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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL

esquina

Boa-noite e amém

Uma tarde de autógrafos com Cid Moreira

Renato Terra | Edição 64, Janeiro 2012

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Se Dante Alighieri vivesse no século XXI, a descrição que faria do Purgatório não seria muito distinta da de um centro comercial às vésperas do Natal. Almas errantes vagando para cima e para baixo e hordas de pecadores se entregando à tentação, ao som de uma cacofonia infernal, num ambiente em que o tempo parece não passar. O que o poeta italiano talvez não imaginasse era que, em meio ao frenesi consumista, a palavra da salvação estaria ali ao lado, na vitrine de uma loja de departamentos.

“Que Deus, Pai de todos os pais, ilumine a sua história”, proferia em tom solene a voz de Cid Moreira, em som dolby, numa televisão com tela de cristal líquido que podia ser parcelada em até doze vezes, sem juros. O homem grisalho que se notabilizou como apresentador do Jornal Nacional aparecia contra um fundo dourado recitando o capítulo “Pai, Paizão” do DVD Conselhos Eternos da Bíblia. Vez ou outra, sua imagem sumia aos poucos, para ser substituída por uma cascata ou pelo voo de um pombo em câmera lenta, ambos devidamente kitsch.

Cid Moreira em pessoa estaria na loja a partir das duas da tarde para dar autógrafos. Mas a gerente comercial da Paris Filmes, Regina Piani, só não previu que o trânsito carioca seria mais intransponível que o Mar Morto. Já passavam quinze minutos após o horário combinado e nada do apresentador. Sua voz, porém, preenchia o ambiente e aconselhou, com muita propriedade: “Todos nós nos angustiamos uma vez ou outra. Isso, claro, é inevitável. Deus convida você a depositar tudo em Suas mãos porque Ele ama você.”

 

Poucos mortais têm tanta autoridade para dublar o Todo-Poderoso quanto Cid Moreira. Como um bálsamo, suas palavras acalmaram a alma de Regina Piani. A gerente explicou que as paisagens de fundo escolhidas para o DVD tinham a finalidade de aliviar o estresse do espectador. “É um DVD de autoestima”, definiu. “Não tenho dúvidas: uma mensagem vai se encaixar para você.”

Quando o apresentador chegou, às 15 horas, poucos sobreviventes o aguardavam. O ambiente para a tarde de autógrafos foi montado ao lado da seção de sutiãs. Acompanhado de sua esposa Fátima, Cid Moreira acomodou-se atrás de uma mesa forrada com toalhas brancas enquanto aguardava a hora de dar os primeiros autógrafos. Na sua frente, a 3 metros de distância, sete televisores passavam trechos do DVD em loop. A configuração lembrava a bancada de um telejornal.

Por mais de um quarto de século, Cid Moreira reinou impávido, ao lado de outros colegas, à frente da bancada hoje ocupada por William Bonner e Patrícia Poeta. Sua voz levou as notícias aos lares brasileiros de 1969 a 1996, num tempo em que os telejornais ainda eram apresentados por locutores formados na escola do rádio. Mas o Jornal Nacional nunca saiu de Cid: ele diz que assiste à atração sempre que pode.

 

Engana-se quem pensa que a gravação de mensagens bíblicas seja um refúgio que o apresentador encontrou para se reinventar depois de deixar o noticiário. Sua voz foi colocada a serviço da religião pela primeira vez em 1975, num LP da Som Livre batizado de Desiderata. “Ganhou clipe no Fantástico e tudo”, contou Moreira, entusiasmado. “Foi o maior sucesso na época.” O apresentador revelou que a vocação para narrar a Palavra Sagrada o acompanhava desde a mocidade. “Quando era garoto, tinha o hábito de abrir a Bíblia e ler os provérbios em voz alta. Fui ajudante de coroinha.”

Não eram poucos os passantes que, atônitos, olhavam petrificados para o apresentador, postados ao redor do cercadinho que delimitava o perímetro da sessão de autógrafos. Alguns arriscavam fotos. Como um navegador indômito que desbravasse mares desconhecidos, um rapaz projetou-se no cercadinho e depositou um DVD na mesa para que Cid Moreira o autografasse. Enquanto a esposa do locutor batalhava para abrir o invólucro de plástico – uma invenção verdadeiramente demoníaca –, sua voz na tela recomendava calma. “Mesmo que você já tenha tentado tudo, não se desespere!” Fátima respirou fundo e, enfim, logrou êxito. Aliviado, o comprador pediu um autógrafo para o pai e foi atendido. “Ao Jerônimo, com um forte abraço de Cid Moreira”, dizia a dedicatória.

De mãos dadas com a mãe, uma criança nascida sob o reinado de William Bonner olhou aquele senhor de cabelos brancos e traços faciais indefiníveis que concentrava as atenções. “Quem é esse, mãe?” “É o Cid Moreira”, esclareceu ela. Como se fosse prenúncio de mau agouro, a intervenção do menino precedeu uma estiagem de autógrafos. Longos minutos se passaram sem que a caneta de Cid Moreira precisasse ser acionada.

 

Regina Piani pediu que uma produtora ficasse na entrada, distribuindo panfletos. Num trabalho coordenado, o sistema interno de som anunciou: “O apresentador Cid Moreira está na loja para uma tarde de autógrafos de seu novo DVD.” Alguém sugeriu que o próprio locutor surpreendesse os consumidores anunciando sua presença nos alto-falantes. Ele declinou. A voz do Todo-Poderoso não se presta a essas vulgaridades.

Num raro momento de silêncio, um conselho eterno, dito em linguagem esportiva, invadiu o ambiente: “Deus é especialista em virar o jogo.” Quase simultaneamente, uma senhora se materializou diante da mesa. Emocionada, disse que assistia ao Jornal Nacional todas as noites, no Ceará, ao lado dos avós. “Eles sempre diziam para eu dar boa-noite para o senhor também.” Saiu de lá orgulhosa com a dedicatória: “Para Zefifa e Dorinha, um abraço apertado e felicidades.”

Cid Moreira já gravou onze álbuns de estúdio, cinco coleções e um audiolivro com mensagens espirituais. O DVD que ele lançava ali era seu terceiro. De tanto recitar “as respostas de Deus para os momentos considerados mais difíceis da vida humana”, como prometia o encarte, era de se esperar que Cid Moreira tivesse uma confiança inquebrantável no sucesso de sua voz. Mas ele é um perfeccionista. “Estou sempre achando que posso fazer melhor uma entonação, uma inflexão diferente. A caminho dos 85 anos, estou investindo no meu futuro e no daqueles que têm fé.”

Ao final da tarde de autógrafos, especulou-se que Cid Moreira revelaria a receita para uma voz empostada. Mas o paladino da oração frustrou as expectativas. “Não tenho nenhuma preocupação especial. Apenas faço aquecimentos vocais antes de iniciar uma narração”, contou. Para convencer os mais céticos, bebeu um gole de água, virou para seu assessor e pediu: “Você consegue me trazer um cafezinho?”

Renato Terra
Renato Terra

É colunista da Folha de S.Paulo e diretor de Narciso em Férias e Uma Noite em 67. Publicou Diário da Dilma (Companhia das Letras)

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