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    FOTO: ROGÉRIO REIS

vultos cariocas

De zero à esquerda a muitos zeros à direita

Alexandre Accioly conheceu o pai aos 44 anos. Foi processado por ele. Teve um filho por acaso. E agora investe na sua família e na dos outros

Antonia Pellegrino | Edição 26, Novembro 2008

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– E qual é o nome do moleque, Astrid?, perguntou Alexandre Accioly.

– Antônio.

– Quantos anos ele tem?

– Dois.

– Você sabe que até hoje não sei se vou ou não ao enterro do meu pai?

– Por que você está me falando isso, Alê?

– Porque eu sei o que é não ter pai. E eu quero que esse moleque, o Antônio, que eu não vi nascer nem escolhi o nome, tenha o pai que eu sempre sonhei e nunca tive.

Foi esse o coração do diálogo entre o empresário Alexandre Accioly e a grã-fina Astrid Monteiro de Carvalho, em julho de 2006, quando ela o convidou a jantar no restaurante Antiquarius, no Rio. Só então ela revelou que o pequeno Antônio não era filho de seu então marido, o também empresário Marcos Campos, mas de Accioly, com quem a loira ficara uma noite, o suficiente para unir dinheiro novo ao tradicional sobrenome em um menino alegre que, aos dois anos, já chamava por “Tutu” seu próprio helicóptero.

Aos 46 anos, Alexandre Accioly se diz um homem realizado e de sucesso – e por sucesso ele entende reconhecimento e dinheiro no banco. Nos anos 90, ele freqüentava as páginas dos jornais especializados em economia. Foi apenas no século XXI que se tornou conhecido por gente que, bem ao contrário de Adriane Galisteu, confunde bancários com banqueiros. Não por acaso, foi ao lado da loiríssima Adriane que ele surgiu na sua nova fase: sarado, sorridente, bronzeado, falando sem parar, vestindo camisas com listras verticais.

“Minha vida se tornou pública, não por mim, por ela, e aí descobriram que eu era um cara que veio do nada, um self-made man“, diz ele que, embora não conheça a língua inglesa, motivo de grande frustração, admira os valores americanos. Histórias de superação encantam, e Alexandre enfeitiçou-se pela própria imagem. Como retornou ao ramo do entretenimento produzindo eventos, shows e festas, por obrigações profissionais, tornou-se um habitué da noite. Aparecia embalado em roupas de grife, comboiando namoradeiras célebres como Carolina Ferraz e Giovanna Antonelli. Era a conjunção perfeita para Accioly virar o playboy predileto das revistas de celebridade.

“Playboy é um cara que leva a vida que eu levo hoje, mas vive do ócio”, disse ele num jantar há pouco tempo. “Eu de ocioso não tenho nada. Quem me vê hoje não sabe o que sofri. Já passei muita noite chorando, pensando que trabalhava à beça, fazia tudo certo e dava tudo errado. Quando a vida me deu a chance de viver melhor, fui lá e vivi. Nunca tive vergonha de comer angu, vou ter vergonha de comer trufas brancas?”

 

Bem diferente de seu rebento, nascido em um feudo no cocuruto de Santa Tereza, sob a vigilância permanente de seguranças armados, Alexandre Accioly Rocha, o caçula entre quatro irmãos, nasceu numa família classe média do Leblon, foi abandonado pelo pai aos 2 anos de idade, mudou-se para Copacabana, nunca estudou em escola particular nem se formou na faculdade. Começou a flertar com os mundos do trabalho e da viração aos 8 anos, quando convenceu amigos a engraxar sapatos de manhã, e à noite se sujava de graxa para pedir esmolas nas ruas. Era adolescente quando viu o irmão, viciado em cocaína, sair correndo da mesa de jantar e defenestrar-se.

