No início de outubro passado, o site inglês de apostas Nicer Odds colocou o autor argentino César Aira como um dos favoritos ao Prêmio Nobel de literatura, pagando 13 para 1. Prestes a completar 75 anos e traduzido em 37 idiomas, Aira tem se consolidado cada vez mais como o principal nome da ficção literária latino-americana. Seus pequenos e numerosos romances – mais de cem ao todo, a maioria deles publicado em dezenas de pequenas casas editoriais – combinam uma imensa facilidade para prender o leitor com um desejo intenso de subverter suas expectativas.
Morando há cerca de meio século em Flores – um bairro de classe média e média baixa em Buenos Aires –, escrevendo em bares, cafés, e até lojas de fast-food perto de sua casa, Aira forjou ao longo das últimas quatro décadas um estilo inusual e híbrido, que mistura alta erudição e um senso de humor fino, digressões ensaísticas borgianas e fábulas surrealistas com ficção científica barata.
Embora não fale com a imprensa argentina e costume dar entrevistas a veículos estrangeiros só ocasionalmente – a maioria delas por escrito –, Aira deu acesso total à piauí para um perfil longo escrito por Alejandro Chacoff, publicado na edição deste mês da revista. Em Buenos Aires, Aira conta sobre sua infância e adolescência na minúscula Pringles, no interior da província de Buenos Aires, onde o tédio obrigava os habitantes a se virarem com os clássicos da biblioteca pública da cidade. Ele também fala sobre seu início atravancado no meio literário portenho, quando, em meados da década de 1970, seu primeiro editor supostamente teve que fugir da ditadura militar antes de terminar a capa do livro.
“Quando César triunfou mundo afora, aqui ele se tornou indiscutível. Mas antes os grandes jornais nem sequer publicavam artigos sobre ele”, diz Francisco Garamona, editor da Mansalva, hoje uma das pequenas editoras que mais publicam Aira e das quais ele não cobra adiantamentos ou royalties. “Esse foi o acordo que fiz com Michael”, diz Aira, referindo-se a Michael Gaeb, seu agente alemão. “Eu não me meto no mundo. E ele não se mete na Argentina. Na Argentina é tudo grátis.”
Acompanhando Aira em seu escritório, biblioteca, e por lugares do bairro de onde ele raramente se desloca, a piauí narra o longo processo que transformou o escritor, inicialmente lido apenas por aficionados, na figura mais destacada da literatura argentina das últimas décadas.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.