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Netos de Erasmo

Zelia Duncan | 06 jul 2011_12h06
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foto: Maíra Cassel

Show de Erasmo Carlos é sempre uma super pedida. No Municipal do Rio, comemorando 50 anos de carreira, é algo que, se possível, não se deve mesmo perder de jeito nenhum. Então, não perdi. A platéia, com um sorriso no rosto antes do show, já era prenúncio de que todos saíram de casa convictos da importância daquela data.

Erasmo é um cara grandão, bonachão e cheiroso. Falo porque tive a honra de cantar com ele certa vez e o cara, até nisso, capricha. Erasmo é o irmão do Rei, ora essa, o “good bad boy ” da dupla. O roqueiro que adentra o palco com seu casaco de couro, sua calça jeans e diz que “rock é amor”. Ele e o Rei Roberto cantaram “É Preciso Saber Viver” e, enquanto cantam e choram, fazem todo mundo cantar e chorar com eles. Deve ser porque as canções falam tanto de nós mesmos, que é como se todo mundo ali, do palco à plateia, completasse 50 anos de carreira junto com eles. Eles são cada um de nós lutando pela própria vida. “É preciso ter cuidado, pra mais tarde não sofrer…” como é bom cantar isso com uma pequena multidão de sobreviventes e se sentir um deles!

E como dizem que o diabo é diabo porque é velho, o Tremendão, experiente que é, convocou uma banda interessante, que executou de forma refrescante e criativa as antigas canções. Escolha inteligente e sábia, fazendo soar arranjos que não tinham o desejo bobo de apenas serem forçadamente diferentes, mas sim de somar surpresas ao que já existe e, teoricamente, se basta.

Zé Lourenço, músico de várias vertentes, assinou a direção musical. Dadi, com sua jovialidade persistente, tocando uma bela guitarra melódica , Billy Brandão, com solos bem colocados, de extremo bom gosto e finalmente, o trio Filhos da Judith, grande sacada da formação. Eles são uma banda de garagem e o que se diz deles é que são “fundadores do movimento , que une de forma homogênea o passado e o futuro”…hum, definição completamente pré-pós-tuo-bossa-band, sei lá mil coisas…

Sério, os meninos são muito bons, dêem o nome que quiserem. No palco de Erasmo eles fazem de tudo e emprestam juventude no melhor sentido ao som e aos outros feras com quem dividem a ribalta. Pedro Dias (baixo e vocais) e Luiz Lopes (violão, guitarra e vocais), são irmãos, têm visual retrô e certamente são influenciadíssimos pelos anos 60 em todos os sentidos. Daí a delicia que deve ter sido pra eles estarem com Erasmo e seu legado histórico em pleno Municipal. Arrasam nos vocais, seguríssimos nos rifes. O terceiro integrante, o batera Alan Fontenelle, mal posicionado espacialmente, pois nem podíamos vê-lo, se mostra por inteiro na “cozinha” do som (que é como chamamos baixo e batera). Os meninos, num certo aspecto, são netos de Erasmo. O vovô mais orgulhoso que já se viu!

Como banda, eles soam bem vintage também. Um pouco Rockabilly, a clara devoção aos Beatles e até um sotaque Mutantes vez em quando, embora o discurso seja bem ingênuo. São músicos muito, muito bons no que fazem e cantam com competência. Não à toa, chamaram a atenção de Liminha, produtor da pesada e eterno ex-baixista da banda de Rita ,Sérgio e Arnaldo.

Intriga também o fato de serem uma banda carioca, que usa calça skinny, botas pretas, terninho cinturado, gravatinha, prontos para serem underground em Porto Alegre ou São Paulo. Nananão, eles são daqui. Agora, se frequentam ou não a praia de Ipanema, já é outra história!

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