O apartheid sanitário imposto pela pandemia começa pela maior exposição de pobres e moradores de periferia ao vírus – são eles que têm que sair mais de casa para trabalhar. A cada 100 brasileiros ocupados, 86 trabalham presencialmente durante a epidemia. A desigualdade também se agrava com a maior dificuldade de acesso a serviços de saúde em alguns locais. Os dados foram compilados pelo Pindograma, site de jornalismo de dados, a partir do Projeto Acesso a Oportunidades, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Confira no =igualdades.
Em plena pandemia da Covid-19, em novembro de 2020, 72,9 milhões de pessoas trabalhavam presencialmente. E apenas 11,8 milhões faziam trabalho remoto ou estavam afastadas.
Pobres e periféricos estão mais expostos à pandemia, já que têm que sair mais de casa para trabalhar, além de passar mais tempo no trajeto até o trabalho. Em Belo Horizonte, a metade mais pobre da população tem acesso, em média, a 37% dos locais de trabalho a uma hora de ônibus. Já no Recife, essas pessoas têm de passar ainda mais tempo no transporte: só 15,5% dos postos estão acessíveis, em média, a essa população com esse tempo de viagem.
Em Porto Alegre, no bairro popular da Restinga, uma viagem de 30 minutos de ônibus leva um morador a apenas 0,5% dos locais de trabalho da cidade. Com o mesmo tempo, um habitante do Moinhos de Vento, bairro de classe alta, consegue chegar a 43,4% dos locais de trabalho do município.
O apartheid sanitário em tempos de pandemia se agrava com a maior dificuldade de acesso a serviços de saúde em certos lugares. Em Duque de Caxias, entre os 10% mais ricos, 65% estão a 30 minutos ou menos de caminhada de uma Unidade Básica de Saúde. Já entre os 10% mais pobres da cidade, apenas 34% estão a menos de meia hora do atendimento básico de saúde.
Em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, 83% da população vulnerável* está a menos de 30 minutos de uma Unidade Básica de Saúde. Já no Recife, 99% dos habitantes se encaixam nesse critério.
Na periferia Oeste do Rio, 21% da população está a 30 minutos ou mais de caminhada de uma Unidade Básica de Saúde. Já na periferia Leste de São Paulo, só 1% da população passa pela mesma situação.
Em Brasília, 67% da população vulnerável mora a 15 km ou mais de uma UTI. Já em Manaus, 22% da população mais vulnerável mora a 15 km ou mais de uma UTI.
*Nota metodológica: nas comparações 5 e 7, a população vulnerável citada é composta de pessoas de 50 anos ou mais entre a metade mais pobre dos habitantes da cidade.
Fontes: IBGE; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), compilados pelo Pindograma