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    Não é difícil encontrar, entre proprietários rurais, quem continue a apoiar e a justificar a ação dos policiais que mataram dez sem-terra na Fazenda Santa Lúcia – mesmo depois dos resultados da perícia, das confissões de quem participou da chacina e da acusação feita pelo Ministério Público IMAGEM: PEDRO FRANZ DEPOIS DE GOYA_2017

anais do conflito agrário

O massacre de Pau D’Arco

Por que as chacinas se repetem no sul do Pará?

Juliana Tinoco | Edição 135, Dezembro 2017

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Era um começo de noite quando o grupo de 25 trabalhadores rurais sem-terra voltou a ocupar a Fazenda Santa Lúcia, no sul do Pará. Entravam sem fazer alarde, com redobrada cautela, numa propriedade da qual já haviam sido expulsos antes, em quatro ocasiões diferentes. Como temiam sofrer alguma retaliação dos seguranças – e o mais provável é que fossem recebidos a bala, dada a escalada de tensão nos meses anteriores –, acharam melhor passar a noite numa área de pasto abandonado, onde o capim alto se misturava à vegetação amazônica. Improvisaram um acampamento, amarrando as redes nas árvores, e se prepararam para dormir. Esperavam a chegada, na manhã seguinte, de outras quarenta pessoas – um reforço importante, capaz de garantir a ocupação, dificultando a reação dos donos da terra e da polícia.

Acordaram com o cheiro do café preto, preparado num fogo de chão, por volta das seis da manhã. Era maio, época de chuva na região. Jane Júlia de Oliveira, a líder do grupo, de 43 anos, e Antônio Pereira Milhomem, o Tonho, seu marido, de 46, dividiam uma das redes. Um casal mais jovem – Fernando dos Santos Araújo e o namorado, Bruno Henrique Pereira Gomes – passara a noite noutra, logo ao lado. Fernando Araújo havia tomado a iniciativa de coar o café e de entregar a primeira xícara a Tonho, que nem precisou se dar ao trabalho de levantar – apenas estendeu a mão para fora da rede. A líder sem-terra percebeu o movimento e reclamou, em tom de brincadeira: “Para ele primeiro por quê?”

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