Ao escolher , de Cristiano Burlan, como melhor documentário brasileiro do 18º Festival É Tudo Verdade, prêmio que tem o nome de “Janela para o contemporâneo”, o júri oficial, integrado por Flávia Castro, Marcelo Machado e Matias Mariani, deliberadamente ou não, deu um sinal claro não só para os outros realizadores cujos filmes estavam em competição, como também aos documentaristas, produtores e patrocinadores brasileiros em geral.
Mataram meu irmão reúne pelo menos quatro qualidades, ausentes da maioria dos filmes que vêm sendo produzidos no Brasil. Trata de assunto contemporâneo de uma perspectiva pessoal, é centrado em tema delimitado, tem forma narrativa e visual rigorosamente planejada. Mesmo sem ser um documentário integralmente satisfatório, não há dúvida que está numa categoria à parte dos demais concorrentes ao prêmio no É Tudo Verdade.
O assassinato de um irmão ou de uma tia são, por si só, motivações suficientemente fortes, dificilmente suplantáveis, para realizar um documentário. Esses são filmes movidos pela dor, diante dos quais projetos em que o diretor está protegido atrás da câmera empalidecem. O movimento para tentar entender, por meio da feitura de um filme, as razões que levaram a perdas trágicas de pessoas próximas é um gesto de grandeza que merece respeito e reconhecimento.
Encerrando o É Tudo Verdade, foi exibido, no Rio, Filha-problema, de Stéphanie Argerich, filha de Martha Argerich. Nesse caso, sem que haja morte próxima, não deixa de haver sentimento de perda por parte da diretora. Através do filme ela também está à procura de algo crucial para sua própria vida – conhecer melhor quem são sua mãe e seu pai.