Nesta segunda-feira, 29 de julho, a TV Cultura exibirá, pela primeira vez, duas edições seguidas do tradicional programa de entrevistas da emissora. Às 22h, horário normal do Roda Viva, está prevista a veiculação de uma edição com o economista Bernard Appy. Na sequência, à meia-noite, vai ao ar uma entrevista com o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo demitido em junho pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
As duas entrevistas foram feitas na última terça-feira, dia 23. O programa com Appy, autor de uma proposta de reforma tributária em discussão no Congresso, foi gravado em um cenário provisório, comandado por Aldo Quiroga.
Já a edição com Santos Cruz é a despedida do jornalista Ricardo Lessa do comando do Roda Viva. Estavam na bancada jornalistas como Lourival Sant’Anna, Maria Cristina Fernandes (Valor Econômico), Daniel Bramatti (O Estado de S. Paulo) e Ricardo Gandour (rádio CBN).
Segundo jornalistas da casa, a direção da TV Cultura sinalizou que não exibiria a entrevista com Santos Cruz, mas Lessa insistiu. No programa da semana passada, com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, o âncora anunciou três vezes a entrevista com Santos Cruz. A emissora, então, resolveu encaixá-la na grade em horário de menor audiência.
Segundo a emissora, o critério adotado foi jornalístico. Vai ao ar mais cedo “aquele programa cujo tema é mais quente”, afirmou, em nota. “Como a reforma tributária deve entrar em pauta no Congresso em breve, tornando-se um assunto prioritário em todo o país, a entrevista com o economista Bernard Appy vai ao ar primeiro. Logo em seguida, será exibida a entrevista com o general Carlos Alberto Santos Cruz.”
É a primeira vez que ocorre uma exibição em sequência nesses moldes, informou a Cultura. Durante o período de campanha eleitoral, o Roda Viva dividiu seu horário normal em dois blocos para exibir entrevistas com os dois adversários na disputa pelo governo paulista no segundo turno, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB). Também o fez com os dois senadores eleitos por São Paulo, Major Olímpio (PSL) e Mara Gabrilli (PSDB).
Eleito governador, Doria anunciou em maio mudanças na emissora com o objetivo de, nas suas palavras, modernizá-la. “Nossa intenção é ampliar a participação do setor privado no apoio à programação tanto da tevê como da Rádio Cultura”, afirmou o governador. Ele mencionou “a venda de produtos da TV Cultura no mercado nacional e internacional, a utilização de marcas e produtos, o franchising, a licença de uso da marca e a receita advinda disso para a Fundação Padre Anchieta e caminhos modernizadores para a TV Cultura”.
A emissora historicamente investiu em conteúdo educativo, a despeito dos resultados de audiência. “Se possível, vamos incentivar a produção infantil, sabendo que ela não tem resultado comercial”, disse o jornalista José Roberto Maluf, que assumiu a presidência da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura vinculada à Secretaria de Estado da Cultura.
Doria foi apresentador de televisão, tendo comandado atrações como Show Business, na TV Bandeirantes, e O Aprendiz, na Record. Foi na primeira emissora que conheceu Maluf. “Acumulei 34 anos de televisão e de rádio também, sou um grande entusiasta do rádio. Modéstia à parte [tenho] algum conhecimento”, disse na entrevista que convocou para anunciar as mudanças na emissora.
Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Santos Cruz, na entrevista, não descartou entrar para a política. O ex-ministro também afirmou, segundo o colunista, que a desigualdade no Brasil é pior que no Congo e no Haiti, países em que comandou missões de paz.
Santos Cruz foi demitido depois de semanas de desgaste no governo. Ele entrou em atrito com um dos filhos do presidente Bolsonaro, o vereador Carlos, e o guru da família Olavo de Carvalho, que fez ataques ferozes ao ministro nas redes sociais.