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    ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL

esquina

Quem canta os males reclama

Do que se queixam os moradores da capital brasileira do canto coral

Marcela Donini  | Edição 60, Setembro 2011

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Passava pouco das duas da tarde quando os 33 cantores se puseram em meia-lua ao redor de um piano elétrico. Sopranos à direita, contraltos no meio e tenores à esquerda do regente. Estavam diante de uma imagem de Jesus crucificado, no auditório de uma igreja luterana. Cordas vocais aquecidas, músculos intercostais relaxados, começaram a cantoria: “Chucrute dá gases./ Não gosto de cercas/ E o arroio Boa Vista está tão poluíííído.”

Os versos não eram um primor de métrica e rima, mas tinham o mérito de sintetizar o descontentamento dos cidadãos da pequenina Teutônia. A cidade gaúcha se orgulha de ser a Capital Nacional do Canto Coral – abriga quarenta grupos, número espantoso para uma população que não chega a 30 mil habitantes. Por isso foi escolhida para ser a primeira cidade da América Latina a ter seu coro de queixas, com direito à récita filmada na Bienal do Mercosul, que começa este mês em Porto Alegre.

O ensaio dos cantores resmungões de Teutônia era dirigido pelo artista e músico alemão Oliver Kochta-Kalleinen, que já organizou chororôs orfeônicos em 24 cidades da Europa, Ásia, América do Norte e Oceania. Muito oportunamente, o idealizador do projeto começou o ensaio reclamando. Seu relógio marcava 14h05 quando chamou num canto o maestro do grupo e fez pressão: “Vamos começar? É horário germânico!” O músico Lucas Brolese, a quem caberia conduzir as vozes do coral, contemporizou, alegando desfalque nas vozes femininas. “Faltam alguns contraltos”, ponderou. Kochta-Kalleinen varreu com os olhos o ambiente. Por pouco não sobrou para a repórter.

 

O ensaio transcorreu quase sem interrupções. A carpidura correu bela, solta: “Eu não sei falar alemão, por isso sempre sou excluído./ Quero estar cheirosa, mas tá frio pra tomar banho./ Eu odeio desenho japonês./ Não tenho a barba grande aiiiinda.”

Naquela tarde, Kochta-Kalleinen vestia um jeans de corte modernoso, dois casacos e boné azul. Estava satisfeito por encenar o coral naquele ambiente litúrgico. “Gosto da ironia. Estamos numa igreja fazendo algo aparentemente sério, mas com essa letra absurda”, comentou.

Pedir a indivíduos de todas as cores e crenças que cantem suas lamúrias é o que move Oliver Kochta-Kalleinen, um homem alto de 39 anos. O projeto é tocado em parceria com sua mulher, a também artista Tellervo Kalleinen, nascida na Finlândia (ela não veio ao Brasil). Nas cidades para as quais levam o projeto, o casal escolhe músicos locais para dar forma sonora às queixas registradas por escrito pelos moradores. O coral é montado com gente comum, que não precisa sequer cultivar o hábito de cantar no chuveiro. Basta o desejo de dar ritmo e harmonia a um dos instintos mais universais da humanidade: reclamar da vida. “Todo mundo se queixa, mas ninguém faz nada para mudar”, explicou o alemão. Ele ao menos transforma este vale de lágrimas numa adorável bobajada.

 

A ideia nasceu há alguns anos, num dia de frio atroz do longo inverno de Helsinque. Em vez de maldizer o termômetro, Kochta-Kalleinen e a esposa se perguntaram se não haveria um jeito de canalizar toda a energia que as pessoas despendem falando mal da vida e dos outros. A língua finlandesa tem um substantivo – Valituskuoro – que significa literalmente “coro de queixas”. Deve ser empregado quando há reclamação coletiva. Pareceu natural ao casal de artistas dar sentido literal à expressão e criar, de fato, um coro de descontentes. A première mundial aconteceu em 2005, em Birmingham. A partir daí, o casal começou a ser convidado para armar sua tenda de reclamações pelos quatro cantos do mundo.

Após ouvir mais de 30 mil queixas ao redor do planeta, Kochta-Kalleinen acredita que é muito mais fácil e divertido conhecer uma cidade pelas suas queixas do que por suas atrações turísticas. Se para os ingleses de Birmingham o preço da cerveja está muito alto, é a qualidade da bebida que caiu na avaliação dos gaúchos. Enquanto os japoneses reclamam de quem fuma nos parques, a queixa em Teutônia é sobre quem gosta do bate-estaca da música eletrônica – “os chatos que ouvem tuntz lá na lagoa da Harmonia”. De fato, há coisas que nem o Tinhoso faz com seus desafetos.

As lamúrias gaúchas vão do local ao universal. Na longa sequência de chorumelas compiladas por Oliver Kochta-Kalleinen, há cachorros bravos, chefes insensíveis e vizinhos desafinados. Agruras da sociedade brasileira, tais como hospitais lotados e o preço dos estádios da Copa também foram lembrados. E houve quem mencionasse questões morais que afligem a humanidade, como a ditadura da magreza ou os maus-tratos aos animais.

 

Inevitavelmente, as queixas dos teutonienses repetiram insatisfações registradas em outras urbes – não há fronteiras para amores não correspondidos ou pais que pegam no pé dos filhos. Mas a gente local também manifestou a sua singularidade, registrando dissabores ímpares e intransferíveis. Em nenhum outro lugar do planeta, por exemplo, o artista alemão apontou o desejo de que um narrador de futebol engolisse a própria língua. Outro dado que intrigou Kochta-Kalleinen foi a ausência de queixas sobre spam, lentidão nas conexões de internet e agruras tecnológicas assemelhadas. Sinal de exclusão digital? Ou andará larga a banda dos gaúchos?

É certo que em Teutônia o povo tem muito com o que se preocupar. Como iriam se incomodar com o acesso à rede se as nuvens no céu mudam a todo instante e provocam tanta discussão entre os que veem um camelo e os que insistem numa bicicleta? Também há quem se queixe dos alcoviteiros de plantão, do barulho das motos e dos atendentes de telemarketing que ligam bem na hora da novela.

Diante do cardápio quase incontável de lamúrias, a palavra final sobre o libreto é de Kochta-Kalleinen, que não esconde sua predileção por peculiaridades locais, como o caminhão de bombeiros de Teutônia, “Presente da Alemanha, mas, que pena!, anda só a 40 quilômetros por hora”. Definida a letra, a turma é instada a cantar com o mesmo entusiasmo tanto as próprias queixas como as dos outros. Quem não gostar, que se queixe ao bispo, pois ao artista não adianta. Kochta-Kalleinen ainda não está disposto a enveredar pelo arriscado caminho da metalinguagem.

Marcela Donini 

Jornalista, é editora-chefe da Matinal e fundadora do Farol Jornalismo

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