Vestindo braçadeiras verdes com a frase “segurança voluntária” em letras pretas sobre uma faixa amarela, um grupo de sindicalistas e militantes de movimentos sociais se destacou nesta segunda-feira, 22 de janeiro, em Porto Alegre. A missão da “equipe de segurança popular” – na expressão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e da Central Única dos Trabalhadores – durante as manifestações se repetirá ao longo da semana: vigiar e conter quem considerarem “infiltrados” nos atos de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os atos estão programados para coincidirem com o julgamento em segunda instância de Lula, condenado pelo juiz Sérgio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá.
Nesta segunda-feira, mais de mil militantes do MST e da Via Campesina marcharam do Centro da cidade até o Anfiteatro Pôr do Sol, um gramado à beira do rio Guaíba onde ficarão acampados. O ato foi acompanhado por alguns dos “seguranças populares”, posicionados nas laterais da passeata, e terminou sem incidentes. Até quarta-feira, o contingente deverá se multiplicar.
No total, estão previstos 2 mil ditos “seguranças populares”. Segundo as entidades, 500 foram indicados pelo MST, e os outros 1 500, por outros movimentos, entre filiados a sindicatos da CUT e militantes de organizações como o Levante Popular da Juventude. “Pelo tamanho, é um esforço inédito”, disse o sindicalista Elton Lima, da CUT-RS, que foi nomeado um dos coordenadores da segurança popular.
Nas próximas manifestações, além de permanecer na periferia dos atos durante os deslocamentos, os seguranças estão orientados a andarem em duplas e se misturarem ao público. No acampamento do Anfiteatro Pôr do Sol, eles farão rondas entre as barracas. A guarda usará um sistema de rádio para comunicação rápida. Quem for identificado como infiltrado será convidado a se retirar. Caso não o faça, a orientação para os guardas é fotografá-lo e apontá-lo à polícia.
Trinta mil militantes organizados são esperados em Porto Alegre. Os manifestantes temem que os atos resultem em violência, e que a culpa recaia sobre os militantes pró-Lula. “Nossa preocupação é não ter grupos que façam quebradeira, coloquem fogo no lixo, o que gera imagem negativa aos nossos atos”, disse Valcir Oliveira, militante do MST e coordenador da delegação do Assentamento Trinta de Maio, de Charqueadas, a 55 quilômetros de Porto Alegre.
Não são apenas os “infiltrados” que preocupam os organizadores. Elton Lima, da CUT-RS, afirma que existem manifestantes apostando no enfrentamento. Por isso, uma das principais atribuições dos guardas é conter os próprios militantes, principalmente em caso de condenação do ex-presidente. “A gente sabe que existem integrantes do movimento social que defendem o quanto pior melhor. Ainda assim, na maioria dos casos em que houve violência, ela foi provocada por infiltrados.”
Os coordenadores dos seguranças dizem que os guardas serão responsáveis por orientar militantes e “vigiar quem incite a violência ou deprede o patrimônio público”. O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, enviou à piauí recomendações que foram repassadas aos seguranças populares. “Não destruir ou depredar. (…) Procure evitar que virem ou danifiquem lixeiras, se virarem ajude a desvirar, procure evitar que quebrem vidraças, se não conseguir afaste nossa militância”, aponta o texto de orientação. Coibir o uso de máscaras pelos manifestantes também está entre as atribuições desses guardas. “Caso haja recusa, registre (foto) e comunique um coordenador”, indica o texto.
O momento que mais gera apreensão é o do veredito da 8ª turma do TRF-4. Quando terminar o julgamento, a tarefa dos seguranças, segundo a CUT e o MST, será dispersar os manifestantes o mais rápido possível. Durante todos os dias dos atos, os coordenadores da segurança popular terão um canal de comunicação com a Brigada Militar para encaminhar denúncias ou pedir ajuda, por exemplo. “Deixei meu telefone e o dos comandantes e encarregados da operação de policiamento à disposição”, disse o secretário de Segurança, Cezar Schirmer.