Boes confeccionam um pariko em Paris: no dia seguinte à criação do cocar, eles fizeram uma conferência no Collège de France, a instituição onde Lévi-Strauss evocou seu povo 65 anos atrás CRÉDITO: JOÃO KELMER_2024
O reencontro
Noventa anos depois, indígenas do povo Boe veem pela primeira vez, em Paris, os objetos coletados em seu território pelo casal Lévi-Strauss
Maria Luísa Lucas e João Kelmer | Edição 222, Março 2025
No ateliê de restauração do Museu do Quai Branly – Jacques Chirac, em Paris, cinco indígenas do povo Boe estavam reunidos em volta de uma ampla mesa de trabalho, na tarde do dia 10 de outubro de 2024. Ao redor deles, dez restauradores franceses acompanhavam havia horas os visitantes fabricarem um pariko, cocar feito de longas penas de cauda de arara e adornado na base por um delicado mosaico de plumas vermelhas e amarelas. Sobre a mesa, acumulavam-se vasilhames com penas de arara, cordões feitos de material vegetal e pasta de urucum. Atentos, os restauradores não perdiam nenhum movimento dos indígenas, às vezes registrando em desenhos os gestos e processos empregados na criação do pariko.
Com o avançar da hora, certa inquietação foi tomando conta das pessoas no ateliê. No subsolo do museu, o público começava a ocupar a sala de cinema onde os indígenas iriam participar da exibição de filmes feitos em uma aldeia boe pelo casal de antropólogos Dina e Claude Lévi-Strauss, em 1936. O cocar ainda não estava finalizado, mas todos decidiram que seria melhor interromper o trabalho e ir logo para o cinema. Rapidamente, percorremos os corredores do museu, carregando o pariko quase pronto.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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