Ainda na adolescência, montou, com o amigo Bochecha, a Fix Som, que abastecia de luz e som as matinês dançantes do clube da Aeronáutica, na Praça XV. Sua carreira empresarial começou a deslanchar por acaso, quando acompanhou uma namorada ao extinto Teatro Fênix, que era usado como estúdio de gravação da Globo, para fazer figuração no clipe da banda Genghis Khan, também (felizmente) extinta. Foi convidado por um assistente de estúdio a participar da gravação e topou. “Fiquei ali dançando e ganhei uma merreca, mas achei legal e pensei: Vou montar uma agência de figuração pra mim”, disse. Nasceu a Young Set.

O escritório da agência ficava em uma salinha na Barata Ribeiro, a rua mais barulhenta de Copacabana, onde Alexandre também morava desde que brigara com a mãe. Como Accioly achava que seus funcionários abandonariam a empresa se soubessem que a saleta lhe servia de escritório e residência, bolou um estratagema: “Quando acabava o expediente, eu descia com eles, dava a volta no quarteirão e subia novamente. Esticava meu colchonete e dormia. Era sempre o primeiro a chegar e último a sair.”

Ele contou a história de jeans e cami-sa verde com listras azuis verticais, no pequeno sofá preto de dois lugares no topo do prédio 510 da avenida Vieira Souto, em Ipanema, onde vive provisoriamente. Ele se espreme em 60 metros quadrados enquanto os 730 metros quadrados onde mora, no 6º andar do edifício Cap Ferrat, são reformados, segundo assessoria do empresário, pelo “poderoso” arquiteto João Armentano.

Em apenas dois anos, a Young Set se tornou a maior agência de figurantes da Globo. Accioly achava pouco: vendeu-a para seus funcionários e abriu uma churrascaria no Leblon. Logo veio o Plano Cruzado, que mudou a moeda, prendeu os bois nos pastos, tirou os filés dos arruinados e quebrou o novo restaurante. Accioly associou-se a Sargentelli, o das mulatas, na casa noturna Oba-Oba e começou a produzir concursos de beleza.

Numa tarde de sol em que esperava, das duas às cinco da tarde, seu time de coração, o Flamengo, entrar em campo, inventou um jeito de passar o tempo e ainda acompanhar os jogos do gramado: editar um jornal. E assim surgiu o Jornal do Maracanã, cuja tiragem em dia de clássico chegou a 80 mil exemplares.

O negócio rendeu a ponto de poder comprar um carro, ainda que usado. Ao pesquisar modelos, percebeu a ausência de um espaço que aglutinasse todos os anúncios de automóveis – e montou um jornal de classificados especializado no assunto. Depois ampliou o negócio: passou a comprar páginas de anúncios da revista Veja Rio e a revendê-las em tijolinhos para as concessionárias. “Eu até ganhava dinheiro, mas acabava largando”, contou. “O tamanho daquele tipo de business não me estimulava. Sempre quis ter 10 mil funcionários.”

Accioly tocava o negócio sem fazer feio até que Fernando Collor foi eleito presidente e, em 16 de março de 1990, confiscou contas-correntes e cadernetas de poupança. Como boa parte dos brasileiros, subitamente se viu sem dinheiro nem para pagar a conta de luz do escritório. Endividado e com dezessete linhas telefônicas na mão, o empresário estava frito.

Foi jogar vôlei na praia. De sunga, suado e sujo de areia, ouviu um amigo falar, pela primeira vez, no negócio que faria a sua vida dar uma guinada: vendas pelo telefone. Accioly vislumbrou a oportunidade e conseguiu compradores para onze das suas dezessete linhas telefônicas, a 4 mil dólares cada uma, e saldou algumas dívidas. Marcou uma reunião com o diretor geral da Telerj, disse que precisava de sessenta linhas para o novo negócio, mas não tinha como pagar nenhuma. Deu sorte: conseguiu comprá-las por um preço baixo e parcelar o total em quatro vezes. “É uma façanha empreender sem grana no Brasil”, disse. “Aqui, quem tem dinheiro consegue todo o crédito do mundo, mas quem não tem grana, e sim uma boa idéia, capacidade, vontade e força de trabalho, não arruma investidor.”

O próximo passo foi passar um mês ligando diariamente para o diretor de venda de assinaturas da Editora Abril, até conseguir um encontro. Pegou o ônibus para São Paulo de madrugada, vestiu o terno no banheiro da rodoviária e na manhã seguinte estava diante do sujeito.

