Quadra do Salgueiro, escolha do samba-enredo de 2017, um dos momentos mais importantes do universo das escolas de samba nos meses que antecedem o desfile. No palco, um diretor pega o microfone e anuncia: “Convoco a família salgueirense a votar Crivella 10 nessas eleições.” É madrugada do dia 12 de outubro de 2016, feriado de Nossa Senhora Aparecida – cuja imagem, vinte e um anos antes, foi chutada em frente às câmeras de televisão por um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Crivella é expoente-mor. Localizada na confluência entre Tijuca e Andaraí, na Zona Norte do Rio, a quadra é uma das mais frequentadas pela classe média de alto poder aquisitivo. A três semanas do segundo turno da eleição para prefeito do Rio de Janeiro, abafados por vaias, ouviam-se gritos de “Freixo”, em alusão ao candidato do PSOL – que estava em segundo lugar nas pesquisas. Constrangido, o diretor tentou amenizar o clima: “As pessoas são livres para votar em quem quiserem.”
Na letra do samba-enredo escolhido, expressões como “profana liberdade”, “infernal felicidade”, “gostoso veneno” e “me embriagar” não combinavam com o passado de Crivella – um homem público que construiu carreira política fincado em um tipo de protestantismo neopentecostal que se expande velozmente no Brasil empunhando bandeiras contra o Carnaval e contra os segmentos nele presentes de modo significativo: LGBTs, religiões de matriz africana, apostadores e controladores de jogos de azar. O descompasso ideológico era equivalente ao pragmatismo dos dirigentes das escolas de samba, cujos interesses privados se sobressaem nas negociações com o poder público. Desde o início da campanha, os bicheiros tinham um candidato: Pedro Paulo, do PMDB, herdeiro político do então prefeito Eduardo Paes, do mesmo partido, que tomou uma surra no primeiro turno sobretudo depois que se soube das denúncias de violência doméstica. Para os donos do Carnaval restaram dois Marcelos: o pastor evangélico e o jovem político de ideias socialistas. A opção por Crivella foi óbvia. E sua posterior vitória, um alívio. Se Freixo tivesse ganho, o status quo do Carnaval carioca estava ameaçado.
Na campanha do segundo turno, Marcelo Freixo e Marcelo Crivella encontraram-se com representantes do Carnaval. Falaram, a públicos distintos, o que eles queriam ouvir. Freixo congregou jornalistas, pesquisadores, representantes de blocos – boa parte identificada ideologicamente com os ideais do partido. Em resposta à acusação de Crivella, Freixo frisou que não queria acabar com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e manteve a promessa de aumentar a participação do poder público para garantir maior presença popular. Daí que uma de suas propostas tenha sido a criação da Subsecretaria Municipal do Carnaval, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura.
Dirigentes das principais escolas de samba do Grupo Especial, da Liesa e de escolas menores abriram alas para Crivella. Foram dois os encontros com o bispo. Num deles, no comitê de campanha do candidato, ao lado da sede da Rede Record, em Benfica, produziu-se uma cena inesquecível, constrangedora: Crivella entoou, tendo-os ao seu lado, o refrão “O-lê-lê/O-lá-lá/pega no Ganzê/pega no Ganzá”, do Salgueiro de 1971. E disse partilhar com eles dos mesmos princípios: “Nós e vocês temos os mesmos sonhos e os mesmos princípios. Agradeço ao Freixo. Foi ele quem abriu as portas de minha candidatura para vocês. O Freixo fala que quer acabar com a Liesa. Vai ter que mudar o estatuto da Liga para evitar que a destruam. Gostaria que minha candidatura marcasse a fase contra a intolerância. O candidato não é o missionário ou o bispo.”
Não foi à toa que o Salgueiro, de forma explícita, transformou sua quadra em palanque para Crivella. As relações entre a escola e Freixo já não eram boas desde a eleição de 2012, em que ele saiu derrotado no primeiro turno para Eduardo Paes. Freixo atacara, em entrevista à Rede Globo, o enredo do Salgueiro para 2013, que recebera patrocínio da revista Caras. “Que sentido faz a Prefeitura patrocinar um enredo sobre a Ilha de Caras?”, perguntou, para sugerir que era necessário debater a relevância cultural dos enredos patrocinados. Jorge Castanheira, presidente da Liesa desde 2007, disse à época que o Carnaval não poderia correr o risco de aventuras.
