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    Siddhartha Mukherjee e seu pai. A loucura acompanha a família há muitas gerações; dois dos quatro tios paternos do autor sofreram com variados tipos de doenças mentais DAYANITA SINGH_THE NEW YORKER © CONDÉ NAST

questões psiquiátricas

Mal de família

Novas descobertas sobre a esquizofrenia reacendem velhas questões sobre genes e identidade

Siddhartha Mukherjee | Edição 120, Setembro 2016

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No inverno de 2012, viajei de Nova Delhi, onde cresci, até Calcutá, para visitar meu primo Moni. Meu pai foi junto, servindo de guia e companheiro, mas estava sempre irritadiço e pensativo, perdido numa angústia esquiva. Ele é o caçula de cinco irmãos, e Moni é seu primeiro sobrinho, filho do primogênito da família. Desde 2004, Moni, agora com 52 anos, está confinado em um hospital psiquiátrico (“asilo de loucos”, como diz meu pai), diagnosticado com esquizofrenia. Ali ele é mantido à base de antipsicóticos e sedativos, com um acompanhante que o vigia, lhe dá banho e comida todos os dias.

Meu pai nunca aceitou aquele diagnóstico. Durante todos esses anos ele se empenha numa campanha solitária contra os psiquiatras que atendem meu primo, na esperança de convencê-los de que o diagnóstico deles foi um erro colossal, ou de que a mente dilacerada de Moni, sabe-se lá como, vai se consertar sozinha. Ele visitou duas vezes o hospital de Calcutá – uma delas sem avisar, torcendo para encontrar um Moni transformado, levando uma vida normal por trás das grades do portão. Mas nessas visitas havia mais do que o amor de tio. Moni não é o único portador de doença mental em nossa família. Dois dos quatro irmãos de meu pai sofreram com variados descaminhos da mente. A loucura acompanha os Mukherjee há gerações, e pelo menos parte da relutância de meu pai em aceitar o diagnóstico do sobrinho resulta de uma tenebrosa suspeita de que nele mesmo possa haver um resquício dessa doença, enterrado como lixo tóxico.

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