A quantidade de pessoas em situação de rua no Brasil vem aumentando em decorrência da crise, e São Paulo, maior cidade do país, simboliza bem esse momento. Divulgado há poucos dias, o Censo da população em situação de rua de 2021 revelou que há quase 32 mil pessoas morando nas ruas da capital paulista. É uma população maior do que a de 80% das cidades brasileiras. Esse número de pessoas seria suficiente para encher nove vezes o Edifício Copan, maior prédio residencial da América Latina. São, na maioria dos casos, homens negros que passaram a viver na rua de 2019 para cá. O =igualdades desta semana mostra o tamanho e o perfil da população em situação de rua em São Paulo.
A Prefeitura de São Paulo contabilizou 31,9 mil pessoas morando nas ruas da cidade em 2021. Esse contingente é maior que a população de muitos municípios do Brasil. Mais precisamente: 4.446 dos 5.570 dos municípios brasileiros têm menos do que 31,9 mil habitantes.
O primeiro Censo da população de rua feito pela Prefeitura de São Paulo, em 2000, constatou que, de cada 10 mil paulistanos, 8 viviam na rua. Em pouco mais de duas décadas, a proporção saltou para 26.
Das pessoas que estão em situação de rua atualmente em São Paulo, 28,4% disseram estar nessas condições há menos de um ano; 13,8%, entre um e dois anos; e 8,7% entre dois e três anos. Ou seja: 51% dos moradores de rua encontrados em 2021 na capital paulista passaram a viver nessa condição de 2019 para cá, período que coincide com o do governo Bolsonaro. Outros 26% estão em situação de rua há um período de três a dez anos, e 22% estão há mais de uma década.
Das 31,9 mil pessoas que vivem nas ruas de São Paulo, 22,6 mil declararam sua cor ou raça no Censo da prefeitura. Desse total, 10,9 mil são pardas e 5,5 mil são pretas. Juntas, elas representam 71% do total. A proporção de negros entre os moradores de rua, portanto, é o dobro do que na população de São Paulo (apenas 37% dos habitantes da capital paulistas se identificam como negros).
Quando se trata de gênero entre as pessoas em situação de rua, os homens cisgêneros são a maioria. Eles somam 17,5 mil dos 31,9 mil moradores de rua, o equivalente a 80% do total. Essa porcentagem é quase cinco vezes a de mulheres cisgêneros, que representam 17% (3,7 mil pessoas). Os que se identificam como homens e mulheres trans, travestis, agêneros ou não binários são 568, representando 3% do total.
O número de moradias improvisadas, sejam barracas de camping ou barracos de madeira, aumentou 330% nos dois últimos anos em São Paulo. No Censo de 2019, foram encontrados 2,1 mil pontos com barracas improvisadas na capital paulista; em 2021, foram computados 6,8 mil.
O Edifício Copan, inaugurado em 1966, é o maior prédio residencial da América Latina e fica no Centro de São Paulo. Em seus 32 andares, existem 1124 unidades residenciais dos mais variados tamanhos. Se cada uma delas fosse ocupada por três pessoas, em média, seriam necessárias nove unidades do prédio para abrigar as 31,9 mil pessoas que moram hoje nas ruas da capital paulista.
Nova York, maior cidade dos Estados Unidos, tem 8,8 milhões de habitantes e 45,4 mil pessoas em condição de rua. São Paulo, por sua vez, tem 12,4 milhões de habitantes e 31,9 mil moradores de rua. Isso significa que, proporcionalmente, a metrópole americana tem 51 moradores de rua para cada 10 mil habitantes; São Paulo tem 26 a cada 10 mil.
Fontes: Prefeitura de São Paulo; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Prefeitura de Nova York e Departamento do Censo dos Estados Unidos.