Contradições de Bolsonaro, ivermectina, falso vale-gás: as checagens mais lidas de 2021
A pandemia da Covid-19, golpes para roubar dados pessoais e a crise econômica foram os três principais temas presentes nos dez conteúdos mais lidos da Lupa em 2021. Posts falsos sobre tratamento precoce ou medicamentos sem eficácia comprovada deram lugar à desinformação sobre vacinas, mas os dois assuntos aparecem no topo do ranking. O ano também foi repleto de tentativas de golpes oferecendo presentes que, na verdade, eram apenas tentativas de lucrar com dados dos internautas. Já a alta do dólar e o consequente aumento do valor dos combustíveis levaram à disseminação de informações falsas sobre o vale-gás e sobre a política de impostos do governo federal. Veja, abaixo, a lista completa das nossas reportagens mais acessadas:
Em 18 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mudaram o discurso sobre a CoronaVac, vacina contra a Covid-19 produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac. Antes chamado de “vacina chinesa do João Doria”, o imunizante passou a ser a “vacina do Brasil”. A Lupa apontou quatro contradições no discurso adotado pelas duas autoridades naquela data, que marcou o início da distribuição de doses por todo o país.
Em março, uma metanálise de 45 estudos sobre os supostos benefícios da ivermectina contra a Covid-19 começou a ser divulgada nas redes sociais como a “comprovação científica” que faltava sobre o medicamento. Especialistas mostraram, no entanto, que a metodologia adotada tinha uma série de falhas e as conclusões apresentadas estavam erradas. Após análise de estudos randomizados, a Organização Mundial de Saúde (OMS) destacou que ainda existem incertezas sobre benefícios e danos potenciais do antiparasitário e que mais pesquisas são necessárias..A recomendação, publicada em março, é para que o medicamento só seja usado em ensaios clínicos.
Em abril, a alta no preço do botijão de gás levou criminosos a criarem um golpe para tentar roubar dados de usuários. Por meio de uma mensagem enviada no WhatsApp, os bandidos criaram um falso credenciamento para um programa de “vale-gás social”. O benefício seria de R$ 110 para cada família que se cadastrasse e só valeria para pessoas de baixa renda, aposentados e recebedores do auxílio-emergencial e do Bolsa Família. O programa federal não existia, segundo o Ministério da Cidadania. Uma iniciativa similar só foi surgir em novembro, depois de ser aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada por Bolsonaro. Mesmo com a aprovação do benefício, é preciso continuar de olho para golpes desse tipo.
O único boato relacionado à religião que está entre as matérias mais lidas do ano dizia que o papa Francisco havia sugerido o cancelamento da Bíblia e pedido a sua substituição por um outro livro. A verificação foi publicada, originalmente, em abril de 2019. Contudo, dois anos depois, muita gente voltou a compartilhar essa mesma informação falsa, que surgiu como uma piada publicada em um site humorístico, o There Is News. A verificação mostrou que a própria página dizia que todo o conteúdo divulgado era ficção — nada disso, no entanto, aparecia nos posts que viralizaram na época.
A alta dos combustíveis foi responsável por outro dos conteúdos mais lidos no ano. Em abril, circulou um vídeo em que um consumidor mostrava uma nota fiscal e criticava um suposto erro na cobrança do imposto federal pelo etanol. Ele dizia que o governo federal havia zerado os tributos e, por isso, chamou a polícia e teve o dinheiro devolvido. A informação, no entanto, era falsa. O Ministério da Economia explicou que não foi zerado o imposto da gasolina e do etanol. Já o gerente do posto também afirmou que a notícia da devolução do dinheiro também era falsa.
A marca da rede de supermercados Atacadão foi usada indevidamente, em julho, em um dos golpes que viralizaram em 2021. Uma mensagem no WhatsApp dizia que, em comemoração aos “50 anos” da empresa, estariam sendo distribuídos vale-presentes no valor de R$ 500. O Atacadão completou 59 anos em 2021, não 50. Além disso, a mensagem era uma fraude destinada a capturar dados pessoais das vítimas, que também acabavam sendo induzidas a compartilhar o golpe com mais pessoas para ganhar o suposto prêmio.
A sétima matéria mais lida, publicada em fevereiro, desmentiu um post sobre um suposto golpe que usava imagens de “bom dia” enviadas pelo WhatsApp que carregavam um código malicioso com o objetivo de roubar dados dos usuários. O texto citava como fonte um jornal que não existia, o Shangai China International News. Nenhum relato do tipo foi publicado em veículos de imprensa. A tecnologia citada, também, era inexistente.
Outra mensagem que viralizou nas redes sociais, em março, dizia que a Rússia havia revelado que a Covid-19 era causada por uma bactéria modificada pela tecnologia 5G, não por um vírus. Isso teria sido descoberto a partir de uma autópsia de um cadáver que morreu com a doença. Não há qualquer base científica nessa afirmação e há farta documentação sobre a ação do Sars-CoV-2 – inclusive foram criadas vacinas contra o vírus. O Ministério da Saúde da Rússia diz que a Covid-19 é causada pelo novo coronavírus. O boato sobre “bactérias modificadas pelo 5G” começou no início da pandemia, quando se falava que a Itália havia feito essa descoberta.
Também com a desculpa de comemoração de um aniversário de 20 anos do Mercado Livre, criminosos virtuais passaram a oferecer presentes para quem respondesse e compartilhasse uma mensagem pelo WhatsApp. Assim como ocorreu com o Atacadão, tratava-se, contudo, de outro golpe que aproveitou o nome de uma empresa famosa. A fraude foi desmentida em junho. Nesse caso, a data de aniversário também estava errada. O Mercado Livre fez 20 anos em 2019, não em 2021.
Uma das afirmações falsas disseminadas pelo presidente Jair Bolsonaro no começo da pandemia continuou a circular com força nas redes sociais em 2021: a de que o Supremo Tribunal Federal (STF) havia impedido o mandatário do controle da Covid-19, deixando essa responsabilidade apenas para governadores e prefeitos. Um post com esse teor foi desmentido em julho de 2020, mas mesmo assim Bolsonaro continuou a culpar o tribunal. Na verdade, o STF entendeu que os governadores e prefeitos têm autonomia para traçar planos de combate à Covid-19 em seus territórios. Isso não impede o governo federal de adotar ações restritivas para evitar a disseminação do vírus e combater a doença.
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