Em 2023, um ano marcado pelo El Niño, a Amazônia foi mais uma vez atingida por uma seca intensa e por megaincêndios florestais, assim como tinha sido o caso em 2015, na última ocorrência desse fenômeno climático. Na área do Baixo Tapajós, no oeste do Pará, o fogo atingiu uma área de aproximadamente 300 mil hectares (o equivalente a 300 mil campos de futebol), de acordo com dados preliminares. Mas ainda é cedo para fazer um balanço definitivo do estrago, já que a mortalidade de árvores depois do fogo pode se manter elevada por dois anos e meio.
A Amazônia é uma floresta úmida, e por isso os incêndios não ocorrem lá de forma natural. Suas árvores não desenvolveram estratégias adaptativas para sobreviver ao fogo, como acontece com as espécies do Cerrado. Por isso, os incêndios florestais costumam ter alta letalidade na Amazônia. Só no Baixo Tapajós, que cobre apenas 1,2% da extensão do bioma, os incêndios motivados pelo El Niño de 2015 mataram quase 3 bilhões de árvores.
Os incêndios florestais são motivados pela ação humana. Parte deles está associada ao desmatamento, quando o fogo é usado para desobstruir a área derrubada. Eles podem surgir também de queimadas com a finalidade de limpar pastos ou preparar o roçado feito por populações tradicionais. Se o fogo escapar para alguma área de floresta, pode causar grande estrago. Bernardo Esteves relata na edição deste mês da piauí os efeitos de mais uma temporada de megaincêndios florestais turbinada pela emergência climática e pelo fenômeno El Niño, após presenciar os estragos causados pelo fogo no Baixo Tapajós.
As ecólogas Joice Ferreira e Erika Berenguer, da Rede Amazônia Sustentável, mostram a nova realidade da Amazônia no Antropoceno, a era geológica marcada pelas marcas da ação humana sobre o planeta: trata-se de uma floresta mais quente, mais seca e mais vulnerável aos incêndios florestais por conta da crise climática e do aumento da degradação florestal.
As pesquisadoras defendem que é preciso políticas públicas alinhadas com a nova realidade da Amazônia para fazer frente aos incêndios florestais. Elas entendem que o governo segue muito preso às fórmulas que permitiram combater o desmatamento no começo deste século. “Que bom que essas estratégias deram certo no passado, mas a Amazônia mudou, o clima mudou, e no futuro vai ser ainda mais diferente”, diz Berenguer.
Em sua avaliação, as políticas públicas deveriam priorizar a prevenção dos incêndios florestais, em vez de concentrar esforços nas ações de combate. A criação de um fundo emergencial para financiar essas ações em anos de secas extremas e a instituição de uma bolsa para compensar populações tradicionais que deixarem de usar o fogo no preparo do roçado estão entre as políticas públicas recomendadas pelas pesquisadoras.
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