Castanheira está na Liesa desde a sua fundação, nos anos 80, ocupou vários cargos até que, em meados dos anos 90, com os contraventores encarcerados pela sentença da juíza Denise Frossard, tornou-se o mais jovem presidente da entidade. Saiu por um período e retornou em 2001, como vice-presidente de Ailton Guimarães Jorge, o “Capitão Guimarães”, de quem é braço direito. “Jorginho é o meu candidato”, disse Guimarães aos presidentes das escolas, durante reunião na Liesa, chamada de plenária, semanas antes de uma eleição, no início dos anos 2010. Era a senha para que eles votassem, mais uma vez, pela reeleição de Castanheira, que é chamado pelos mais íntimos pelo primeiro nome no diminutivo. Em 2007, com a Operação Furacão, que desbaratou o esquema que envolvia magistrados, advogados, policiais e empresários com a máfia dos caça-níqueis, Capitão Guimarães foi preso, e novamente Castanheira voltou à Presidência. Ele pouco lembra o perfil antropomórfico, algo folclórico, de contraventor: articulado, discreto, veste-se com elegância, dispensa adereços como relógio, cordões e pulseiras de ouro. “Jorginho foi criado para ser limpo”, disse-me uma pessoa próxima a ele, sob a condição de anonimato. “Ele não é contraventor.” Castanheira esteve no encontro com Crivella. E, em parte pelo seu perfil, em parte por talvez duvidar da palavra do candidato, ficou de semblante sério na cena do “Pega no Ganzê”. Passou longe de Freixo – e não seria bem-vindo pela militância presente.
A Liesa foi criada em 1984, três meses depois do Carnaval que inaugurou o Sambódromo, no início do primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1987) no estado do Rio, quando o prefeito da cidade – na ocasião, Marcello Alencar – era indicado pelo governador. Paulatinamente, no período que coincide com a eleição direta para a Prefeitura do Rio, a Liesa passou a acumular a representação das escolas com a organização e a execução do evento, assumindo prerrogativas que cabiam à Riotur, empresa vinculada à Secretaria de Turismo. No livro O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos de Sambódromo, de Luiz Carlos Prestes Filho, há o relato de como a Liesa, sob a Presidência de Aniz Abraão David, conhecido como Anísio, pressionou o então prefeito Roberto Saturnino Braga – o primeiro eleito democraticamente, em 1985 – para obter, já no ano seguinte, parte da receita proveniente com o desfile. “O prefeito disse que estávamos realizando uma prestação de serviços, como se fôssemos um bloco. Fiquei revoltado, pedi para ele entender que as escolas fazem algo diferente: realizamos um espetáculo e avisei que ia pedir para nenhuma agremiação assinar o contrato com a Prefeitura, e que queríamos uma participação nas receitas. Se o futebol tinha, porque nós não poderíamos ter? Quando percebi que ele estava irredutível, afirmei: ‘prefeito, eu não estou aqui vendendo crioulo, estou defendendo os artistas e as comunidades que realizam o espetáculo do Carnaval, trabalho para os sambistas’”, lembrou Anísio, em depoimento reproduzido pelo autor. Saturnino Braga cedeu, e de início propôs o valor de 20%; Anísio queria mais e conseguiu: a Liesa ficou com 33%.
