O músico e compositor João Donato, ícone da MPB e um dos nomes da bossa nova, morreu nesta segunda-feira (17), aos 88 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de uma série de problemas de saúde. Há poucas semanas, ele teve uma infecção nos pulmões. A morte foi confirmada no Instagram do compositor. “Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias. Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo universo.”
Pianista, arranjador, cantor e compositor da bossa nova, Donato foi parceiro de nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Reconhecido pela maneira criativa de mesclar gêneros musicais, deixou canções como A rã, Chorou, Chorou e Amazonas, consideradas marcos da MPB. Donato dizia que ia além da bossa nova e fazia um pouco de tudo, dialogando com o samba e o jazz.
Donato tinha 74 anos de carreira musical. Em 2008, ele deu um depoimento à piauí em que contou sobre sua vida e o aprendizado com a música. “Muitas histórias começam sob lonas de circo. A minha é mais uma delas. Foi num modesto picadeiro de Rio Branco, no Acre, que, sem tirar os olhos de um motoqueiro do Globo da Morte, pela primeira vez toquei acordeão em público. […] Naquele dia ouvi meus primeiros aplausos. Gostei.”
Quem entrevistou João Donato foi a jornalista Cristina Tardáguila, criadora da Agência Lupa e à época repórter da piauí. Tardáguila passou uma tarde com Donato na casa dele na Urca, Zona Sul do Rio. Posicionou o gravador no chão da sala, ao lado dele, e não tomou anotações. Após sete horas de conversa, Tardáguila foi conferir – e o aparelho não havia gravado nada. “Quase morri. Não tive coragem de na hora contar o vexame”, revelou a jornalista. Ela tentou transcrever o que Donato contou no caminho de volta, mas não deu certo, já que o texto precisava ser em primeira pessoa. “Resolvi ligar pra mulher do João e abrir meu coração. Ela perguntou pra ele na hora se eu poderia voltar e ele gargalhou.” Tardáguila voltou dias depois para fazer uma nova entrevista – e nunca mais confiou em um gravador. “Foi uma baita lição de jornalismo”, diz. Do entrevistado, recorda a inteligência e o bom humor. “Era muito boa praça, do tipo que faz piada inteligente e zomba com elegância.”
No texto publicado na piauí, João Donato finaliza: “Para a nova geração de músicos, minha dica é: bonés compõem um figurino com perfeição”, escreve. “Outra sugestão é apostar nas campainhas de celular: os ringtones. No meu telefone tenho três músicas de minha autoria: Doralinda, Nasci para Bailar e Bananeira. Dependendo de quem liga, toca uma. Fantástico. Bossa nova combina demais com celular. Aliás, deixa eu escrever isso aqui, combina com tudo, ok?” Ele ressalta que a letra não é o mais importante da música: “A melodia é o que fica.”
O cantor será velado no Theatro Municipal do Rio nesta terça-feira (18).