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    "Ele atirou quatro vezes na mãe porque era uma bala para cada um de nós: uma para Nancy, uma para ele próprio, uma para o irmão Ryan e uma para mim", diz o pai de Adam Lanza ILUSTRAÇÃO: SHOUT

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Acerto de contas

O pai de um matador procura respostas

Andrew Solomon | Edição 94, Julho 2014

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Do sótão da casa nova de Peter Lanza, numa isolada rua particular do condado de Fairfield, em Connecticut, transbordam caixotes do que ele chama de “o material”. Depois daquele dia de dezembro de 2012 em que seu filho, Adam, matou a própria mãe e outras 26 pessoas na Escola Fundamental Sandy Hook e, por fim, deu cabo da própria vida, desconhecidos do mundo todo lhe enviaram milhares e milhares de cartas e lembranças: xales de oração, bíblias, ursinhos, brinquedos artesanais, histórias com títulos como “Meu primeiro Natal no Céu” e cruzes, uma das quais confeccionada por presidiários. Mandaram-lhe doces também, e quando visitei Peter, no outono passado, ele me mostrou um saco de caramelos que havia chegado havia um ano. Não quis jogar nada fora, embora tenha receado “comer qualquer coisa” – e tampouco deixou que sua segunda mulher, Shelley Lanza, provasse um único daqueles caramelos. Como saber se não estavam envenenados? No piso térreo, em seu escritório, vi uma caixa de fotografias da família. Peter me contou que costumava manuseá-las, mas que agora mal conseguia olhar para as fotos de Adam, e lhe parecia estranho exibir apenas as do filho mais velho, Ryan. “Não estou lidando com o problema”, disse. Mais tarde, acrescentou: “Não é possível chorar pelo garotinho que ele foi. Não dá para se enganar.”

Peter evita a imprensa desde os tiros disparados por Adam, mas em setembro, perto do primeiro aniversário do massacre cometido por seu filho, ele me procurou para dizer que estava pronto para contar sua história. Tivemos seis encontros, um dos quais chegou a durar sete horas. Em geral, Shelley, bibliotecária da Universidade de Connecticut, se juntava a nós e preparava o almoço – sopa, chili ou salada. Vez por outra brincávamos com o pastor-alemão deles. Quando Peter fala, ainda se nota um forte sotaque rural de Massachusetts e do sul de New Hampshire, onde ele e sua primeira mulher – Nancy, a mãe de Adam – cresceram. Peter é um homem afável, dotado de uma compostura que, com frequência, oculta seu desespero. Contador, é vice-presidente encarregado de tributos de uma subsidiária da General Electric; manifesta uma necessidade quase maníaca em se ater aos fatos: nada o irritava mais em nossas conversas que especulação – minha, da mídia ou de quem fosse. Por natureza, não é uma pessoa dada à autorreflexão; muitas vezes, era Shelley quem assinalava o subtexto emocional do que ele dizia.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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