anais da imigração
No rastro de Boubacar
Escutando os refugiados africanos na Europa
Mori Ponsowy
Eu estava sozinha. Ele também estava sozinho. Nas mesas do bar havia casais e grupos de amigos que conversavam com aquela alegria extrovertida dos romanos. Ele e eu éramos os únicos desacompanhados. Assim que o vi, torci para que não estivesse esperando alguém; para que ninguém viesse se sentar nos bancos que nos separavam no balcão. Não sei bem o que me atraiu nele. Talvez tenha sentido algo parecido com uma premonição. Eu estava sozinha em Roma e aquele bar no Trastevere tinha virado minha segunda casa. Cada vez que eu entrava lá, a garçonete me recebia com um “Ciao, cara”. “Oi, querida.”
Não importa se fui eu que falei primeiro ou se foi ele quem tomou a iniciativa: assim que nos vimos, logo soubemos que juntos beberíamos muito mais do que uma taça de vinho. O que ainda não podíamos suspeitar era que aquela conversa seria não apenas a primeira de uma longa série, mas também o começo do que estou escrevendo agora, meses depois. Do que ainda hoje tem um final incerto, e que, embora traga apenas a minha assinatura, a rigor deveria trazer também a dele.

Mori Ponsowy
Mori Ponsowy, poeta, escritora e tradutora argentina, publicou Abundancia, da editora El Ateneo