Uma galinha, de 1952, é um dos contos mais conhecidos de Clarice Lispector, o favorito de muitos de seus pares e amigos, como Rubem Fonseca. Vinte e cinco anos depois de publicado na coletânea Alguns Contos, já era um clássico.
O escritor cearense Renard Perez pede à escritora a autorização para incluir seu conto numa antologia japonesa, da qual ele também faria parte. Clarice, já doente, nem se dá ao trabalho de pegar uma folha em branco para responder e escreve sua autorização nas próprias margens da carta de Perez:
“Renard, dou licença de publicar Uma galinha. Peço-lhe o grande favor de transmitir a quem de direito o meu consentimento. Este ano não foi bom para nós todos, não é? Você que o diga. Lamento tanto o que lhe aconteceu. Abraços de Clarice. Meu telefone 2750255.” A biografia de Perez não foi suficientemente trabalhada para que se identifique o evento a que Clarice se refere quando lhe hipoteca sua solidariedade.
A carta deve ter sido respondida por volta de 10 de outubro de 1977. Clarice morreria em 9 de dezembro. Sua impressão de que o ano não fora bom nem para ela nem para seu correspondente teria, portanto, uma confirmação extrema pouco tempo depois.
As cartas da escritora são raras, só dirigidas à família ou a seus correspondentes contumazes. Renard Perez morreu em agosto de 2015, aos 87 anos, mas duas décadas antes já havia oferecido o manuscrito a um colecionador.