A página interativa publicada na última semana pela piauí mostra como, desde o ano passado, Bolsonaro vem usando suas lives semanais com um propósito claro: desacreditar a eleição. Até 2021, o presidente quase nunca falava sobre urnas eletrônicas. Desde então, em uma a cada três lives, ele planta desconfiança sobre o sistema eleitoral. As menções de Bolsonaro às urnas e ao voto impresso superaram, na pandemia, as menções à vacina CoronaVac e ao Instituto Butantan. O STF, que era atacado em apenas 5% das lives até 2020, virou alvo em 54% delas nos últimos três anos. Também dispararam as menções a Lula, de longe o personagem mais citado nas transmissões. O =igualdades desta semana mostra os assuntos que dominaram e aqueles que sumiram das lives de Bolsonaro.
A análise das lives de Bolsonaro mostra que, desde o ano passado, o presidente vem numa escalada golpista. Das 94 lives que fez em 2019 e 2020, só em 4 (ou seja, em 5% delas) o presidente insinuou a ocorrência de fraude nas urnas, defendeu o voto impresso ou pediu “contagem pública” dos votos. De 2021 para cá, das 87 lives feitas por Bolsonaro, 31 plantam desconfiança sobre as eleições (ou seja, 36% delas).
Desde o começo da pandemia, o Supremo Tribunal Federal se tornou o principal alvo de ataques de Bolsonaro. Antes, o STF era criticado em só 5% das lives do presidente; depois, o índice subiu para 54%. Bolsonaro acusou o tribunal de não deixá-lo governar na pandemia. Mais tarde, passou a acusar ministros do STF, como Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, de conspirar para tirá-lo da Presidência.
Lula é o personagem mais citado nas lives de Bolsonaro. Foi mencionado pelo presidente em 56% delas – às vezes citado nominalmente, outras vezes por meio de referências indiretas como “barbudo”, “aquele cara”, “ladrão” e “ex-presidiário”. O segundo personagem mais citado por Bolsonaro nas lives é Paulo Guedes, que aparece em 51% delas.
A vacina CoronaVac e o Instituto Butantan, responsável por produzi-la, foram citadas por Bolsonaro em 13 lives durante a pandemia. A vacina foi um trunfo político do então governador de São Paulo João Doria, adversário de Bolsonaro. Já as urnas eletrônicas e o voto impresso foram citadas pelo presidente em 22 lives no mesmo período.
Contrário ao lockdown, Bolsonaro usa desde 2020 um bordão para criticar o que, segundo ele, diziam seus adversários: “Fica em casa, a economia a gente vê depois”. O presidente faz isso para jogar a culpa da crise econômica nos governadores, prefeitos e no STF. O bordão aparece em 51% das lives que Bolsonaro fez desde março de 2020.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, perdeu espaço nas lives de Bolsonaro. Até 2021, ele foi citado pelo presidente em 63% das transmissões. Desde então, o ministro foi lembrado em apenas 39% delas.
Os ataques à imprensa são constantes nas lives do presidente. Em 45% delas, ele atacou a TV Globo, o jornal O Globo ou o canal GloboNews. A Folha de S.Paulo, que desde 2018 é um alvo preferencial de Bolsonaro, foi atacada em 34% das lives.
Fonte: As lives do golpe (projeto especial da piauí). As 181 lives que Bolsonaro fez de 7 de março de 2019 a 8 de setembro de 2022 foram transcritas e analisadas com auxílio do PinPoint, ferramenta de inteligência artificial do Google.