Trecho da BR-319, em imagem de 2021: só o anúncio de que o governo Bolsonaro queria asfaltar a estrada já aumentou o desmatamento, pois atraiu grileiros que apostaram na valorização de terras nos arredores e na futura anistia pela invasão CRÉDITO: ORLANDO K. JÚNIOR_ 2021
A estrada
O que se ganha e o que se perde com o asfaltamento da BR-319, que corta parte da Amazônia
Bernardo Esteves | Edição 229, Outubro 2025
No dia 27 de maio, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, abandonou uma sessão conturbada da Comissão de Infraestrutura do Senado, ao ser hostilizada por senadores bolsonaristas. Ao cabo de quase três horas de debate tenso, o senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão, pediu que a ministra o respeitasse, quando ela afirmou que não era uma mulher submissa. “Se ponha no teu lugar”, disse Rogério, inflamando os participantes da sabatina. A situação saiu de controle quando interveio o senador Plínio Valério (PSDB-AM) – o mesmo que, dois meses antes, dissera ter ganas de enforcar a ministra depois de ouvi-la por mais de seis horas. “Ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra, eu não estou falando com uma mulher”, disse Valério. “Estou falando com a ministra. Porque a mulher merece respeito; a ministra, não.” Marina exigiu que o senador se retratasse. Como o pedido de desculpas não veio, ela se retirou da sessão com sua comitiva.
Não é coincidência que os dois senadores que agrediram a ministra venham do Amazonas e de Rondônia. Os dois estados são ligados pela BR-319, rodovia que esteve no centro do bate-boca entre Marina e os senadores. A estrada de quase 900 km vai de Manaus a Porto Velho e atravessa um dos últimos blocos de floresta intocada da Amazônia. Ela está no centro de uma polêmica que se arrasta há décadas e opõe defensores do meio ambiente a moradores, empresários e políticos dos dois estados.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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