A guerra do Cashmere

O motor da van já estava ligado, e os adesivos espalhados pela lataria preta diziam ACELERA, nas cores azul e amarela. O automóvel, porém, continuava parado na frente de um casarão no Jardim Europa, bairro residencial onde vive parte da elite paulistana. Seis assessores do apresentador de tevê, publicitário, empresário e – agora – candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria Júnior, o aguardavam dentro do veículo que os levaria a compromissos de campanha. “Na frente, é a first. A dog class é lá atrás”, explicou Paulo Mathias, ex-presidente da juventude tucana em São Paulo, sobre a distribuição dos lugares. Às dez da manhã, João Doria Júnior deu um bom-dia geral, sentou-se na first class, ao lado do motorista, trocou algumas palavras sobre o caminho e grudou os olhos no celular. A van acelerou.

Em quinze minutos, chegamos a um encontro com militantes e políticos do PSDB, no auditório de uma faculdade. Doria foi o último a discursar. No palco, à vontade, parecia encarnar ensinamentos de seus livros de autoajuda – Sucesso com Estilo e Lições para Vencer –, voltados ao universo corporativo. Na prática, o talento para animador de plateias foi forjado durante anos com os eventos do Lide, Grupo de Líderes Empresariais, nos quais Doria costuma atuar como mestre de cerimônias. Nos encontros da associação, fundada por ele em 2003, o empresário e agora político anda para lá e para cá com um apito a tiracolo para orientar a turma do PIB que o prestigia. Diante dos tucanos, porém, dispensava o instrumento. Desenvolto, chamava alguns da plateia pelo nome – e os mais íntimos por diminutivos. Reclamou do baixo quórum feminino e fez o arremate: “Mulheres são capazes.”