– Bom dia, sou o Alexandre Accioly. Quero vender as assinaturas da Editora Abril pelo telefone.

– Quer fazer o nosso telemarketing?, perguntou o diretor.

Accioly nunca tinha escutado a palavra, mas apontou a própria língua e respondeu: “Tirou daqui.” Ganhou seu primeiro cliente, apesar de não ter nem escritório montado, ou mesmo o dinheiro para montá-lo. Tomando emprestado de amigos, juntou capital para comprar vinte computadores e colocá-los numa sala com sessenta lugares. “E aí, como é que eu inauguraria a minha empresa com menos da metade dos computadores necessários? Tive uma idéia: comprei 15 computadores e, com o dinheiro para os outros cinco, comprei quarenta caixas, os monitores, só. Inaugurei com tudo bonitinho, bacana.”

No começo, eram o empresário, uma secretária e as linhas telefônicas no escritório do Rio Comprido. Ao voltar para casa, em Copacabana, depois de um dia de trabalho, o empreendedor dormia no sofá da sala do apartamento de um quarto em que morava com a família – a avó, a irmã e a mãe, com quem se reconciliara. Os quatro viviam da aposentadoria da avó de Alexandre, Maria Ribeiro. Todo dia 5, ela ia com o neto até o caixa eletrônico retirar o dinheiro, o que hoje equivaleria a 2 mil reais. Fez assim até ser atropelada.

A dor do luto veio acompanhada de um aflitivo “E agora?”. Accioly imaginou que o banco talvez não soubesse do óbito. No dia 5 seguinte, digitou a senha e sacou o dinheiro. Foi o que sustentou a família por seis meses. “Eu tenho certeza que a minha avó me protege”, disse ele. “Logo depois que ela morreu a minha vida começou a dar certo.”

Além da suposta ajuda vinda do “outro lado”, Accioly seguiu sua própria máxima, “não sabe brincar, não desce para o playground”: terminou com a namorada, despediu-se do vôlei de praia e mudou-se para São Paulo. Trabalhava de segunda a segunda, das sete da manhã às duas da madrugada. Devorava pães de queijo ao entardecer com uma fome de anteontem. Começou a engordar. Quebrou a idéia-mestra do ramo ao pleitear que as empresas terceirizassem o serviço de telemarketing. Quatro anos depois, tinha 15 quilos a mais, 4 mil funcionários e faturava 10 milhões de reais por ano com sua empresa, a Quatro/A.

 

“Não adianta ter só competência, tem que ter audácia”, disse Accioly, à la Danton, sobre a sua filosofia de negócios, “e nessa hora você erra ou acerta. E quanto mais você se expõe, e acerta, mais você cresce.” Em 1995, com a falência do Banco Nacional, o cliente responsável por 50% de suas operações, ele enxergou uma possibilidade de expansão e abriu mais três empresas. Foi um passo maior do que a perna. Estava prestes a quebrar e convidou Luiz Urquiza, que lhe dera o contrato com o Nacional, para ser seu sócio. Com a parceria, a Quatro/A migrou do telemarketing para o call center – das vendas para todo o relacionamento telefônico de uma empresa com seus fregueses. O mercado de call centers, antes nanico, é hoje o maior contratante de mão-de-obra de primeiro emprego no Brasil.

Em pouco tempo, a Quatro/A tinha clientes como Varig, Xerox, Motorola, Brastemp e os jornais Estado de S. Paulo e O Globo, e faturava 30 milhões por ano. O strike aconteceu em 1997, quando o Unibanco terceirizou suas operações de call center e, por medida de segurança, optou por não contratar uma empresa, mas associar-se a ela. A Quatro/A era a maior do setor. “Foi o melhor negócio que eu fiz na minha vida”, disse. “Se não fosse sócio do banco, jamais teria vendido para a Telefônica.”

