O assassinato de Leon Trotsky no México, em 1940, fixou na mente de muitos o exílio final de três anos do líder da Revolução Russa. Outros lembram também que o velho Trotsky, sua mulher e netos foram acolhidos pelo famoso pintor mexicano Diego Rivera, militante comunista, e sua mulher, Frida Kahlo. O que é menos sabido é que Trotsky e Frida tiveram um romance que durou quase um ano e havia recém terminado quando Rivera o descobriu.
Muitos dos biógrafos de Trotsky consideraram o desentendimento com o pintor mexicano de ordem sobretudo política. Mas o autor da mais recente biografia de Rivera, Patrick Marnham, argumenta convincentemente que os motivos foram mais pessoais: “Em outubro de 1938 Frida havia deixado o México para uma viagem de seis meses a Nova Iorque e Paris. Logo após sua partida, Rivera descobriu que fora amante de Trotsky. Decidiu calar-se publicamente, mas resolveu também cortar os laços com o revolucionário russo e fabricou um “desacordo político” que deixou Trotsky muito surpreso, pois recusava-se a entendê-lo como uma consequência de seu caso de um ano com Frida”.
A carta reproduzida nesta página data ainda de julho de 1937, no auge do affair. Trotsky se comunicava com sua amante em francês ou num inglês aproximativo. Reclama de correspondência extraviada e avisa-lhe que é prudente mandar suas mensagens “por meio de dois ou três intermediários”, pois “nada é seguro”. O resto da carta é bastante inócuo: Trotsky desculpa-se por usar duas tintas diferentes, pede notícias da irmã de Frida, manda lembranças para D.D. (Don Diego, como se referia a Rivera) e termina observando: “chove, chove”.
Esta carta é um dos raros testemunhos do inesperado romance do velho revolucionário russo com a mítica pintora surrealista mexicana, 28 anos mais moça. Ressurgiu num leilão dos Estados Unidos há cerca de quinze anos, quando foi adquirida por seu atual detentor.