Um vídeo falso publicado nas redes sociais mostra um carro elétrico da polícia municipal de Montpellier, na França, sendo abastecido por um gerador. Na legenda, o responsável pelo post diz ser um gerador a diesel.
De acordo com a prefeitura de Montpellier, o veículo transporta equipamentos de rádio, vídeo e informática e dispõe de um espaço com balcão de recepção ao público. Quando o carro está estacionado, esses equipamentos podem funcionar alimentados por uma tomada externa ou com auxílio de um gerador que é movido a gasolina, não a diesel.
O carro é 100% elétrico e o gerador que aparece na imagem do post verificado é usado apenas para alimentar os equipamentos eletrônicos do veículo quando ele está parado.
A Renault, fabricante do carro, confirmou que o gerador não alimenta o motor do veículo.
No X, o conteúdo foi visualizado 437,4 mil vezes até o dia 22 de fevereiro e teve 4 mil compartilhamentos, além de 884 comentários e 18 mil curtidas.
Ao analisar o veículo que aparece no vídeo, identificamos pelos adesivos que ele pertence à Polícia Municipal da cidade de Montpellier. A partir disso, pesquisas no Google levaram a uma reportagem da imprensa local informando que o órgão havia adquirido unidades 100% elétricas que seriam empregadas como delegacias móveis. Mais informações sobre os equipamentos foram consultadas no site oficial da instituição e em um documento do órgão destinado à imprensa. Por fim, procuramos a prefeitura de Montpellier, a Renault na França e o autor do post aqui checado.
A França tem planos de reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 50% até 2030, em comparação com os níveis de 1990. Uma das iniciativas é diminuir o consumo de combustíveis fósseis na área de transporte, que representa mais de 30% das emissões. Para isso, o governo tem apostado, entre outras medidas, nos carros elétricos. Em 2024, por exemplo, foi criado um incentivo para popularizar esse modelo de veículo, subsidiando o valor do aluguel dele.
Assim, as frotas policiais do país também começaram a receber automóveis elétricos, caso da Polícia Municipal de Montpellier, no sul da França, que incluiu veículos do modelo que aparece no vídeo como delegacias móveis.
A energia que abastece os veículos é proveniente, principalmente, de usinas nucleares. Segundo a Rede de Transmissão de Eletricidade (RTE), operadora do sistema de transmissão de eletricidade da França, 67% da energia elétrica do país vem dessa fonte. Os combustíveis fósseis são responsáveis por 7% da energia. O país completa a matriz com 13% de energia hidráulica e outros 13% de novas fontes renováveis. O órgão mantém uma página onde monitora ao vivo a geração de energia por tipo de fonte.
De acordo com a prefeitura de Montpellier, o veículo transporta equipamentos de rádio, vídeo e informática e dispõe de um espaço com balcão de recepção ao público. Ao ser posicionado em um setor, ele pode trabalhar através de uma tomada externa ou em modo autônomo, através de um gerador.
Desenhos inseridos em um material de divulgação destinado à imprensa em 2021 apresentam o veículo. O conteúdo reforça que o motor dele é elétrico e que o posto móvel está equipado com baterias, internet, computadores, tablets, tomadas elétricas e um gerador.
O veículo é o modelo Master E-Tech 100% elétrico da Renault, que foi convertido em um posto de segurança móvel para a Polícia Municipal de Montpellier. Ao Comprova, o fabricante informou que em nenhuma circunstância o gerador que aparece no vídeo alimenta o motor do carro.
De acordo com a montadora, como se trata de um veículo de emergência, é essencial que ele tenha uma fonte de alimentação para equipamentos elétricos quando estiver parado. Assim, o gerador fornece energia apenas aos equipamentos eletrônicos do veículo (12V) quando ele não está em movimento.
Além disso, o gerador que é mostrado no vídeo é movido a gasolina, e não a diesel, como afirma o post no X. A Renault informou que ele pode ser substituído também por uma bateria reserva.
A assessoria de comunicação da prefeitura de Montpellier foi procurada, mas não retornou as tentativas de contato.
A reportagem enviou uma mensagem direta via X para a conta @Damadeferroofic, perfil conservador que defende pautas do Liberalismo e responsável pela publicação checada, mas não recebeu resposta até o momento.
Conteúdos falsos ou enganosos como o aqui checado desinformam sobre temas ambientais, como o aquecimento global, tentam descredibilizar medidas alternativas adotadas por países e alimentam teorias conspiratórias que negam a existência de uma crise climática, como, por exemplo, a de que líderes mundiais tentam se beneficiar a partir de iniciativas como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que pretende reduzir as emissões de gases do planeta.
Comentários no post exemplificam isso. Um usuário afirma que “essa agenda global seria cômica, se não fosse trágica!”, enquanto outro diz que “esse vídeo deveria ser o comercial da tal agenda 2030”. Um terceiro declara que “tem que ser muito trouxa pra acreditar em ESG”, referindo-se à sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), um conjunto de práticas adotadas por um negócio em busca de minimizar os impactos ambientais e sociais.
A desinformação sobre as mudanças climáticas é perigosa por sugerir que podemos continuar degradando o meio ambiente sem nos atentar para as consequências. Conteúdos desta natureza podem levar as pessoas a negar a discussão sobre os verdadeiros desafios climáticos. Além disso, também podem gerar menos interesse no apoio a políticas públicas, como, por exemplo, a necessidade de diminuição do consumo de combustíveis fósseis.
Informações sobre o assunto devem ser consultadas em fontes de qualidade, como relatórios científicos revisados por pares e com evidências sólidas e agências governamentais que monitoram e relatam informações sobre o clima. No Brasil, um exemplo é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.