CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2025
A língua do contra
O dialeto criado no Rio para driblar a repressão
Maria Júlia Vieira | Edição 225, Junho 2025
O sambista e produtor de eventos Marcelo Paxu carrega na mão direita o apelido de infância que adotou como sobrenome. Por chupar os dedos quando pequeno, ele era chamado de Pachu Dode. Não precisou explicar a origem dessa curiosa alcunha a Dioclau, o tatuador que desenhou as letras P-A-X-U em suas falanges. Os dois são amigos e compartilham a cultura muito particular que nasceu no KGL– sigla usada por pichadores, amantes da poesia slam, skatistas e rappers, para designar a região dos bairros do Catete, da Glória e da Lapa, no Rio de Janeiro. E ambos, tatuador e tatuado, são fluentes na linguagem popular da região, a gualín.
Forma de comunicação cifrada, a gualín é composta por inversões silábicas. “Chupa-dedo” converte-se em “Pachu Dode”. “Cláudio”, nome do tatuador, vira “Dioclau”. E, claro, “língua” vira “gualín”. O estúdio onde Dioclau trabalha fica no TTK, inversão da sigla KTT (por extenso, Catete). No mesmo dia em que esteve lá para marcar sua alcunha nos dedos, Paxu – que no registro de nascimento é Marcelo Gimenez – decidiu tatuar no antebraço uma entidade da umbanda: Zé Pelintra, que é também “patrono” da malandragem, com seu chapéu inclinado e o impecável terno branco.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
ASSINE