Nos bastidores das grandes bancas de advocacia, os casos mais ruidosos costumam vir acompanhados de um nome: Walfrido Warde. Aos 50 anos, o advogado paulista de ascensão repentina está envolvido nos principais contenciosos do país e levou para a advocacia de São Paulo a prática brasiliense de ter como sócios em seu escritório pessoas egressas de tribunais, de autarquias e do governo federal – o que não é ilegal, mas sugere que os sócios abram mais portas do que as teses jurídicas.
Para alguns, os métodos do advogado costumam ser desleais, como o de notificar criminalmente o outro lado, mesmo quando se trata de um processo civil empresarial. A tática sobe o tom da briga e força o adversário a fazer um acordo. Por esses e outros, há colegas que se referem a Warde com um trocadilho infame: “cowarde”.
O impulso à carreira de Warde se fez nos últimos dez anos graças a três premissas: advocacia agressiva, defesa do lobby e crítica à penalização de empresas envolvidas em corrupção. Em dois livros, lançados entre 2015 e 2018, fez a defesa do lobby e das empresas, com um enfoque que ganhou a simpatia dos críticos da Lava Jato. Com isso, seu escritório atraiu como sócios ex-procuradores, ex-desembargadores, ex-juízes e ex-membros do alto escalão do Executivo.
A Lava Jato tornou Warde conhecido no meio penal, mas foi na briga empresarial que ele chamou a atenção. Os clientes começaram a se avolumar, vindos de todas as direções. Ele advogou para o doleiro Lúcio Funaro, para a ex-presidente Dilma, para o empresário José Seripieri Filho, o bilionário dono da Amil, para mamutes empresariais, como a J&F, holding dos irmãos Batista, para CSN, a maior siderúrgica do país, e para o Bradesco, em seu contencioso contra as Lojas Americanas.
Nos últimos anos, não há briga entre gigantes da qual Warde não tenha tomado parte – em geral, valendo-se de expedientes heterodoxos. Ele costuma atribuir o sucesso de seu escritório a uma conduta de “fazer de tudo para ganhar” e “saber se comunicar”. Nesse receituário, não entra apenas advocacia, mas também a criação de um instituto que emula preceitos do lobby, um programa de entrevistas no YouTube e a estratégia de influenciar a política nacional por meio de ações no STF.
Com a derrocada da Lava Jato e a soltura de Lula, em 2019, as forças políticas se reorganizaram à esquerda e Warde foi junto. Estreitou laços inclusive com o Psol de Guilherme Boulos, seu amigo, e aproximou-se do novo grupo de poder. Recentemente, seu escritório apresentou uma ação em nome do Psol destinada a bloquear o repasse de emendas do orçamento. Na ação, destacou a delinquência dos parlamentares no uso do dinheiro público em benefício próprio. Flávio Dino, ministro do STF, acatou a ação e provocou um pandemônio no Congresso.
Com o sucesso, Warde trocou os ternos azuis de microfibra dos tempos bicudos por modelos bem cortados. Passou a usar sapatos italianos e óculos de silhueta geométrica e grossa, seguindo a tendência. Adotou o uso de lenço de seda no bolso do blazer, uma escolha com poucos adeptos na advocacia. O conjunto lhe confere um ar meio excêntrico, que os maldosos julgam ser produto de uma consultoria de imagem para criar “fama de mau”. Em uma rede social, Warde sugeriu que seu novo estilo segue a estética de O poderoso chefão.
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