A imagem reproduzida nessa página registra um encontro raro ocorrido em 1945 entre Pablo Neruda, Jorge Amado e Luiz Carlos Prestes. A foto é também notável por trazer a assinatura dos três. A reunião foi organizada na casa do cunhado de Prestes, em virtude da admiração de Neruda e Amado pelo principal líder comunista brasileiro, de quem o escritor baiano havia publicado em 1942 uma biografia, intitulada .
Neruda era militante comunista e viera ao Brasil para um comício em homenagem a Prestes no estádio do Pacaembu, ocasião em que leu seu famoso poema que lhe é dedicado. Jorge Amado, também militante, seria eleito deputado na Assembleia Constituinte no ano seguinte. Este encontro anterior ao comício ocorreu na sala burguesa da irmã de Prestes, em meio a familiares do líder do Partido Comunista Brasileiro. Reconhece-se na foto, à direita, sentada na quina do sofá ao lado de seu marido Jorge, a jovem Zélia Gattai. Neruda está apertado no sofá, à direita do anfitrião, com Prestes à esquerda.
Dias mais tarde, alguém tomou a iniciativa de reunir as três assinaturas, uma vez a foto revelada. A de Jorge Amado, em tinta vermelha, está embaixo à esquerda, numa parte escura da imagem, enquanto Neruda e Prestes assinaram em cima, no fundo claro, em tintas verde e azul.
Naturalmente, é a reunião incomum dessas três assinaturas numa mesma fotografia que torna essa peça particularmente interessante. Mas a própria imagem, pouco conhecida, tem o poder de evocar o momento de auge de uma profunda convicção ideológica, compartilhada por muitos intelectuais de todo o mundo, que ainda viam Stalin como herói da democracia, após a derrota de Hitler.
1945 é também o inicio do breve intervalo em que o Partido Comunista teve existência legal no Brasil, elegendo Prestes como senador em 1946 e participando da Assembleia Constituinte. Pouco depois, em 1948, o registro do partido foi cassado e Prestes voltou a uma semi-clandestinidade.