governo brasileiro de cancelar a realização da próxima Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 25, no Brasil. O evento estava previsto para ocorrer em 2019.
Segundo o governo brasileiro, a decisão de não realizar a conferência em território nacional foi tomada por “restrições fiscais e orçamentárias”, mas Bolsonaro, que disse ter influenciado na escolha, também elencou o “compromisso” do Brasil com o chamado “Corredor Triplo A” no Acordo de Paris para a não realização do evento.
O “corredor triplo A” (o nome se refere aos Andes, à Amazonia e ao Atlântico), no entanto, jamais entrou na lista de medidas ligadas ao Acordo de Paris. Trata-se de um projeto de uma ONG que chegou a ser defendida publicamente pelo ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, mas que nunca foi oficialmente encampada pelo governo brasileiro. Veja o detalhamento na checagem da Lupa:
“Está em jogo o ‘Triplo A’ nesse acordo [o Acordo de Paris]…”
Jair Bolsonaro, presidente eleito do Brasil, em entrevista coletiva concedida no dia 28 de novembro de 2018
O Triplo A não está no acordo de Paris nem tem qualquer relação com a COP 25. O projeto que prevê a criação de um corredor ecológico internacional na Amazônia nunca foi defendido oficialmente pelo governo brasileiro nem faz parte dos compromissos assumidos pelo país em negociações internacionais sobre o clima.
O compromisso do Brasil no Acordo de Paris é a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (CND), documento que sequer menciona a criação deste corredor ecológico. Oficialmente, a meta específica do Brasil é reduzir as emissões de gases de efeito estufa para 37% abaixo do nível 2005 até o ano de 2025, e avançar para 43% abaixo até 2030.
A única citação da Amazônia no acordo é o compromisso de zerar o desmatamento ilegal no bioma até o ano de 2030. Essa ação está listada como uma “medida adicional”, que inclui também o aumento da participação da bioenergia sustentável entre as matrizes energéticas, o fortalecimento do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono e a promoção de novos padrões de tecnologias limpas, por exemplo.
Não é a primeira vez que Bolsonaro se refere ao “Triplo A” como sendo parte do Acordo de Paris. Em discurso feito no dia 22 de julho, quando foi oficializado como candidato à Presidência da República, fez declaração semelhante – e ela foi checada pela Lupa.
A Lupa contatou o Ministério do Meio Ambiente, que, por e-mail, confirmou que a criação do corredor Triplo A não está listada em nenhuma das agendas da COP 25 e que não há referência a sua criação no Acordo de Paris.
“… O que é o ‘Triplo A’? É uma grande faixa que pega dos Andes, Amazônia e Atlântico, 136 milhões de hectares, ali, então, ao longo da calha dos rios Solimões e Amazonas”
Jair Bolsonaro, presidente eleito do Brasil, em entrevista coletiva concedida no dia 28 de novembro de 2018
O Corredor Triplo A é um projeto da ONG Gaia Amazonas, braço da instituição britânica Gaia Foundation, sediada na Colômbia. A ideia é criar um corredor de áreas protegidas que vai dos Andes colombianos à costa do Atlântico, no estado do Amapá.
Há diferentes versões desse projeto, que podem incluir territórios de até oito países, mas o que ganhou mais notoriedade é uma versão de 136 milhões de hectares que inclui partes do Brasil, da Colômbia e da Venezuela. Na parte brasileira, grande parte desses territórios já é composta por áreas de proteção permanente ou por territórios indígenas. Entretanto, isso nunca chegou a ser sequer debatido formalmente pelo governo do Brasil – logo, não está na pauta de compromissos assumidos pelo país com qualquer instituição internacional.
Em 2015, o então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, anunciou que proporia a criação desse corredor aos governos brasileiro e venezuelano. Porém, essa proposta jamais foi formalizada. Santos deixou a presidência da Colômbia, após dois mandatos, em agosto deste ano.
Editado por: Cristina Tardáguila e Natália Leal
O conteúdo produzido pela Lupa é de inteira responsabilidade da agência e não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem autorização prévia.
A Agência Lupa é membro verificado da International Fact-checking Network (IFCN). Cumpre os cinco princípios éticos estabelecidos pela rede de checadores e passa por auditorias independentes todos os anos
Leia também
Fale com a redação no lupa@lupa.news
Sugestão de Checagem?
Quero ser um checador

- 2021
- 2020
- 2019
- 2018
- 2017
- 2016
- 2015
- dezembro (70)
- novembro (244)
- outubro (168)
- setembro (88)
- agosto (109)
- julho (130)
- junho (181)
- maio (175)
- abril (169)
- março (89)
- fevereiro (50)
- janeiro (56)
- dezembro (55)
- novembro (55)
- outubro (58)
- setembro (59)
- agosto (57)
- julho (57)
- junho (54)
- maio (61)
- abril (65)
- março (57)
- fevereiro (72)
- janeiro (72)
- dezembro (65)
- novembro (74)
- outubro (117)
- setembro (69)
- agosto (64)
- julho (37)
- junho (37)
- maio (40)
- abril (32)
- março (49)
- fevereiro (21)
- janeiro (29)
- dezembro (27)
- novembro (22)
- outubro (23)
- setembro (26)
- agosto (24)
- julho (20)
- junho (22)
- maio (27)
- abril (22)
- março (18)
- fevereiro (15)
- janeiro (9)