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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2007

esquina

Cuidado com os dentinhos

Banhistas de uma lagoa no Piauí viram tira-gosto de piranhas

Natacha Maranhão | Edição 8, Maio 2007

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Às margens da lagoa do Portinho, no município de Parnaíba, no norte do Piauí, o pescador Francisco de Assis Araújo conta uma, duas, três, quatro, cinco, dez, quinze, vinte, vinte e cinco, trinta, quarenta… cinqüenta piranhas. Umas três ou quatro tilápias. Cará não tem, tucunaré também não. Ele já sabe que será dia de recalmação em casa. “A mulher não gosta, não. Fica danada quando eu chego com esse monte de piranha, diz que não agüenta mais.” A vida anda perigosa para os lados de Parnaíba

Não era para ser assim. Afinal, a lagoa é descrita em guias como “local de prazer e entretenimento” onde “as dunas sinuosas e brancas contrastam com as águas escuras e uma densa vegetação”. O perigo não mora na densa vegetação, muito menos nas dunas sinuosas e brancas, mas nas tais águas escuras. De uns tempos para cá, piranhas deram para percorrer a lagoa, como gangues de delinqüentes rondam certos bairros do Rio, de São Paulo ou da capital federal. No rádio, o locutor avisa que uma criança teve dois dedos dilacerados pelos peixes. São mais de sessenta ocorrências em menos de três meses.

Piranhas sempre viveram na lagoa do Portinho. Há pouco tempo acabou o entente cordiale entre elas e os humanos. O armistício terminou em dezembro, sem motivo aparente. Naquele mês, elas resolveram mostrar os dentes.

 

Em 1978, o diretor estreante Joe Dante lançou Piranha, que de tão ruim é bom. Nele, um cardume de piranhas escapa de um laboratório do Exército americano e vai dar num lago repleto de crianças em férias. Talvez por não compreender de que maneira um cardume logra escapar de um laboratório de pesquisas, a Finlândia proibiu o filme. Mas isso não vem ao caso. O importante é perceber que, como o Piauí não conta com laboratórios secretos, sejam do Exército americano ou não, o enredo de Piranha é irrelevante para o entendimento do fenômeno do Portinho. Quando mais não fosse, ao menos por isto: ao contrário do que prega o filme, uma piranha raramente se comporta como uma besta celerada.

Piranhas não atacam em cardume nem devoram bichos ou pessoas assim, zás-trás. Tampouco voam na jugular de suas vítimas. Em condições normais, são modorrentas, nadam mal e, como boa parte dos seres humanos, detestam trabalhar. Preferem comer peixes moribundos ou ir atrás daqueles que nadam pior do que elas, como as pobres tilápias. As piranhas do Portinho são da espécie Pygocentrus nattereri, as piranhas-vermelhas. Têm boca pequena e dentinhos triangulares, projetados para arrancar pedaços de pele em rápidas mordiscadas. Evidentemente, podem se tornar agressivas, mas somente em situações extremas, quando se sentem ameaçadas. Nesses casos, arreganham os caninos e partem para a ignorância.

O professor Hamilton Gondim, do curso de engenharia de pesca da Universidade Federal do Piauí, explica que não é da natureza das piranhas nadar furiosamente atrás de coisa nenhuma. Elas não perambulam pela lagoa com a bocarra escancarada, à cata de dedinhos incautos. “Não, elas ficam quietas. Se passa um peixe doente, nadando devagar, vão lá e comem, mas não fazem perseguições fantásticas nem sentem cheiro de carne humana, como muita gente pensa. E muito menos trituram ossos em questão de segundos, feito umas loucas.”

Mas se as piranhas são serenas e preguiçosas, por que estariam atacando os banhistas? Gondim tem uma hipótese. Ele pondera que o ecossistema da lagoa não está equilibrado, e atribui o comportamento hostil dos peixes a uma salinização anormal da água. “No período de estiagem a lagoa recebe pouca água”, diz o professor. “No ano passado, isso se agravou porque uma duna gigante tapou a foz do rio. A água mudou, ficou salobra e depois salgada, irritando os peixes, que preferem água doce. Para completar, o número de presas em potencial da piranha também diminuiu, justamente por causa da estiagem.” O professor acredita que o desequilíbrio já ocorreu antes ─ também com ataques ─, há cerca de vinte anos. Até aí, tudo bem, trata-se de um ciclo natural. A má notícia é que o desmatamento deve encurtar o intervalo entre os períodos de estiagem. Sem mata densa que lhes faça frente, as dunas sinuosas e brancas avançarão sobre as vias fluviais que alimentam a lagoa. Com a casa bagunçada e o cardápio cada vez mais minguado, as piranhas se verão mais e mais pressionadas a abocanhar qualquer coisa que se mexa.

Má notícia sobretudo para os participantes das competições de jet-ski, lancha e windsurfe que contribuem para o visual jovem e movimentado da lagoa. Para tenta restabelecer o equilíbrio natural de piranhas, turistas e jet-skis, um pool de dez instituições públicas piauienses começou um processo de “peixamento” da lagoa. Uma tropa de 30 mil peixinhos do modelo curimatá foram arremessados n’água, para fazerem o papel de “bois de piranha”. Gondim diz que a outra ajuda mais preciosa deve vir dos céus. “Se chover, a água doce em abundância normalizará a lagoa e as piranhas retornarão ao seu estado natural de tranqüilidade.” Com o sistema ecológico em dia, a vida se regularizará e piranhas sem alma ficarão confinadas ao filme de Dante. Com bom senso e mais vigilância dos órgãos responsáveis por fiscalizar a integridade das matas ciliares, meninos voltarão a pôr o dedinho na água, jet-skis continuarão a emprestar seu visual jovem à lagoa. E a esposa de Francisco de Assis não mais terá nas piranhas uma fonte de aborrecimento.

Natacha Maranhão

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