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    Empresários e políticos tentam dissuadir o ministro da candidatura. Temem que ele perca o foco das reformas. FOTO: JORGE ARAÚJO_FOLHAPRESS

questões eleitorais

Meirelles quer entrar no páreo

Apoiado por Crivella, ele se aproxima dos evangélicos e se coloca como o “único viável” para as reformas

Bruno Filippo | 22 ago 2017_20h16
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“Boa tarde, meu nome é Henrique Meirelles e este é o meu perfil no Twitter. Pretendo usar este espaço para debater os rumos do Brasil.” No dia 7 de junho, pontualmente às 14:37, o ministro da Fazenda fez seu primeiro post na rede social. Foi – extraoficialmente – seu primeiro movimento como pré-candidato à Presidência da República para as eleições de 2018. O mais recente ato da caravana informal de Meirelles aconteceu em julho: o ministro confidenciou ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que tem pretensões de candidatar-se no próximo ano. “Estou trabalhando para viabilizar a minha candidatura”, disse Meirelles, durante um almoço.

O encontro aconteceu no Palácio da Cidade, sede da prefeitura, no bairro de Botafogo. Meirelles fora ao Rio discutir a dívida do estado com o governo federal. Abriu espaço na agenda para encontrar-se com Crivella, que está preocupado com as finanças do município. Falando como candidato, Meirelles prometeu ajuda. E pediu apoio de Crivella e de seu partido, o PRB, à sua candidatura. “Comigo na presidência, será mais fácil negociar as dívidas de estados e municípios”, disse Meirelles, segundo relato de um assessor de confiança do prefeito, presente na reunião.

Uma segunda fonte – que também participou do almoço – confirmou a conversa entre Meirelles e Crivella, e disse ainda que o ministro da Fazenda não tem outras ambições políticas senão disputar a Presidência – ele chegou a ser sondado pelo Partido Social Democrático (PSD), ao qual é filiado, para concorrer a dois outros cargos majoritários: senador ou governador de São Paulo. Mas descartou a possibilidade: “Só me interessa a candidatura presidencial”, disse Meirelles, durante o almoço.

O espectro da candidatura de Henrique Meirelles o acompanha desde que ele assumiu a Fazenda, em maio de 2016, com a posse de Michel Temer no lugar de Dilma Rousseff. Quando Temer balançou no cargo, ele chegou a ser cogitado para eleição indireta. Agora, à medida em que o cenário eleitoral de 2018 começa a ser montado, Meirelles se movimenta nos bastidores, sobretudo se aproximando do segmento evangélico.

No início de julho, participou das comemorações dos 106 anos da Igreja Assembleia de Deus, no Pará. Estava acompanhado do ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, do PMDB. Ambos foram laureados pela igreja com o título de “Tributo da Gratidão”. Helder – filho do senador Jader Barbalho – é pré-candidato ao governo do Pará. O apoio do PRB de Crivella é importante para dar-lhe solidez entre os evangélicos.

A candidatura de Meirelles vem enfurecendo aliados de Temer, que pretendem encontrar uma alternativa eleitoral dentro do próprio PMDB. Além disso, empresários e políticos desejosos de que as reformas prometidas por Meirelles – especialmente a da Previdência – saiam do papel se mostram preocupados com a perda de foco.

Se Meirelles realmente se lançar candidato, a campanha poderá defrontá-lo com um adversário que ele já encontra dentro da área econômica do governo: o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, que também aspira à candidatura presidencial.

Paulo Rabello, que fala abertamente a interlocutores de suas ambições políticas, nunca disputou uma eleição. Desvinculou-se do Partido Novo e, nos próximos dias, deve anunciar sua filiação ao Partido Social Cristão, ocupando o lugar de Jair Bolsonaro, que anunciou que deixará a legenda no início de agosto em direção ao Partido Ecológico Nacional.

A substituição de Bolsonaro por Rabello é do tamanho da clivagem que separa liberais e conservadores – e de como, no debate político brasileiro, esses conceitos se misturam numa barafunda ideológica. Como economista e consultor, Paulo Rabello é um liberal. Doutorou-se em economia pela Universidade de Chicago – berço do liberalismo econômico a partir da segunda metade do século XX – e foi aluno de Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia de 1976. Em 2014, publicou O Mito do Governo Grátis – O Mal das Políticas Econômicas Ilusórias e as Lições de 13 Países Para o Brasil Mudar.

No Partido Novo, ele encontrava abrigo nos valores que a legenda defende: liberdade individual e livre mercado. No PSC, cujos parlamentares são identificados com a bancada evangélica, as bandeiras são contra a legalização do aborto, das drogas e a favor da redução da maioridade penal, todas abertamente antiliberais. E não há nenhuma palavra sobre pensamento econômico.  

Castro assumiu o BNDES no início de junho. Pela vontade de Henrique Meirelles, já teria caído. Salvam-no Michel Temer e Moreira Franco, dos quais Rabello é próximo. Ele, que estava à frente do IBGE, substituiu Maria Silvia Bastos Marques, cujas alegadas “razões pessoais” para seu pedido de demissão serviram de eufemismo para a insatisfação do governo e do empresariado com sua administração. Quando Maria Silvia deixou o BNDES, sua capacidade de empréstimo voltara aos números de 1997. Atribuiu-se a Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, a articulação que a fez sair do banco.

Enquanto Meirelles prega mais austeridade e rigor na liberação de financiamento – exatamente os motivos das críticas a Maria Silvia –, Castro, em pouco tempo no cargo, tem-se notabilizado por defender a atuação do BNDES em operações polêmicas que remontam aos governos petistas, como o fomento às “campeãs nacionais” e ao Porto de Mariel. Pediu aos técnicos do banco que fizessem um livro com um balanço da política da instituição nos últimos quinze anos. “O BNDES pratica negócios bem-sucedidos. Quase 50% do superávit primário do governo foi feito, entre 2006 e 2016, com tributos e dividendos desenvolvidos pelo banco”, disse Paulo Rabello em entrevista à Rádio Jovem Pan de São Paulo, quando completou 45 dias no cargo.

A criação de uma nova taxa de juros para os empréstimos do banco tornou explícita a divergência entre os dois economistas pré-candidatos. A Taxa de Longo Prazo foi elaborada por técnicos do BNDES durante a gestão de Maria Silvia. Paulo Rabello criticou a taxa que, segundo ele, pode prejudicar as empresas tomadoras de empréstimos. Dois diretores do banco, defensores da TLP, pediram demissão. A Medida Provisória 777, que cria TLP, tem votação na Comissão Mista do Congresso prevista para esta terça-feira. Se aprovada, passará por votação no plenário da Câmara e do Senado. A equipe econômica espera a aprovação.

A postura de Castro, contraditória à de Meirelles, é creditada justamente à sua candidatura em 2018. Uma forma de diferenciá-lo não somente de Meirelles – cuja atuação à frente do Ministério da Fazenda, até agora, foi incapaz de conter o rombo nas contas públicas – mas também de um governo impopular que tenta aprovar medidas polêmicas.

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