A Revista piauí jogos
Podcasts
  • Todos os podcasts
  • Foro de Teresina
  • ALEXANDRE
  • A Terra é redonda (mesmo)
  • Sequestro da Amarelinha
  • Maria vai com as outras
  • Luz no fim da quarentena
  • Praia dos Ossos
  • Praia dos Ossos (bônus)
  • Retrato narrado
  • TOQVNQENPSSC
piauí recomenda
Dossiê piauí
  • O complexo_SUS
  • Marco Temporal
  • Má Alimentação à Brasileira
  • Pandora Papers
  • Arrabalde
  • Perfil
  • Cartas de Glasgow
  • Open Lux
  • Luanda Leaks
  • Debate piauí
  • Retrato Narrado
  • Implant Files
  • Eleições 2018
  • Anais das redes
  • Minhas casas, minha vida
  • Diz aí, mestre
  • Aqui mando eu
Especiais
  • Projeto Querino
  • Versos Negros
Eventos
  • Encontros piauí 2025
  • piauí na Flip
  • Encontros piauí 2024
  • Festival piauí 2023
  • Encontros piauí 2023
Herald Vídeos Lupa
Minha Conta
  • Meus dados
  • Artigos salvos
  • Logout
Faça seu login Assine
  • -
  • A Revista
  • piauí jogos
  • Podcasts
    • Todos os podcasts
    • Foro de Teresina
    • A Terra é redonda (mesmo)
    • Sequestro da Amarelinha
    • Maria vai com as outras
    • Luz no fim da quarentena
    • Praia dos Ossos
    • Praia dos Ossos (bônus)
    • Retrato narrado
    • TOQVNQENPSSC
  • piauí recomenda
  • Dossiê piauí
    • O complexo_SUS
    • Marco Temporal
    • Má Alimentação à Brasileira
    • Pandora Papers
    • Arrabalde
    • Perfil
    • Cartas de Glasgow
    • Open Lux
    • Luanda Leaks
    • Debate piauí
    • Retrato Narrado
    • Implant Files
    • Eleições 2018
    • Anais das redes
    • Minhas casas, minha vida
    • Diz aí, mestre
    • Aqui mando eu
  • Especiais
    • Projeto Querino
    • Versos Negros
  • Eventos
    • Encontros piauí 2025
    • piauí na Flip
    • Encontros piauí 2024
    • Festival piauí 2023
    • Encontros piauí 2023
  • Herald
  • Vídeos
  • Lupa
  • Meus dados
  • Artigos salvos
  • Logout
  • Faça seu login
minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    GUSTAVO MAGALHÃES_2023

poesia

Anastácia e a máscara: sete variações

Rainha ou princesa escravizada: a negra santa imaginada

Henrique Marques Samyn | Edição 197, Fevereiro 2023

A+ A- A

I. DE ANASTÁCIA: A SANTA

Afirma a tradição que era rainha
ou que era uma princesa escravizada
(aquela que este povo em ladainhas
evoca): a negra santa imaginada

que as brancas em beleza superava
assim como as sinhás, pela nobreza;
a que nenhum castigo ou chibatada
jamais assujeitou; a que estas rezas

 

um dia atenderá – ao menos isso
é o que esta gente espera, a cada dia
(pois dizem que a fé do povo oprimido
todo poder supera). Se heresia

a Igreja o considera, o povo canta:
“Será sempre Anastácia a nossa santa.”

 

II. DA MÁSCARA: O SENTIDO

 

O que não pode ser enunciado:
esta ânsia genocida que se oculta
em cada gesto; o sempre calculado
motivo que em ação se configura

no exato e cauteloso movimento
que nunca se revela em sua essência
(pois tudo o que se omite na aparência
é o seu sentido atroz e violento);

o que se vê: a máscara que sela
a boca, para que não seja dito
o que nós bem sabemos – que é preciso
dizer – que a razão branca oculta e nega.

 

A máscara: o silêncio imposto ao nome
da dor que a cada dia nos consome.

 

III. DE ANASTÁCIA: A IGREJA

Na vala foi erguida outrora a igreja
por negras mãos unidas na irmandade:
erguida pelo acordo de vontades,
e assim se fez a singular beleza –

a talha, as folhas de ouro, o cortinado
agora só persistem na memória:
porque se foi no fogo tudo embora
naquele dia vinte e seis de março.

Porém, restou a imagem entre as cinzas:
a efígie de Anastácia, a escravizada
que jaz sob este solo – ainda intacta,
como compete às santas. Eis reerguida

a igreja: a Anastácia; a Nossa Senhora;
e a ti, são Benedito, toda a glória.

