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    Não sou religioso, mas sabia que naquele lugar os homens eram obrigados a cobrir a cabeça em respeito a Deus, e que entrar descoberto poderia ser interpretado como uma grave afronta. Eu não queria ofender ninguém, longe de mim, mas tampouco queria ser confundido com um “deles” FOTO: ABIR SULTAN/EFE/EPA

questões de identidade II

Judeu ma non troppo

Dúvidas e constatações em torno de uma viagem a Israel

Ricardo Teperman | Edição 140, Maio 2018

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Foi minha mãe quem me ensinou a palavra “gói”, que se refere àqueles que, como ela, não são judeus. Guardo um punhado de histórias que ela me contou a respeito do preconceito que percebia em parte da família de meu pai ou nos poucos círculos sociais judaicos que frequentávamos na minha infância. Gosto particularmente de um episódio ocorrido no clube em que éramos sócios. Enquanto me observava brincar no parquinho, ela começou a conversar com outra mãe. Em meio ao papo animado, permitiu-se perguntar o nome de sua interlocutora, que amavelmente respondeu e devolveu a pergunta. “Maria Helena”, disse minha mãe, e a até então simpática senhora não foi capaz de conter sua surpresa e seu desgosto: “Góóói?”

Lembro de inúmeras vezes perguntar a ela se eu era judeu ou gói. A resposta variava, mas não muito: vira-lata, mezzo-aliche mezzo-muçarela, brasileiro, não se preocupe com isso. No judaísmo tradicional, só é judeu quem é filho de mãe judia. Ou seja, eu não era – por mais que meu nariz, meu sobrenome e minha mãe procurassem relativizar a resposta.

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