Na piauí deste mês, o documentarista João Moreira Salles reflete sobre a trajetória recente do Botafogo, que, de favoritíssimo no Campeonato Brasileiro em 2023, terminou em quinto lugar. “No primeiro turno do campeonato, o Botafogo ganhou quinze das dezenove partidas disputadas, o melhor desempenho de um time desde a adoção do sistema de pontos corridos para determinar o campeão brasileiro – fizemos 47 pontos”, escreve o documentarista, que é torcedor do time. “No segundo turno, não chegamos à metade disso. Contudo, era tamanha a margem de segurança construída nos deslumbrantes meses anteriores que, a onze rodadas do final, os estatísticos ainda davam ao Botafogo 90,5% de probabilidade de ser campeão.”
Havia algo de excepcional nesse Botafogo de 2023 que parecia repetir os seus anos de ouro, vividos entre as décadas de 1950 e 1960. Moreira Salles, que é fundador da piauí, define a equipe atual como “um time de homens comuns”. Ele comenta: “Desse conjunto de homens maravilhosamente normais, nenhum representou melhor o Botafogo de 2023 do que Tiquinho Soares. Paraibano, 32 anos, sua vida fora dos campos chama a atenção pelo que não aparece nela. Ibiza, Miami, joias que valem carros, carros que valem apartamentos, esses e outros acessórios do jogador de futebol bem-sucedido não fazem parte da sua persona pública. Nas férias de fim de ano, Tiquinho trocou destinos caros pela sua cidade natal, Sousa, onde virou o ano junto de velhos amigos com os quais jogou bingo marcando a cartela com grãos de milho.”
Daqueles onze jogos que faltava jogar no Campeonato Brasileiro, bastariam duas vitórias para o Botafogo se sagrar campeão. Ou então uma vitória e quatro empates. Nada disso ocorreu, enquanto foram se sucedendo atribuladas trocas de técnicos no time. “Depois de meses de um sentimento oceânico de irmandade, cada um de nós foi obrigado a voltar para a sua solidão”, escreve Moreira Salles. “A queda é particularmente dolorosa para os mais velhos. Nos piores momentos, ela significa a consciência (talvez prematura, não importa) de que aquela experiência dificilmente se repetirá no nosso tempo de vida. Ser parte da multidão feliz depois de décadas, isso acabou. Nesse sentido, é um luto.”
No texto, o documentarista se pergunta por que o botafoguense, mesmo com tantas frustrações, continua fiel ao seu time. “Ora, se tudo é poder e força, se a vitória está determinada de antemão, por que o botafoguense não cai no niilismo? No meu caso, a razão está antes de tudo na torcida. (…) Sou Botafogo sobretudo por causa dos torcedores”, observa. “Porque é difícil não admirar uma capacidade tão grande de amar sem exigir recompensa.”
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