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    Bryan Cranston, Steve Carell e Laurence Fishburne são veteranos que se encontram quase três décadas após a Guerra do Vietnã

questões cinematográficas

A Melhor Escolha – jornada para redimir o passado

Filme de Richard Linklater tenta repetir fórmula de outros longas do cineasta, mas falha do ponto de vista comercial e artístico

Eduardo Escorel | 12 abr 2018_08h00
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Admito ser difícil traduzir Last Flag Flying, título original do mais recente filme de Richard Linklater. Última Bandeira ao Vento, talvez? De qualquer modo, cabe o registro, uma vez que volta e meia os distribuidores se superam, cometendo novos e crescentes absurdos ao nomearem filmes estrangeiros – em qual recanto terão encontrado A Melhor Escolha para batizar Last Flag Flying?

Com base em um romance homônimo de Darryl Ponicsan, publicado em 2005, Last Flag Flying retoma os personagens de um livro anterior de Ponicsan, The Last Detail, de 1970 – adaptado para o cinema com o título A Última Missão (1973). Desta vez, três veteranos se reencontram 28 anos depois do fim da Guerra do Vietnã.

Doc (Steve Carell) é quem toma a iniciativa de procurar, primeiro Sal (Bryan Cranston), dono de um bar, depois o reverendo Mueller (Laurence Fishburne), para convencer ambos a fazerem uma jornada com ele que irá reviver a culpa dos três pelo que causaram no passado.

Linklater é o diretor, entre outros, de Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr do Sol (2004), Antes da Meia-Noite (2013) e Boyhood – da Infância à Juventude (2014), todos centrados em personagens criados por atrizes e atores de presença marcante na tela, cada um à sua maneira –  Julie Delpy, Ethan Hawke e Patricia Arquette.

Em A Melhor Escolha, o método é o mesmo, mas o resultado menos satisfatório. Entre Carell, Cranston e Fishburne, apenas Carell se destaca com sua interpretação minimalista, na medida justa, transbordando talento. Cranston, o inesquecível Walter White da série Breaking Bad, erra a mão na tentativa de compor um Sal sem censura, histriônico, mesmo considerando ter sido ferido na cabeça durante a guerra. Fishburne, por sua vez, compõe uma figura apagada diante de seus dois companheiros.

No post sobre Boyhood –  da Infância à Juventude, publicado em 2014, além do título disparatado, comentei o fato da proposta original do filme se esvair à medida que o filme progride, acabando por não cumprir seu potencial. O mesmo pode ser dito de A Melhor Escolha – o interesse da premissa não se sustenta e o filme segue aos tropeções até a patriotada sentimentaloide final, na qual Doc faz a tal “melhor escolha” que inspirou o título do filme no Brasil.

Linklater rateia ao não tornar convincente a motivação de Doc para procurar Sal e Mueller tantos anos depois. Resulta também pouco plausível que ambos tivessem tanta disponibilidade para sair em excursão com Doc pelo país.

Ainda no post sobre Boyhood – da Infância à Juventude, assinalei que o filme era um sucesso comercial. Produzido por apenas 4 milhões de dólares, tinha rendido 43 milhões, na época. Dados atualizados indicam ter atingido receita total de 44 milhões em salas de cinema.

No caso de A Melhor Escolha, o resultado até agora não se compara. Lançado nos Estados Unidos em novembro do ano passado, rendeu cerca de 1,1 milhão de dólares no mercado mundial. Embora o custo de produção não esteja disponível, é possível estimar que seja superior a essa receita, configurando um prejuízo que dificilmente será reduzido ou liquidado nos mercados suplementares.

Esse resultado é bem inferior à receita média, nos Estados Unidos, dos dezoito filmes dirigidos por Linklater, entre 1991 e 2017 – 16,7 milhões de dólares (valores corrigidos pela inflação do preço do ingresso). Desses, além de Boyhood – da Infância à Juventude, apenas um teve resultado comercial mais expressivo: Escola de Rock (2003), produzido por 35 milhões de dólares e receita de 131 milhões de bilheteria.

O que esses dados sugerem é que A Melhor Escolha talvez não tenha sido a melhor opção para a carreira profissional de Richard Linklater, nem do ponto de vista comercial, nem artístico.

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