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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2007

esquina

A segunda extinção

Os animais empalhados se mexem

Marcos Sá Corrêa | Edição 7, Abril 2007

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No Parque Nacional de Itatiaia, a taxidermia saiu do armário. Estava trancada há décadas nas vitrines do Museu Nacional da Fauna e da Flora. Eram mais de quatrocentos animais expostos, sem falar nas centenas de múmias que se escondiam em gavetas lotadas. Enquanto permaneceu no parque, o acervo recebia cerca de 100 mil visitantes por ano. Em troca, dava-lhes a chance de ver de perto, em total segurança – a não ser pelo risco de tropeçar nos tacos soltos – onças, queixadas, bugios e outros bichos raros, furtivos ou mesmo extintos. Tudo isso em meia dúzia de salas, praticamente à beira da Via Dutra, a meio caminho
entre Rio e São Paulo.

Ali morava uma Harpia harpyja, besta campeã de ferocidade. De dentro de sua gaiola de vidro, exibia-se com um sagüi enganchado nas garras, escancarando de um lado a outro do armário seu metro e tanto de envergadura. Era asa de sobra para ninguém se importar com as insinuações de ocupação espúria do lugar. Na discreta etiqueta a seus pés, aquele gavião-real era identificado como ave caçada em 1953 – no Espírito Santo. Tratava-se, a rigor, de um embaixador da mata capixaba junto à fauna local.

Durante muito tempo, ninguém pareceu ligar para esse tipo de detalhe. Nem se incomodar com o cheiro de desinfetante que escapava das prateleiras, temperando o ar da montanha com o bafo químico dos laboratórios de história natural. Também o bafo era parte do museu, como os móveis de madeira maciça, postos em seus lugares definitivos pelo governo Getúlio Vargas, numa época em que as coisas do serviço público pretendiam durar para sempre. Eram vitrines pesadas, inteiriças, altas como o pé-direito dos anos 40, autênticos exemplares de móveis inamovíveis.

 

Os armários foram removidos no começo do verão passado, quando o museu fechou para reforma. E, com eles, lá se foram os animais empalhados, todos despachados para o depósito. São peças históricas, de farto pedigree acadêmico. Há, entre elas, verdadeiras relíquias de inventários científicos que começaram a vasculhar Itatiaia há mais de um século.

Mas, francamente, nos últimos tempos, andavam fora de moda. Os visitantes deram para estranhar o hálito de conservantes que fugia das vitrines. Farejavam vapores mortuários no que sempre lhes parecera natural. As crianças, escoladas pelas aulas de educação ambiental, passaram a perguntar quem havia matado aquela bicharada toda, logo ali, num parque nacional. E, ao assumir o cargo em 2005, o novo gerente de Itatiaia, Walter Behr, percebeu que certos pássaros, com a idade, já não posavam
para a posteridade como manda o figurino da taxidermia: imóveis. Iam aos poucos tombando em seu poleiro, como se pendurados de cabeça para baixo imortalizassem o tiro que lhes abrira a porta da vida eterna.

Behr, logo depois da posse, achou numa pilha de papéis velhos, esquecida no chão pelo antecessor, um projeto para a “revitalização” em regra do Centro de Visitantes, que inclui o museu. E meteu a mão num ninho de múmias intocáveis.

 

O Itatiaia foi chocado durante décadas. Nasceu de uma campanha de naturalistas para salvar o último retalho de mata atlântica no Vale do Paraíba, queimada no século XIX para dar passagem ao café. Na reforma, planejada pela arquiteta Heloisa Alves, a idéia de “revitalizar a apresentação visual aos visitantes” tomou a forma de painéis, telas de vídeo e maquetes. São eles que contarão a história do parque. Isso quer dizer que os bichos empalhados perderão espaço. Os que sobreviverem à mudança voltarão, limpos e restaurados, às prateleiras. De quebra, ganham recursos para exibir seu canto aos visitantes e outros trunfos da tecnologia audiovisual. O resto vai ser mandado para um lugar chamado “reserva técnica”, o limbo dos museus.

Durante quase todo o ano de 2006, enquanto o país se distraía com sanguessugas e aloprados, Itatiaia falou desse escândalo. O conselho consultivo do parque ameaçou embargar o projeto. A câmara municipal fez audiência pública para debatê-lo. E a ornitóloga Eliane Regina Maia Gouvea defendeu até os armários. Ela é filha de Elio Gouvea, um funcionário que, guiando pesquisadores como guarda-parque, formou-se em biologia. Foi ele quem coletou e empalhou pessoalmente a maioria dos pássaros expostos. Terminou a vida como professor na Universidade de Barra Mansa, onde implantou um curso de taxidermia que, sem ele, não constaria do currículo. Há sete anos, aliás, logo depois de sua morte, o laboratório fechou.

A taxidermia parece mesmo um anacronismo. É velha como os faraós egípcios. Foi moda na Inglaterra vitoriana, onde o barão Lionel de Rothschild, depois de converter em oficinas zoológicas quase todos os cômodos de seu castelo de Tring, extinguiu pelo menos nove espécies de aves do Havaí, encomendando amostras raras a caçadores profissionais. Suas coleções estão preservadas nos museus de história natural de Londres e de Nova York. Sua fama, nem tanto.

 

Mudou o gosto dos naturalistas. Eles têm hoje mais afinidade com o americano Alexander Skutch, que se recusou a comprar amostras do belo quetzal em lojas de suvenir, onde eram comuns. Durante anos, nas matas da América Central, Skutch buscou, em vão, amostras vivas e soltas do pássaro. Segundo ele, “pode ser agradável ter diante dos olhos o retrato de um amigo morto, mas quem gostaria de guardar a múmia de um amigo?”

Talvez, por exemplo, os clientes de Fernando Chiavenato. Aos 36 anos, ele vive de ensinar e praticar taxidermia em Curitiba. São “dez anos na arte de perpetuar uma emoção”, diz um anúncio de sua escola. Chiavenato lastima “a falsa moda ecológica” e “a insensibilidade artística dos taxidermistas”, que levaram os museus a se conformar com “bichos sem expressão nem movimento”. Daí vêm, a seu ver, os preconceitos que comprometem o ofício. Ele argumenta: “Fala-se muito que a onça está em extinção. Mas, vai ver, há quatro machos ali disputando a mesma área – alguns deles, bem manejados, dariam excelentes troféus”.

Não é o caso da Harpia harpyia de Itatiaia (ou melhor, do Espírito Santo). Mal manejada, é possível que tenha desaparecido da Mantiqueira para sempre. Mas sua vaga na vitrine está garantida, assim que o Museu Regional da Fauna e Flora reabrir para o aniversário de 70 anos do parque, no dia 14 de junho. De volta à prateleira, ela escapará pelo menos da segunda extinção – a póstuma.

Marcos Sá Corrêa
Marcos Sá Corrêa

Marcos Sá Corrêa é jornalista. Foi editor de piauí entre 2006 e 2011.

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