Lançado em dezembro de 2015, o livro traz na capa quatro contraventores: Anísio, Capitão Guimarães, Luizinho Drummond e Carlinhos Maracanã. Atribui-se a eles a transformação do desfile em espetáculo. Prestes Filho foi o responsável por levar as escolas a reunir-se com Crivella em Benfica. Por 13 carnavais, dos nove aos 24 anos, o sétimo dos dez filhos do líder comunista Luiz Carlos Prestes passou na fria Rússia, exilado que sua família estava da ditadura militar. Estudou no Instituto Estatal de Cinema da União Soviética, onde se formou na cadeira de “Direção e produção de filmes, televisão e cinema”. De volta ao Brasil nos estertores da ditadura, em 1983, Prestes Filhos, hoje com 57 anos, dedica-se a estudar a produção cultural sob o prisma econômico. Publicou A Cadeia Produtiva da Economia da Música e A Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval. Está preparando A Cadeia Produtiva da Economia dos Jogos. Em novembro de 2015, visitou o Congresso Nacional e entregou a parlamentares material sobre o assunto. A legalização dos jogos é um tema que vai ao encontro dos interesses dos contraventores. Ainda no primeiro turno da campanha de 2016, gravou um vídeo em apoio a Crivella com a seguinte mensagem: “Querem reduzir a verba para o maior evento cultural do mundo que é o Carnaval. Nós temos de votar em Crivella porque ele disse: ‘O Carnaval de 2017, o primeiro como prefeito, vai ser um dos maiores carnavais de todos os tempos.’ A economia do Carnaval é muito importante para a nossa cidade.” O vídeo ainda está disponível numa rede social. Seu apoio a Crivella fez membros da família Prestes lançar um manifesto em defesa de Freixo.
Outro marco simbólico da conquista de espaço pela Liesa ocorreu no ano de 1987. A responsabilidade pela escolha dos julgadores, um ponto sempre sensível e polêmico, passou à entidade fundada e até hoje é controlada pela contravenção. Foi um desastre. O resultado desagradou até a surpreendente campeã Mangueira, a ponto de seu presidente, Carlos Alberto Dória, declarar, logo após o resultado, que desejava que a escolha dos jurados voltasse à Riotur, e ameaçar abandonar a Liesa. Dória foi assassinado em outubro daquele ano, e o crime nunca foi esclarecido.
A Prefeitura ainda era comandada por Saturnino Braga, e a Câmara dos Vereadores esboçou reação à investida da contravenção. Em maio de 1988, aprovou projeto de estatização do Carnaval carioca, pela qual a administração do Carnaval passava inteiramente à Prefeitura, o que significava, também, tirar da Liesa o poder de negociar os direitos de transmissão de tevê. O autor do projeto, vereador Maurício Azedo, justificou-o sob a alegação de que era a única maneira de resgatar a imagem da Prefeitura, manchada pelo monopólio dos bicheiros sobre o Carnaval. A Liesa ameaçou não realizar o desfile. E foi além: como haveria eleição municipal em novembro, escolas de samba afixaram em suas quadras a relação dos 12 vereadores que foram favoráveis ao projeto. Com uma tarja negra, a lista pedia aos componentes que não votassem neles. Um dos 12 vereadores foi o ex-jornalista Sérgio Cabral, consagrado estudioso da música e da cultura popular brasileira, cuja obra e reputação estão hoje ofuscadas pelas estripulias do filho, ex-governador do Rio, condenado e cumprindo pena pela Operação Lava Jato. Dois anos depois, Sérgio Cabral, pai – que em suas obras sempre foi um crítico da presença dos bicheiros nas escolas de samba – acabou afastado das transmissões da extinta Rede Manchete a pedido de Capitão Guimarães. O projeto foi sancionado por Saturnino; porém, três meses depois, ele decretou falência da Prefeitura, numa das mais graves crises financeiras da cidade, e o confronto que se prenunciava não aconteceu.
No primeiro mandato de Cesar Maia (1993-1996), a Prefeitura cedeu totalmente à Liesa a administração dos desfiles no Sambódromo. Entre os dois mandatos posteriores (2001-2004 e 2005-2008), o pai de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, desembolsou 102 milhões de reais dos cofres municipais para construir a Cidade do Samba, e nela viu, como deferência, seu busto erguido logo na entrada principal. Inaugurada oficialmente em fevereiro de 2006, o espaço solucionou o problema do local para a preparação do Carnaval pelas principais escolas de samba. Num terreno que pertencia à Rede Ferroviária Federal, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, ergueram-se 14 galpões com sete mil metros quadrados e 19 metros de altura cada um. Foi nesse período que estourou uma das maiores tensões no Carnaval: a Operação Furacão. Na casa de Júlio Guimarães Sobreira, sobrinho de Capitão Guimarães, foram encontrados 9 milhões de reais dentro de uma câmara secreta. Ele era o coordenador dos jurados do Grupo Especial. Em entrevista ao Fantástico, o delegado Emanuel Henrique Oliveira, da Polícia Federal, disse haver indício de que o resultado do Carnaval de 2007, vencido pela Beija-Flor, fora comprado. Baseou-se ele em escutas telefônicas. Uma CPI na Câmara dos Vereadores foi instalada. A denúncia não foi comprovada, mas o relatório da comissão questionou a relação entre o poder público e a Liesa e pediu mais transparência na escolha dos jurados.
