A princesa Isabel foi uma das correspondentes mais prolíficas do Império. Parece ter gostado muito de escrever cartas e trocava constantemente mensagens breves com suas amigas mais próximas. Era também obrigada, devido à sua posição, a mandar cartas e bilhetes para agradecer as inúmeras gentilezas que recebia, para confirmar convites, solicitar pequenos favores e mandar recados. Por outro lado, a princesa precisava redigir mensalmente dezenas de cartas de felicitações e pêsames.
Apesar de suas cartas curtas e triviais serem muito comuns, a que está reproduzida nesta página é muito mais rara por dois motivos:, é relativamente longa, para os padrões da princesa Isabel, e está dirigida a ninguém menos que seu pai, o imperador D. Pedro II, vinte anos antes da abolição da escravatura. A imensa maioria das cartas da filha para o pai é conservada nos arquivos do Museu Imperial e dos descendentes do imperador. Esta pode ter sido presenteada muito cedo a uma pessoa amiga, pois fazia parte de um álbum formado nos anos 1910 por uma moça de uma família nobre, próxima à Família Imperial.
A carta é fascinante por ter sido escrita em plena Guerra do Paraguai e fornecer ao historiador uma rara amostra dos assuntos trocados entre pai e filha.
"24 de Fevereiro de 1868. Petrópolis
Há dias foi presa também uma alemã – que lavava minha roupa – que queria fugir com 800$000 do marido, e depois insultou e rasgou o Cavalcanti.
Aceite um beijo e um abraço bem apertado desta sua filha e amiga muito do coração.
Isabel Condessa d’ Eu"
Como se vê, a princesa descreve os fatos recentes como devia fazer nas muitas conversas informais que tinha com o pai. Conta com certa graça novidades aparentemente banais, com exceção da prisão de uma alemã que lavava sua roupa e que havia roubado o marido. O texto mostra também o prazer da princesa em relatar detalhes de seu dia-a-dia. A relação de carinho entre pai e filha transparece nos termos usados e na preocupação em contar o eclipe do sol a que assistiu e ao carnaval de rua. Após ter aberto a carta com "Meu querido papai", despede-se com: "um beijo e um abraço bem apertado dessa sua filha e amiga muito de coração". É tambem significativo que, mesmo numa carta íntima, assine com seu título: "Isabel, Condessa d’Eu"
A carta, uma das pouquíssimas missivas pessoais da princesa a seu pai conservadas fora dos arquivos públicos, fez parte do álbum de uma senhora que faleceu com 95 anos em 1970. Seus descendentes o conservaram por quase três décadas, antes de vendê-lo a seu atual detentor.