Quatro meses depois de começar a trabalhar no Hospital Vila Nova Star, a enfermeira Silvana foi abordada por um médico, que puxou para baixo a máscara hospitalar dela e disse: “Queria ver como você é. Bonita, né? Eu não gosto de conversar com as pessoas e não saber como é o rosto delas.” Atônita, Silvana – que pediu para ser identificada por um pseudônimo – colocou a máscara de volta. “Ele então colocou a mão na minha nuca e alisou o meu cabelo”, ela conta. Outras enfermeiras fizeram relatos semelhantes, como mostra a reportagem de João Batista Jr. publicada na edição de outubro da piauí.
O médico é o clínico geral e cardiologista Antonio Carlos Lopes, de 78 anos, acusado de assédio por enfermeiras. Com uma cartela de clientes estrelados – entre eles o ex-presidente Michel Temer e o comandante do Exército general Tomás Paiva –, Lopes é chamado de “professor” por seus colegas. Durante anos, manteve um consultório particular no Hospital Israelita Albert Einstein e preside a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, que reúne mais de 20 mil clínicos no país.
Em 2016, tornou-se o primeiro, e até agora o único civil, a comandar um programa no Hospital Militar de Área de São Paulo. Com relações privilegiadas com militares, Lopes acabou ganhando um status especial no HMASP, onde desfruta de uma enorme liberdade de ação. “Teve uma época que a gente orientava as próprias residentes de clínica médica a jamais ficarem sozinhas com ele”, disse uma tenente médica que atua no hospital militar.
“Ele chegou encostando o pênis no meu ombro, colocando também a mão, como se estivesse olhando os exames. A gente se sente um lixo”, diz um outra enfermeira, segundo a qual isso aconteceu em mais de uma ocasião. Ela relata também que o clínico tem o hábito de pegar os crachás das enfermeiras, em geral dispostos na altura do peito, enquanto pergunta: “Qual é o seu nome?” Faz isso como pretexto para roçar a mão nos seios delas. “Ele já fez isso comigo muitas vezes, é nojento.”
Lopes rebate as denúncias. “Isso não existe, meu querido”, disse ele à piauí. “Sou um dos homens mais estimados na enfermagem, ajudo todas [enfermeiras]. Muitas querem trabalhar comigo no consultório particular. Sou um homem sério, honesto, religioso. Não tenho nada a ver com isso. Dou minha palavra de honra, fraternalmente”, afirmou.
No início de setembro, o Vila Nova Star decidiu suspender seus vínculos com o médico e abrir uma sindicância para apurar as denúncias.
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