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    A escritora Rachel Cusk em sua casa, na costa de Norfolk, Inglaterra: em seus livros, inúmeras vozes competem por atenção, cada uma delas inebriada por sua própria versão da verdade FOTO: THE MODERN HOUSE

questões romanescas

Vozes dispersas

A escritora Rachel Cusk tenta dar forma literária à fragmentação contemporânea

Alejandro Chacoff | Edição 166, Julho 2020

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No fim do romance Esboço, da autora anglo-canadense Rachel Cusk, uma dramaturga relata uma espécie de mania, um gesto impulsivo que vem lhe causando uma crise criativa e impedindo-a de escrever. “Eu o chamo de resumir”, explica Anne, a dramaturga. Ao menor surgimento de qualquer ideia para uma peça nova, ela se pega “resumindo” a peça futura numa única palavra: tensão, por exemplo, ou sogra, ou ciúme. “Por que se dar ao trabalho de escrever uma longa peça sobre o ciúme quando a palavra ciúme praticamente a resumia?”, se questiona. A sua neurose tinha se intensificado a tal ponto que ela começara a resumir tudo, inclusive as obras dos grandes mestres que admirava. Samuel Beckett, por exemplo, o “seu deus”, podia ser resumido numa única palavra – insignificância (meaninglessness).

Anne é uma personagem secundária do livro, mas sua mania tem o peso de um comentário autoral, como se Cusk estivesse colocando o próprio romance à prova. Pois Esboço é impressionantemente difícil de ser resumido. Desde a sua publicação original em 2014, esse livro – o primeiro de uma trilogia formada ainda por Trânsito (2016), que será lançado no Brasil no próximo mês, e Kudos (2018) – tem se consolidado como um dos marcos da literatura contemporânea. Ainda assim, é difícil extrair consensos sobre os temas da obra a partir das várias resenhas elogiosas publicadas nos últimos anos.

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