 

IV. DA MÁSCARA: OS PROPÓSITOS

O primeiro propósito da máscara
(segundo diz o branco, sempre cínico)
escapa ao ordinário, porque tácito,
assim como ao geral, porque específico:

propósito moral: tolher o vício
que (diz o branco) nos escravizados
é quase inevitável, porque típico
(do negro é próprio o ser degenerado);

propósito segundo: o suicídio
conter, não permitindo o comer terra
qual fazem os monjolos. Que orifícios
existam – mas seja a medida certa.

Da máscara são vários os propósitos;
forjaram-na com ferro, estanho e ódio.

 

V. DE ANASTÁCIA: O CORPO

Eis que aqui está o corpo de Anastácia:
o corpo que não podes ver, no entanto;
o corpo: em volta dele, uma mortalha
aos olhos invisível. Corpo santo,

embora nunca visto e nem tocado;
corpo cuja beleza causa espanto
(por jamais visto, nunca devassado
pelas perversas mãos dos homens brancos).

Aqui, sob esta igreja sepultado,
o corpo de Anastácia enfim repousa:
aqui, neste terreno tão sagrado
(contudo, também sob igrejas outras).

Que o corpo de Anastácia sempre esteja
onde houver negra fé que nele creia.

 

VI. DA MÁSCARA: O FIM

A máscara que a negra voz não cala,
porque uma só não há: diversas vozes
o povo negro diz; (vozes) tão fortes
que o rígido metal sucumbe e esgarça

quando (essas negras vozes) o perpassam,
rasgando-o como folha de papel;
como se o ferro fosse um fino véu
ao fim, desfeito em ínfimos pedaços.

Que sejam nossas vozes sempre muitas
e alegres como um canto (não lamento);
que o medo não mais faça o seu silêncio;
que não exista mais máscara alguma.

Que as negras vozes nunca nada cale:
ressoem sempre o som da liberdade.

 

VII. DE ANASTÁCIA: A FÉ

Em mim habita – e em ti – nos nossos corpos
que negros são: se faz em nós morada,
assim nos honre a carne feita casa
da negra santa – outrora escravizada,

a quem nós ofertamos este pós-
tumo louvor, para que ao nosso lado
perene, permaneça: asilo e amparo
(se está conosco, nunca estamos sós) –

santa Anastácia, vela pelo povo
que chama por teu nome, noite e dia:
a negra gente ampara e auxilia:
oferta a tua luz e o teu socorro –

para isso outrora te fizeram santa:
para que sejas, na dor, a esperança.

Henrique Marques Samyn

É escritor e professor de literatura na Uerj e autor de Levante (Jandaíra) e Uma Temporada no Inferno (Malê)

Leia Mais

poesia

Oito poetas da África

Uma usina criativa que segue a todo vapor

31 mar 2025_18h23
poesia

Forragem/Forage

... mas na vida, quando os sonhos de uma criança se incendeiam?

03 mar 2025_13h21
poesia

Ilusões de nuvens

Uma plantação de algodão imensa com ninfas néfeles

31 jan 2025_18h19
PIAUI_223
  • NA REVISTA
  • Edição do Mês
  • Esquinas
  • Cartuns
  • RÁDIO PIAUÍ
  • Foro de Teresina
  • A Terra é redonda (mesmo)
  • Maria vai com as outras
  • Luz no fim da quarentena
  • Praia dos Ossos
  • Praia dos Ossos (bônus)
  • Retrato narrado
  • TOQVNQENPSSC
  • ESPECIAIS
  • Eleições 2022
  • má alimentação à brasileira
  • Pandora Papers
  • Arrabalde
  • Igualdades
  • Open Lux
  • Luanda Leaks
  • Debate piauí
  • Retrato Narrado – Extras
  • Implant Files
  • Anais das redes
  • Minhas casas, minha vida
  • Diz aí, mestre
  • Aqui mando eu
  • HERALD
  • QUESTÕES CINEMATOGRÁFICAS
  • EVENTOS
  • AGÊNCIA LUPA
  • EXPEDIENTE
  • QUEM FAZ
  • MANUAL DE REDAÇÃO
  • TERMOS DE USO
  • POLÍTICA DE PRIVACIDADE
  • In English
    En Español
  • Login
  • Anuncie
  • Fale conosco
  • Assine
Siga-nos

WhatsApp – SAC: [11] 3584 9200
Renovação: 0800 775 2112
Segunda a sexta, 9h às 17h30