Segurança, renda per capita, educação: erros do ministro Weintraub antes de assumir o MEC
Na última terça-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) deu posse ao economista Abraham Weintraub no Ministério da Educação. O novo titular da pasta foi confirmado na segunda-feira (8), após a demissão de Ricardo Vélez Rodríguez. A Lupa analisou algumas falas do novo ministro em lives e eventos públicos em que ele apresentou suas ideias, antes mesmo de ser cogitado para assumir o MEC. Confira abaixo:
“Os estados onde você teve a maior piora no nível de homicídios (…) é Maranhão, Pará, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em live transmitida pelo YouTube no dia 8 de setembro de 2018
Dos estados citados por Weintraub, apenas o Rio Grande do Sul está entre os cinco que mais tiveram crescimento no número de mortes violentas intencionais desde 2013. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estado com maior crescimento na violência não foi nenhum dos citados pelo ministro. Com 131% de crescimento na taxa de mortes por 100 mil habitantes entre 2013 e 2017, o Acre é quem ocupa a primeira posição neste ranking.
Em segundo lugar aparece o estado de Roraima (101%), seguido por Pernambuco (70%) e Amapá (67%). O Rio Grande do Sul, que Weintraub cita, é o quinto estado onde a taxa de mortes por 100 mil habitantes mais cresceu de 2013 a 2017, com 46%.
As outras unidades da federação às quais o ministro se refere tiveram crescimento mais próximo da média nacional para o período, que foi de 11%. No Pará, o aumento foi de 20%, no Ceará, 17%, na Bahia, 13% e no Maranhão, 12%. Veja o levantamento aqui.
No Atlas da Violência de 2018, Maranhão e Bahia aparecem entre os cinco estados com maior crescimento na taxa de mortes por 100 mil habitantes de 2006 a 2016. O levantamento também indica o crescimento entre 2015 e 2016 – mas só a Bahia aparece no ranking. Há um terceiro indicador, de 2011 a 2016, no qual nenhum dos estados citados pelo ministro é elencado.
Procurado para comentar, Weintraub não retornou.
“[Os países da] América Latina tem uma renda per capita parecida como um todo, sempre teve”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em palestra na Cúpula Conservadora das Américas, no dia 8 de dezembro de 2018
O PIB per capita de diferentes países e regiões da América Latina varia bastante atualmente – e sempre variou ao longo da história. Em 1962, o PIB per capita da Argentina, economia mais desenvolvida da América Latina à época, era de US$ 1.148. Isso representava 16 vezes o PIB per capita do Haiti, que era o país mais pobre da região, 10 vezes o da Bolívia, país mais pobre da América Hispânica e 4,5 vezes o do Brasil.
Em 1980, 18 anos depois, a Venezuela era o país mais rico da região, com PIB per capita de US$ 3.852. Isso representava 16 vezes o PIB do Haiti, seis vezes o da Nicarágua, então o país mais pobre da América Hispânica, e o dobro do PIB per capita do Brasil.
Em 2017, último ano com dados disponíveis, o Uruguai era o país mais rico da América Latina. Seu PIB per capita, US$ 16.245, era 21 vezes maior do que o do Haiti, sete vezes maior do que o da Nicarágua e 1,5 vez o do Brasil. Os dados são do Banco Mundial.
Procurado para comentar, o ministro não retornou.
“Hoje o Brasil está com quase metade da renda per capita do Chile”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em palestra na Cúpula Conservadora das Américas, no dia 8 de dezembro de 2018
Segundo o Banco Mundial, em 2017, último ano com dados disponíveis para os dois países, a renda per capita do Brasil era de US$ 9.821, 64%, ou cerca de dois terços, do PIB per capita do Chile: US$ 15.346.
Procurado para comentar, o ministro não retornou.
“O que o Brasil gasta [com educação] é no mesmo patamar do que os países que estão em boas posições gastam”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em live transmitida pelo YouTube no dia 8 de setembro de 2018
Segundo o estudo Education at a Glance 2018, os gastos do Brasil com educação eram, em 2015, de US$ 3,8 mil anuais por estudante dos ensinos fundamental e médio. Esse valor é menos da metade da média gasta pelos países da OCDE – que é de US$ 9,4 mil. O gasto por estudante do Brasil é um dos mais baixos dos países avaliados, à frente apenas do México e da Colômbia.
Entretanto, quando consideramos o valor proporcional ao PIB, as despesas do setor público brasileiro em educação, do ensino fundamental ao nível superior, equivaliam a 5,5% do PIB. A média da OCDE é de 4,5%.
Segundo a própria OCDE, essa discrepância é explicada pela diferença no porte das economias. “Apesar de o gasto com educação como percentual do PIB no Brasil estar entre os mais altos entre a OCDE e seus países parceiros, o PIB per capita do país é mais baixo, o que significa que o gasto por estudante é um dos mais baixos”, diz o relatório.
Procurado para comentar, Weintraub não retornou.
“Metade dos estupros cometidos no Brasil são contra criança. (…) Não é o pai, nem o padrasto. É o amigo [quem mais comete estupro contra crianças]”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em live transmitida pelo YouTube no dia 8 de setembro de 2018
De fato, metade, ou 50,9%, dos casos de estupro registrados no país em 2016 foram contra crianças de até 13 anos. Um terço dessas agressões são cometidas por amigos e conhecidos da vítima. Outros 30% são familiares mais próximos somados – como mãe (2,48%), pai (12,03%), irmãos (3,26%) e padrastos (12,09%). Os dados são do Atlas da Violência 2018.
*Esta coluna foi publicada pelo UOL em 10 de abril de 2019.
Editado por: Natália LealO conteúdo produzido pela Lupa é de inteira responsabilidade da agência e não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem autorização prévia.
A Agência Lupa é membro verificado da International Fact-checking Network (IFCN). Cumpre os cinco princípios éticos estabelecidos pela rede de checadores e passa por auditorias independentes todos os anos
A Lupa está infringindo esse código? Clique aqui e fale com a IFCN
Leia também
Fale com a redação no lupa@lupa.news
Sugestão de Checagem?
Quero ser um checador
Política de correção
- 2022
- 2021
- 2020
- 2019
- 2018
- 2017
- 2016
- 2015
- dezembro (64)
- novembro (73)
- outubro (63)
- setembro (69)
- agosto (67)
- julho (74)
- junho (69)
- maio (97)
- abril (65)
- março (72)
- fevereiro (63)
- janeiro (68)
- dezembro (70)
- novembro (244)
- outubro (168)
- setembro (88)
- agosto (109)
- julho (130)
- junho (181)
- maio (175)
- abril (169)
- março (89)
- fevereiro (50)
- janeiro (56)
- dezembro (55)
- novembro (55)
- outubro (58)
- setembro (59)
- agosto (57)
- julho (57)
- junho (54)
- maio (61)
- abril (65)
- março (57)
- fevereiro (72)
- janeiro (72)
- dezembro (65)
- novembro (74)
- outubro (117)
- setembro (69)
- agosto (64)
- julho (37)
- junho (37)
- maio (40)
- abril (32)
- março (49)
- fevereiro (21)
- janeiro (29)
- dezembro (27)
- novembro (22)
- outubro (23)
- setembro (26)
- agosto (24)
- julho (20)
- junho (22)
- maio (27)
- abril (22)
- março (18)
- fevereiro (15)
- janeiro (9)