O peemedebista Eduardo Paes, que lhe sucedeu, foi o prefeito-sambista. No início de seu mandato, como consequência da Operação Furacão, teve de abrir licitação para escolher a empresa organizadora do Carnaval. Não houve concorrente – e, nos bastidores, comentava-se que, se houvesse e fosse vencedora, teria muita dificuldade para acertar-se com as escolas de samba. A Liesa não perdeu o posto. Declarado torcedor da Portela, em cuja bateria chegou a desfilar tocando agogô, Paes dobrou a subvenção municipal, de 12 para 24 milhões, quando as contas do governo estadual, que contribuía com metade do valor, começaram a dar sinais de colapso. Foi esse o valor que Crivella prometeu manter ou até aumentar, se fosse possível.
Pelo programa de governo de Freixo, a Subsecretaria Municipal do Carnaval assumiria “a organização do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, privilegiando os valores culturais e garantindo a correta gestão dos recursos públicos destinados às agremiações”. O candidato do PSOL previa também “recuperar o projeto original do Sambódromo”, com o uso das frisas, ou um lado delas, como uma grande “geral”, com preços populares. Isso significaria queda de receita, uma vez que as frisas são os setores mais caros do Sambódromo, depois dos camarotes. A possibilidade de dirigismo cultural nos enredos não sofreu mudança, não obstante a polêmica de 2012, uma vez que uma das propostas é “condicionar a subvenção pública às escolas de samba à relevância cultural dos enredos, buscando a gestão criteriosa de recursos para que as escolas não se tornem canais de propaganda: caso uma agremiação opte por retratar uma marca comercial, propomos que a mesma não receba verba pública, mas tenha garantido seu direito de desfilar utilizando-se de verba privada”.
O programa de Freixo para o Carnaval tinha nove itens. O de Crivella, só um: “Manter o apoio da Prefeitura aos desfiles das Escolas de Samba e democratizar o patrocínio aos blocos de rua, dando mais autonomia para captação de recursos por parte dos mesmos e estabelecendo parcerias com as associações de blocos para que os desfiles transcorram com a segurança e a infraestrutura necessárias (banheiros químicos, presença da Guarda Municipal, da Comlurb e de operadores de trânsito).” O apoio aos blocos não lhe trouxe vantagens eleitorais. Muitos deles declararam apoio a Freixo. Responsáveis pela revitalização do Carnaval de rua nas últimas duas décadas, num movimento que se alastra por São Paulo e Belo Horizonte, os blocos estão concentrados no Centro e na Zona Sul – e foi nesta região que Freixo teve seu melhor desempenho no segundo turno.
Na noite de 30 de outubro, quando o resultado da apuração o tornou prefeito, Crivella comemorou com assessores na sede do Bangu Atlético Clube. Agradeceu à Igreja Católica, aos candomblecistas, aos umbandistas e “aos que não têm religião.” E rezou um Pai-Nosso, antes que a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel o saudasse estrondosamente. Eleito, Crivella nomeou Nilcemar Nogueira para a Secretaria de Cultura. Militante da agenda da diversidade, ex-dirigente da Mangueira, neta de Dona Zica, com quem Cartola foi casado, Nilcemar – uma das herdeiras da obra do autor de As Rosas Não Falam e O Mundo É um Moinho – parecia a contrapartida ao apoio da cúpula das escolas, e sua nomeação foi saudada como sinal de compromisso de Crivella com segmentos que, durante a campanha, foram contrapostos ao seu passado como missionário da Igreja Universal. (O Globo publicou uma série de reportagens sobre o livro lançado em 1999, em língua inglesa, com relatos de sua experiência na África. No livro, Crivella ataca a homossexualidade e diversas religiões, incluindo a Católica, pelo que teve de pedir desculpas). A Secretaria de Cultura, no entanto, não tem ingerência sobre a organização do Carnaval.
Os sonhos e princípios que uniam, na campanha eleitoral, o Carnaval e os evangélicos começaram a mostrar-se diferentes na Sexta-Feira Gorda. Crivella não foi ao Sambódromo fazer a abertura oficial do Carnaval, o seu primeiro como prefeito. Nem avisou a quem por ele esperava. Nesse dia, postou um vídeo em que visita uma obra. “A gente não sabe sambar, mas sabe trabalhar”, dizia a legenda. Tampouco deu as caras domingo e segunda, dias em que as principais escolas desfilam. Coube a Nilcemar representá-lo. Ao contrário da fala de Prestes Filho, o Carnaval de 2017 não foi o melhor de todos os tempos – bem ao contrário, pode ser enquadrado como o pior da história no que toca à organização.
Dois graves acidentes com carros alegóricos, um em cada dia, deixaram mais de trinta feridos. O mais grave foi logo na abertura. Uma das vítimas, esmagada contra as grades, morreu depois de dois meses internada. No calor do acontecimento, um diretor da Liesa insinuou que a culpa era das vítimas, por estarem na pista atrapalhando a evolução das escolas. Crivella recebeu críticas de jornalistas por não estar presente ao Sambódromo. “Não fui porque no meu caso seria demagogia. E os malefícios da demagogia na vida pública são extensos”, disse ele, por meio de nota oficial, na Quarta-feira de Cinzas. Antes, visitara as vítimas no hospital.
Por pressão de Anísio Abraão David, rasgou-se o regulamento: nenhuma escola seria rebaixada. Tudo foi creditado, pela Liesa, a uma fatalidade, que eximiu duas escolas de responsabilidade. Como se não bastasse tamanho problema, a Liesa teve de declarar uma segunda escola de samba campeã no início de abril. Um jurado teria sido induzido a erro por falha de comunicação da própria Liesa. Por pressão de Capitão Guimarães, a maioria dos presidentes aceitou que a Portela dividisse o título com a Mocidade – escola comandada por Rogério Andrade, sobrinho de Castor de Andrade, velho capo da contravenção, morto em 1997. Jorge Castanheira era contra as duas decisões.
Recentemente, soube-se que a Prefeitura pretende diminuir a subvenção pública a cada uma das escolas de samba, fazendo-a retornar, no caso do Grupo Especial, ao valor de 1 milhão de reais, o equivalente ao que se pagava antes de 2015. Escolas menores e blocos também receberão menos. A Liesa, em nota oficial, ameaça não desfilar em 2018. O deputado estadual Chiquinho Carvalho, do Partido Trabalhista Nacional, presidente da Mangueira, que fora um dos mais entusiastas apoiadores de Crivella, subiu o tom. “Ele (Crivella) não sabe do que somos capazes”, disse a uma emissora de rádio do Rio. Em nota oficial, a Mangueira falou em “organizar e mobilizar jornadas de luta em defesa do samba, da arte e do nosso Carnaval” Jornalistas e pesquisadores envolvidos com o assunto estão preocupados com o caráter religioso da medida. “Ele não tem palavra. É um homem público que não tem palavra. É um crime o que ele está cometendo contra os trabalhadores do Carnaval”, disse-me Luiz Carlos Prestes Filho.
A Prefeitura diz que as reações são exageradas e que o corte se deve a questões de orçamento. A Riotur está elaborando um planejamento para atrair investidores privados. Vem dos vereadores do PSOL a reação institucional mais articulada contra essa medida, por meio de audiências públicas, comissões especiais e pedidos de CPI na Câmara dos Vereadores. É o mesmo local em cujo púlpito o vereador Otoni de Paula Jr., do Partido Social Cristão, disse que “o Carnaval do Sambódromo se tornou verdadeiro culto a orixás, caboclos e guias”. E que “todo mundo que vai ao Sambódromo volta com o seguinte relatório: é sacanagem a céu aberto, é prostituição, é mulher pelada”. Crivella garante que não volta atrás.