Na comunidade quilombola Saco-Curtume, em São João do Piauí, a cerca de 450 km de Teresina, os moradores estavam erguendo uma área de lazer, com um bar e duas piscinas de pedra. Um dia, alguém notou que uma das paredes parecia torta. Resolveram então perguntar a Nêgo Bispo, que financiava a obra, se deviam refazer a parede. “Para quê?”, ele respondeu. “Por que tudo tem que ser linear? Isso aqui é o saber orgânico.”
Quem contou o episódio foi Joana Maria de Oliveira, filha de Nêgo Bispo, durante o velório do ativista, pensador e escritor quilombola. Naquele dia 4 de dezembro, segunda-feira, histórias como essa circulavam entre parentes, vizinhos e cerca de duzentas pessoas que haviam acorrido a Saco-Curtume para se despedir desse homem de grande influência no movimento negro e nos movimentos sociais em geral.
Na edição de janeiro da piauí, a jornalista Samária Andrade dá adeus ao pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo. Ele morreu aos 63 anos, vítima de duas paradas cardiorrespiratórias, no dia 3 de dezembro. Era natural de Francinópolis, também no Piauí, e foi a primeira pessoa de sua família a ser alfabetizada e concluir o ensino fundamental. Trabalhou na lavoura, participou do movimento sindical e ligou-se ao PT. Foi diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-PI). No fim dos anos 1990, desligou-se da federação, desfiliou-se do partido e disse à família: “Eu vou pro quilombo, quem quiser ir comigo, venha.”
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