O século XX terminava quando os sonhos do garoto que nunca tivera bicicleta nem autorama começavam a se concretizar. Certo dia, no deslocamento entre reuniões, passou em frente à loja da Porsche na avenida Europa, nos Jardins. Entrou para dar uma olhadinha. Saiu de lá dirigindo um Porsche Carrera 711 prata. “Paguei à vista”, lembrou. “Ali eu senti o que é ser rico.”

Gostou do que sentiu e não parou mais. Comprou um apartamento no Cap Ferrat, o edifício mais caro da praia de Ipanema. Virou vizinho de plutocratas e financistas ao comprar uma casa na baía da Ribeira, em Angra dos Reis. Empregava 9 500 funcionários quando comprou um helicóptero, hoje pilotado pelo próprio empresário, segundo ele, seu único luxo – o Porsche foi vendido três anos depois, com 500 quilômetros rodados. “Nunca tive vergonha de pular roleta de ônibus, vou ter vergonha de andar de carro do ano?”, provocou, durante um jantar no Antiquarius, sacando uma variação sobre o mesmo tema de seu arsenal de frases prontas.

O estilo expansivo de Alexandre Accioly fez dele figurinha fácil da crôni-ca social carioca. Debutou aos 40 anos com uma inesquecível festa na ilha Fiscal. Com champanhe francesa e cascatas de camarões, 1 600 amigos, conhecidos e nem tão chegados assim, se esbaldaram no baile cujo tema era os anos 60. Dançaram iê-iê-iê ao som de uma banda cover dos Beatles. Todos foram fotografados por 100 profissionais credenciados. E assistidos em cobertura simultânea pela tevê. Era o apoteótico início dos anos de deslumbre.

Sua então namorada, a atriz Carolina Ferraz, estava com uma peça em cartaz na outra ponta da Via Dutra. Para tê-la na folia nababesca, o empresário ofereceu o helicóptero. Um jornal publicou a notícia. O casal desistiu da viagem. Não por muito tempo. Na véspera da festa, Carolina telefonou perguntando se a oferta ainda estava de pé. “Claro”, ele disse. Ela pousou à noite no aeroporto Santos Dummont. E na manhã seguinte foi flagrada no heliporto da Lagoa, vestindo uma camisa branca do namorado, despedindo-se dele. Rapidamente a imagem, junto a outras tantas da festa, estava em todos os sites e revistas de fofoca. A partir dali, Alexandre Accioly, a bordo de suas camisas listradas, seria coroado como translumbrado.

Accioly ficou incomodado com a imagem. Achava que a fama de brega poderia prejudicar o lançamento de negócios, o que mais ama fazer na vida. É um homem do fazer. Ele não tem a ambição de deixar um legado empresarial. Gosta da adrenalina de empreendimento – não é à toa que seu passatempo predileto seja andar de montanha-russa.

Pouco a pouco aprendeu algumas regras da celebrização: mandar convites, telefonar para passar notícias e controlar a autopromoção. Ele não mostra sua portentosa coleção de relógios nem sob tortura. Veste-se de modo simples, sempre de jeans, tênis, camisa para fora da calça. “Antes eu viajava e tinha que entrar na Gucci, na Prada”, disse. “Hoje vou a qualquer loja e, se gosto, compro dez blusas iguais, uma de cada cor, e só uso isso.” Não quis que suas férias em um veleiro alugado na costa da Croácia saísse nos jornais. Seu estilo ao falar com repórteres é paradoxal: a grande espontaneidade aliada a respostas defensivas automáticas.

 

Embora diga que está desacelerando – o homem cujo foco são os negócios está míope –, ele é vigoroso e enérgico. Movimenta seu 1,87 metro de altura com a rapidez de quem não tem segundos a perder, fala compulsivamente, sem dar trégua aos interlocutores, atropelando sílabas e misturando assuntos. Pega 82 quilos de supino, 35 de cada lado e 12 da barra. Mas tem dúvidas se ainda consegue. Há dois meses está sem rotina, logo, sem se exercitar. Só pisa em uma academia com seu par de tênis da marca Goodyear para fechar negócios.

