Em estreia de canal no YouTube, Haddad erra sobre orçamento do Ministério da Educação
Na segunda-feira (1), o ex-senador Lindbergh Farias (PT) e a ex-senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) lançaram um canal no YouTube denominado “À Esquerda”. O primeiro convidado foi Fernando Haddad, ex-candidato à Presidência da República pelo PT, ex-ministro da Educação no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ex-prefeito de São Paulo, de 2013 a 2016. A Lupa analisou algumas das falas dele no programa. Confira:
“Um Ministério da Educação que tinha um orçamento de R$ 20 bilhões [quando assumi o cargo]. Eu deixei o ministério com orçamento de R$ 100 [bilhões]”
Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, em entrevista ao canal À Esquerda, no YouTube, em 1º de abril de 2019
Haddad foi ministro da Educação de julho de 2005 até janeiro de 2012. Quando ele iniciou sua gestão à frente do ministério, o orçamento da pasta era de R$ 33,5 bilhões (em valores corrigidos pelo IPCA até janeiro de 2012). Quando ele deixou o cargo, o orçamento chegava a R$ 85,2 bilhões. Os dados são do portal Siga Brasil, do Senado Federal, confira aqui.
Assim, considerada a inflação do período em que Haddad esteve à frente da pasta, o montante cresceu duas vezes – e não cinco vezes, como sugerido pelo ex-ministro.
Procurada, assessoria de Haddad informou que, em 2004, o orçamento era de cerca de R$ 19 bilhões. O valor, no entanto, é nominal, ou seja, desconsidera a inflação.
Em relação ao orçamento de 2012, Haddad afirmou que “provavelmente não foram considerados os anexos do Prouni, Fies e talvez Fundeb. Com eles chega nos R$ 100 bilhões”. Embora Haddad esteja correto sobre a ausência do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), juntos, os gastos nesses dois programas somaram apenas R$ 6 bilhões em 2012, ou seja, valor insuficiente para atingir os R$ 100 bilhões citados pelo petista.
Segundo o relatório Despesa Federal com Educação, do Senado, as despesas totais da União com o Fies foram de R$ 5,3 bilhões. Já o Demonstrativo dos Gastos Tributários de 2012 estimou em R$ 738 milhões o custo do Prouni.
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) foi considerado no levantamento do Siga.
“Hoje é R$ 30 bilhões [o orçamento do Bolsa Família] (…)”
Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, em entrevista ao canal À Esquerda, no YouTube, em 1º de abril de 2019
Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019, o programa Bolsa Família tem um orçamento de pouco mais de R$ 30 bilhões neste ano.
“(…) mas [o orçamento do Bolsa Família] eram R$ 20 [bilhões no governo Lula]”
Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, em entrevista ao canal À Esquerda, no YouTube, em 1º de abril de 2019
Nos últimos três anos de governo Lula, o orçamento do programa Bolsa Família esteve próximo ao patamar citado por Haddad, quando considerados valores corrigidos pelo IPCA. O programa teve disponíveis R$ 19,4 bilhões em 2008, R$ 20,4 bilhões em 2009 e R$ 22,1 bilhões em 2010.
Antes disso, porém, os valores destinados ao Bolsa Família estavam em um patamar mais baixo. Entre 2003 e 2007, o orçamento do programa foi de R$ 11,6 bilhões para R$ 16,8 bilhões (em valores corrigidos pelo IPCA). Confira os dados completos aqui.
“Superávit [comercial] de US$ 30 bilhões que o Brasil tem [com a China]”
Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, em entrevista ao canal À Esquerda, no YouTube, em 1º de abril de 2019
Segundo o ComexStat, base de dados do Ministério da Economia sobre comércio exterior, o Brasil exportou para a China US$ 64,2 bilhões, e importou US$ 34,7 bilhões – um superávit comercial de US$ 29,5 bilhões. Esse patamar de ganhos, porém, foi alcançado somente no ano passado. Em 2017, por exemplo, o superávit foi US$ 20,1 bilhões e em 2016, US$ 11,7 bilhões. Veja os dados completos aqui.
“Nós geramos o maior saldo de empregos líquidos da história do Brasil. Foram 20 milhões de empregos em 12 anos”
Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, em entrevista ao canal À Esquerda, no YouTube, em 1º de abril de 2019
Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, a diferença entre o número total de pessoas empregadas em 2002, último ano antes de Lula tomar posse, e em 2015, último ano completo do PT no governo, era de 19,4 milhões.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), também do Ministério do Trabalho, mostra um número diferente. O sistema aponta que 14,1 milhões de empregos foram criados durante os governos do PT. Esse resultado é a soma dos empregos gerados entre o primeiro mês do governo Lula (janeiro de 2003) e o último mês completo do governo Dilma Rousseff (abril de 2016).
Há diferenças importantes entre essas duas fontes oficiais que explicam a diferença nos números. Primeiro, o escopo. O Caged mostra apenas empregos no setor privado, enquanto a Rais também contabiliza empregados na administração pública. Entre 2002 e 2015, a administração pública criou 2,4 milhões de novos postos de trabalho.
Além disso, a periodicidade de atualização das duas fontes é diferente. Como o nome diz, a Rais é anual, enquanto o Caged é publicado todo mês. Por causa disso, pela Rais, não é possível saber quantos empregos foram perdidos entre janeiro e abril de 2016, últimos meses de Dilma no comando do país, enquanto no Caged esse dado está disponível.
Editado por: Cristina Tardáguila e Natália LealO conteúdo produzido pela Lupa é de inteira responsabilidade da agência e não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem autorização prévia.
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