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    Vergara no Russian Samovar, em Nova York, antigo reduto de artistas e escritores, um restaurante que o remete aos velhos tempos -- ao Chile antes de Allende, à sua juventude FOTO: IRINA ROZOVSKY

anais da fotografia

Venido a menos

Há mais de quatro décadas, o fotógrafo chileno Camilo Vergara captura as transformações e a degradação de paisagens urbanas nos Estados Unidos

Graciela Mochkofsky | Edição 105, Junho 2015

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Bem no centro do Harlem, ao longo de quatro quadras da Sétima Avenida entre as ruas 127 e 131, ergue-se o St. Nicholas Houses, um complexo de moradias sociais (os chamados projects) com treze torres de catorze andares. Ali moram mais de 3 500 pessoas, a maioria afro-americanos pobres. No passado constituíam um gueto isolado e perigoso, onde eram frequentes os crimes violentos. Há mais de uma década, como em toda a cidade de Nova York – hoje com uma média de menos de um homicídio por dia –, a vigilância policial permanente mantém as estatísticas na linha. O último assassinato de que se teve notícia nesse conjunto habitacional ocorreu há mais de um ano, quando uma mulher de 25 anos foi encontrada com um tiro no peito e o rosto retalhado à faca. Policiais estão sempre dando uma incerta e revistando corredores e escadas. Os portões de entrada são controlados por seguranças privados.

É assim a semana inteira, exceto aos domingos. Por isso, domingo é o único dia em que Camilo Vergara – que não é afro-americano, nem pobre, nem mora no Harlem – pode entrar numa das torres, cujo ingresso só é permitido aos moradores. E ele arrisca apenas quando o tempo está nublado e os prédios não projetam sombras. Espera alguém sair e então se infiltra no prédio enquanto o portão permanece aberto. Com o passo apressado, caminha até as escadas que levam à cobertura. Sobe os degraus com o nervosismo e a urgência de um ladrão – e, com seu capote de bolsos enormes, capuz preto e uma sacola pendurada no ombro, Vergara bem que parece um.

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