Ou abri-los – acabou de inaugurar a vigésima unidade da A!Body Tech, na Barra da Tijuca. Grandalhão e corpulento, Alexandre sente-se gordo. “Estou enorme, pesando 109 quilos”, reclamou. “Hoje eu trabalho tanto quanto naquela época, mas a diferença é que tenho qualidade de vida.”

“Naquela época” é quando (como num título de livro de auto-ajuda financeira) virou a própria mesa numa negociação com os espanhóis do Grupo Telefônica usando o mais prosaico lance dos jogadores iniciantes de pôquer: o blefe. O governo era o de Fernando Henrique Cardoso, quando as privatizações corriam soltas. Accioly foi um dos que, na onda, deixou de ser novo rico para virar milionário.

“Todo mundo sabia qual era o valor da proposta que receberíamos, mas um dos sócios sugeriu que pedíssemos um número estratosférico”, contou. Diante do que lhe pareceu a oportunidade de sua vida, ele teve medo de afugentar os espanhóis e decidiu-se pelo preço mínimo de venda. Na reunião, porém, quando viu o valor num papelzinho que lhe foi passado pelo representante da Telefônica, teve um surto. Era exatamente o número acordado entre os donos para o negócio. “Não sei o que me deu e eu disse: ‘Por esse valor não vendo. Só se for o dobro.'” Os espanhóis toparam. Accioly embolsou, sozinho, 70 milhões de dólares. Foi passar as férias, também sozinho, em Aspen.

Ao final da temporada de esqui no Colorado, o novo milionário retornou ao Brasil na classe executiva, porque, segundo repete, dinheiro não aceita desaforo e o preço das passagens na primeira classe é desrespeitoso. Retornou ao Rio capitalizado, líquido e à-toa, pesando 120 quilos. Voltou a malhar: uma hora de musculação com treinador privado e cinqüenta minutos de corrida na esteira – sempre assistindo ao noticiário.

Numa sauna, em conversa com um conhecido da malhação, soube que o sujeito estava com um câncer terminal e gastava alegremente os últimos meses de sua vida na academia. “Naquele momento, vislumbrei uma oportunidade de negócio”, disse. “Entendi que academia não é só músculo, mas sobretudo bem-estar, sociabilidade, entretenimento”, ramo que, segundo o próprio, define sua identidade. “O telemarketing foi um acidente na minha vida, sou e sempre fui um homem do entretenimento.”

Ele contou que dorme seis horas por noite. Acorda por volta das 8 horas, lê avidamente notícias de economia e política (“Não tenho saco para livros”), telefona, fica na internet (recebe 220 e-mails por dia, que enfrenta nos seus mais novos brinquedos, um iMac e um iPhone), tem aula de inglês (“para poder ensinar o Antônio”) e sai para almoçar. Embora seja sócio dos restaurantes Gero (que dá lucro), Fasano Al Mare (que empata com dificuldade) e Forneria (que dá prejuízo), Accioly às vezes ainda traça frango assado com farofa num pé-sujo na rua Domingos Ferreira, em Copacabana.

Accioly disse que vai ao cinema três vezes por semana, mas, curiosamente, não soube apontar o seu filme predileto da recente safra. Pouco depois se lembrou da refilmagem de O Campeão, o dramalhão de Franco Zeffirelli, no qual Jon Voight faz um lutador de boxe fracassado, que lhe causou grande emoção. Não por acaso, o tema do filme é o relacionamento entre pai e filho.

Na noite anterior a uma de nossas entrevistas, varara a madrugada assistindo ao seriado Prison Break com a namorada Renata Padilha, loira de belas pernas, com quem circula há quase três anos e troca múltiplas mensagens de texto. Sobre a união, Alexandre diz apenas que “Renata é mulher para casar” e completa falando que, atualmente, uma mulher para estar ao seu lado não pode corresponder apenas às suas exigências, mas também às do filho Antônio, de quase quatro anos.

