Pandemia, meses de isolamento social e uma decisão do Supremo Tribunal Federal para restringir operações policiais nesse período. Tudo apontava para uma redução dos índices criminais, incluindo o de mortes por intervenção de agentes do estado. Isso de fato ocorreu: o total de mortos pela polícia no Rio em 2020 caiu 32% em relação a 2019. Ainda assim, o ano terminou como o terceiro de maior letalidade policial da década e o quarto desde que o Rio começou a contabilizar esses dados, em 2003. Foram 1.239 mortos por policiais em 2020, atrás apenas de 2019 (1.814 casos) e 2018 (1.534 casos). O início do ano também é o mais letal da série histórica: foram 744 mortes desse tipo de janeiro a maio.
A decisão liminar do ministro Edson Fachin, que começou a vigorar no início de junho, restringiu as ações policiais apenas aos casos excepcionais. O reflexo no número total de mortos por policiais no estado foi imediato: de 130 em maio, o indicador caiu a 34 no mês seguinte, uma redução de 74%. Julho, agosto e setembro mantiveram uma média de 51 mortes desse tipo.
Em outubro, porém, segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), as reorientações políticas no comando da segurança do estado fizeram o número de operações na Região Metropolitana dobrar em relação ao mês anterior (de 19 para 38 ações policiais), mesmo com a decisão do STF ainda vigente. O número total de mortos policiais no estado verificado pelo ISP, em operações ou não, seguiu a tendência e triplicou: foi de 54 em setembro a 145 em outubro, um patamar mais alto até que maio, antes da liminar (130 mortes).
Fontes: Instituto de Segurança Pública (ISP) e Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF)