A capa de cada edição da piauí passa por um processo ao mesmo tempo demorado e rápido. Demorado, porque o tema da capa oscila de um assunto para outro ao longo das semanas e, quase sempre, só é definido para valer nos últimos dias. E também rápido, porque, feita a escolha do assunto, todo o trabalho de arte – o esboço, os ajustes, o acabamento – precisa ser concluído em questão de dias ou, às vezes, em questão de horas.
A capa da edição atual percorreu de modo exemplar as duas etapas – a demorada e a rápida. No início de fevereiro, a cartunista Laerte sugeriu à direção da revista que o tema da capa fosse o coronavírus. Sugestão aceita, a artista começou a trabalhar, mas nem teve tempo de avançar. Pouco depois, na vertigem dos acontecimentos no Brasil, o vírus perdeu a concorrência para outro assunto: o assassinato de Adriano da Nóbrega, miliciano ligado à família Bolsonaro, morto numa controvertida operação policial na Bahia.
Enquanto Laerte trabalhava na segunda opção de capa, surgiu um terceiro assunto: o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarara que, com o dólar baixo, “até empregada doméstica” viajava para a Disney. “Uma festa danada”, protestou. A piauí achou que o pesadelo do ministro valia a capa. Os desenhistas Caio Borges e Adão Iturrusgarai puseram mãos à obra para interpretar a fala de Guedes. O resultado foi tão diverso e tão bom que a piauí decidiu que publicaria metade da tiragem com a capa de Borges, outra metade com a capa de Iturrusgarai.
Pura ilusão. Passado o Carnaval, a diatribe de Guedes parecia ter envelhecido demais, diante da enorme repercussão do motim da Polícia Militar no Ceará, dos contínuos desdobramentos do assassinato do miliciano e do estrondo da convocação da manifestação bolsonarista para 15 de março. A piauí, então, mudou a capa novamente. Entre a escolha do novo tema, os esboços iniciais, os ajustes e a execução pelo cartunista Caio Borges, a capa que chega às bancas nos próximos dias foi feita em apenas 10 horas.