Homem de gestos largos e língua presa nos fonemas sibilantes, ele diminui o ritmo ao tocar no nome do menino. Aquieta-se momentaneamente para dizer: “Quanto maior o sonho, mais ousado você precisa ser. Eu tive sorte e uma dose de boas oportunidades. A maior prova de que eu sou um cara iluminado e protegido é o Antônio. Deus foi tão generoso comigo que me deu um filho no momento em que eu posso ser pai, ser líder, ser uma referência, ter maturidade, tempo e cabeça.”

Pai e filho moram separados, mas são vizinhos. O menino vai todos os dias à casa de Accioly, com quem janta religiosamente às quartas-feiras na companhia de todo o clã do pai. “Mesmo quando estou para fora do Brasil, o jantar acontece via Skype”, contou, falando do programa de computador que permite a visualização e conversas à distância.

Com a rede de academias A!Body Tech (que perderá em breve o A! do logotipo), Accioly levou o valor da família de suas preocupações privadas aos negócios. “Não quero academia da moda, com garotões sarados paquerando gostosonas”, disse. “Na Body Tech, quero ver um senhor com um sorriso bonito, uma mulher saudável malhando, uma criança pulando feliz na ginástica olímpica.”

Ele entrou no ramo da malhação há quatro anos, para diversificar os investimentos. A Body Tech tem hoje vinte academias, 40 mil freqüentadores e 77 milhões de reais de faturamento. De seus dezessete sócios, doze minoritários dividem 15% das ações (entre eles o jogador Ronaldo e o ator Rodrigo Santoro), enquanto 85% pertencem a Accioly e quatro sócios (como o técnico de vôlei Bernardinho e João Paulo Diniz, herdeiro do Grupo Pão de Açúcar).

 

Uma das suas maiores glórias, ele diz, foi ser informado de que receberia da Câmara Municipal a Medalha Pedro Ernesto – aquela que premia cariocas ilustres como José Junior, do Grupo AfroReggae, até a aposentada Maria Dora Arbex, que baleou um ladrão no Flamengo – em homenagem ao que fez pelo Rio.

“Fiquei muito feliz”, comemorou Accioly, entrando atrasado em seu Ômega preto, que o esperava com ar-condicionado no talo. O carro partiu acelerado, muito acima da velocidade permitida, mas sempre reduzindo quando próximo aos “pardais”: “Eu trato bem o meu dinheiro”, explicou o empresário.

Durante o percurso, Alexandre foi ensaiando o discurso em meio a incessantes telefonemas. Seu celular (um BlackBerry, depois trocado pelo iPhone, ambos com a imagem de Antônio na tela) vibrava ao som de uma espécie de rumba digital. Embora diga que odeia celular, atendia a todas as chamadas. “Fala, meu deputado! Já estou na avenida Atlântica!”, disse, enquanto o carro ainda estava na Lagoa. Desligou e foi repassando os pontos principais do discurso. Demonstrava pouca intimidade com o texto, mas afirmava tê-lo escrito, embora tenha passado boa parte da noite anterior com seu amigo Aécio Neves, que viera de Belo Horizonte para a cerimônia.

Ao chegar, Accioly suava, nervoso, dentro de um terno azul-marinho e camisa branca, sem gravata. Empresários como Carlos Augusto Montenegro, dono do Ibope, e Olavo Monteiro de Carvalho, do Grupo Monteiro Aranha, e os deputados Rodrigo Maia e Eduardo Paes abocanhavam quitutes do bufê, aguardando a chegada do governador de Minas. Aécio Neves chegou com a filha, posou para fotógrafos. Accioly, segundo ele mesmo um carente profissional, olhou ao redor, abriu um sorriso e comemorou: “Agora posso relaxar; está todo mundo aqui.” No discurso ele ofereceu a medalha ao filho, que gritava da platéia: “Papai, papai!”

Somente aos 44 anos, Alexandre Accioly conheceu o pai. Sabendo que o filho enriquecera, o pai o ameaçou de morte caso não recebesse um gordo depósito em sua conta. Não houve depósito e ele entrou com um processo contra o filho. Foi numa audiência de tribunal que pela primeira vez esteve diante do pai. Saiu de lá vitorioso e com uma certeza: “Agora eu sei que, no dia em que meu pai morrer, eu não vou enterrá-lo.”