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Música jovem

Zeca Baleiro | 28 out 2013_16h08
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O mundo infantilizou-se, isso é notório. E a indústria cultural, reflexo e refletor da sociedade, adolesceu. Hoje, na cena da música pop internacional, por exemplo, proliferam astros teens às dezenas – Justin Bieber, Miley Cyrus, Demi Lovato, Bruno Mars, Selena Gomez, Colbie Caillat, Avril Lavigne etc, todos atirados bem cedo à arena do showbiz, alguns dos quais iniciaram a carreira ainda crianças, como o fenômeno canadense Bieber e o havaiano Mars.

Até os anos 50, música era coisa de adulto. No Brasil, a criança e o adolescente até podiam se encantar com a marchinha maliciosa ou o baião brejeiro, mas não havia uma produção dirigida a eles. Só a partir do advento do rock’n’roll é que começa a haver um real foco da indústria para a demanda juvenil – e infantil. Não saberia dizer com exatidão, mas penso que o primeiro artista a gravar músicas destinadas ao público mirim por estas bandas foi o pioneiro da TV George Savalla Gomes, conhecido no mundo do picadeiro como Palhaço Carequinha, que começa a mandar seus primeiros recados em disco a partir de 1957. Depois, em 60, surge a famosa coleção Disquinho, criada pelo compositor Braguinha com adaptação de contos de fada clássicos e estórias infantis diversas, com arranjos e orquestrações do mítico maestro Radamés Gnattali.

Com precoces 15 anos, a paulista de Taubaté Celly Campello grava em 1958 seu primeiro compacto, dividido com o irmão Tony Campello. No ano seguinte, lançaria seu maior sucesso, Estúpido Cupido, tornando-se a primeira grande estrela da música jovem no Brasil, e abrindo portas para o movimento que mudaria definitivamente os ares da música brasileira, a Jovem Guarda. O sucesso foi tamanho que a gravadora Continental resolveu lançar concorrente: uma menina-prodígio gaúcha, recém-chegada ao Rio, então com 16 anos. O título do disco? Viva a Brotolândia. O nome da moça? Elis Regina, que depois de estrear na esteira da onda mezzo rock, mezzo calipso que começava a emplacar nas rádios e bailes do país, mudaria radicalmente de leme para se tornar uma das maiores cantoras brasileiras. A Jovem Guarda, como era de se esperar, seduziu a juventude com seus embalos, minissaias, brotos legais e carrões envenenados, embora a parte mais engajada e/ou universitária dessa juventude optasse por uma música mais culta e politizada – é quando surge a sigla MPB, clube de elite do qual a jovem Elis será uma das mais importantes e aguerridas “sócias”.

Afora os citados volumes da coleção Disquinho, que continuavam a ser lançados nos anos 70, e eventuais discos com cantigas de roda tradicionais, geralmente cantadas por corais, pouco ou nada era feito dirigido a crianças e adolescentes. Mas em 77 é lançado um disco que vai se tornar um marco no segmento ainda incipiente da música para crianças – Os Saltimbancos, trilha do musical infantil homônimo composta pelos italianos Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov e vertida para o português por Chico Buarque. A história, inspirada no conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, torna-se um grande sucesso teatral e discográfico – Miúcha, Nara Leão e MPB-4 emprestam suas vozes para os divertidos personagens da peça.

Depois, em 80, outro marco da produção musical para crianças: Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, com participação de elenco estrelado (Marina, Fagner, Milton Nascimento, Walter Franco, Moraes Moreira, Alceu Valença, Boca Livre etc), que seria lançado poucos meses depois da morte do poeta. O disco, criado a partir de poemas lançados em livro dez anos antes, ganhou especial da TV Globo e virou referência para toda uma geração (um ano depois sairia o volume 2).

Digníssimos de nota também são os discos com as trilhas do programa Vila Sésamo (composta por Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Nelson Motta) e da série Sítio do Pica-Pau Amarelo, com autores diversos (Gilberto Gil, Dori Caymmi, Geraldo Azevedo, Ronaldo Malta e Sérgio Ricardo, entre outros), ambos lançados nos anos 70 – o primeiro no início e o segundo no fim da década.

Então começa um novo momento, nos início dos 80, com o surgimento de grupos como A Turma do Balão Mágico e Trem da Alegria. E a partir de 1986, um furacão chamado Xuxa chega para varrer a cena discográfica infantil, com seus Xou da Xuxa 1, Xegundo Xou da Xuxa e Xou da Xuxa 3, não deixando pedrinha sobre pedrinha. No seu rastro vem Angélica, mais uma apresentadora/cantora a fazer uso do sex appeal e da popularidade dos auditórios para emplacar canções-chicletes, como a inolvidável Vou de Táxi.

Em paralelo, a cena Rock Brasil se fortalece, quase como um renascimento da Jovem Guarda (parece ser mais que coincidência que o ídolo de sua geração Renato Russo tenha voz similar à de Jerry Adriani, ídolo jovem sessentista). Só que agora os temas das composições de Barão Vermelho, Lobão e os Ronaldos, Gang 90, Legião Urbana, Titãs e Ultraje a Rigor serão um pouco menos inocentes que as da turma do ieieiê. “Sexo, drogas e rock’n’roll” será um lema legítimo para os adolescentes da “geração coca-cola”.

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