Tudo vai bem, tudo legal… por que o presidente da Câmara dos Deputados estaria preocupado? Cada vez mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, Arthur Lira estampa a capa da piauí deste mês, batizada de MAD nos trópicos. Na ilustração de Caio Borges, o rosto de Lira toma forma no desenho de Alfred E. Neuman, personagem símbolo da revista e da série de desenho animado que parodiava vários símbolos da cultura pop americana. Favor não confundir, caro leitor, com “Mal dos trópicos”, se bem que… bom, deixa para lá.
Quem não vai ganhar diploma de bem-comportado no juízo final é o debochado pinguim que invadiu a capa, com bolo de aniversário e tudo, para marcar os quinze anos desta revista que vos fala. A debutante ganhou um presentão à altura: doravante, a piauí deixa de ter um dono e passa a operar com recursos de um fundo patrimonial doado, em caráter irrevogável, para o Instituto Artigo 220. A associação civil acaba de ser criada com o único propósito de respaldar o jornalismo rigoroso, independente e apartidário da revista. Seu nome faz referência ao artigo que consagra a liberdade de imprensa na Constituição. A seção Chegada, ressuscitada excepcionalmente nesta edição, traz o fundador da piauí, João Moreira Salles, para explicar o impacto da mudança nas atividades da revista, agora Dona do próprio nariz.
O aniversário é nosso, mas o leitor também ganha presente: os assinantes receberão gratuitamente o atlas Amazônia sob Pressão 2020. O trabalho da Rede Amazônia de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg) traz 23 mapas, tabelas, gráficos e dados reunidos por pesquisadores de seis países amazônicos. A publicação mostra que um terço do bioma está sob ameaça de destruição e reitera a importância de se proteger a casa da maior biodiversidade do planeta.
A edição especial conta com mais de cem páginas, que versam sobre política, ciência, corrupção, história, literatura, arquitetura, religião e sociedade. Traz ainda um inédito texto bilíngue, em português e maxakali, o idioma falado pelo povo indígena Tikmũ’ũn (Kõnãg kox me mõg: seguir o caminho do rio, de Isael Maxakali e Sueli Maxakali). Como a cada hora que passa envelhecemos dez semanas, os Sete de Setembro também são tema de debate: em Teatro dos vampiros, Fernando de Barros e Silva analisa 2021, enquanto Rafael Cariello e Thales Zamberlan Pereira revisitam 1822 em A crise inaugural.
Voltando à pandemia, Ana Clara Costa reconstitui o maior escândalo do período em A Escolhida, uma crônica sobre a vacina que Bolsonaro não rejeitou. Nesses tempos antivacina e anticiência, Herton Escobar se debruça sobre as (várias) razões pelas quais nossos cientistas estão indo embora do país, em A diáspora.
Por meio de um diário, Maria Stockler Carvalhosa, que ficou cega na adolescência, mostra que Sobreviver não é o suficiente. No site, o diário terá uma versão disponível em áudio, que você pode ouvir aqui. E um dos maiores nomes da história do esporte brasileiro, o nadador Daniel Dias, recordista mundial que se aposentou na última Paralimpíada, deixa em carta um pedido a Gabriel Araújo, um dos principais atletas da nova geração: “Nunca deixe de se divertir, cara!”.