Elizabeth II é a monarca mais longeva e de mais longo reinado em toda a história inglesa. Sempre correta no exercício de suas funções e alheia a qualquer discussão partidária, cometeu poucos erros numa trajetória de quase 64 anos como chefe de Estado. O maior deles talvez tenha sido subestimar a reação de seus súditos à morte de sua ex-nora, a princesa Diana de Gales, num acidente de automóvel em Paris, em 1997.
Diana havia sido uma grande dor de cabeça para a rainha. A separação do herdeiro do trono, seu filho Charles, seguida de um divórcio em 1995, foi provavelmente o maior trauma político sofrido pela monarquia desde a abdicação do tio de Elizabeth, Eduardo VIII, em 1936.
A rainha não compreendeu de imediato a comoção nacional e internacional provocada pela morte daquela que naquele momento era a mulher mais famosa e fotografada do mundo. Também não acompanhara a mudança gradual da imagem pública da princesa, que nos últimos anos passara a ser vista como uma ativista generosa, comprometida com causas humanitárias, após anos de ter seu nome envolvido em rumorosas revelações sobre casos extra-conjugais.
Sua manifestação de pesar foi tardia, e, portanto, não teve o impacto emocional que teria logo após a tragédia. Esse talvez tenha sido o pior momento de Elizabeth junto à opinião pública, mas sua popularidade pessoal sempre foi e continua muito alta, contribuindo naturalmente para a solidez da instituição monárquica.
A troca de cartões de Natal é uma prática sagrada na Inglaterra, que se mantém mesmo em tempos de internet. A rainha nunca deixou de cultivar esse costume, inaugurado por sua antepassada, a rainha Vitória, já no final do século XIX.
Centenas de pessoas recebem todo final de ano cartões da rainha, com uma foto recente da família real e uma mensagem impressa de bons votos, sempre assinada por ela e pelo marido, o príncipe Phillip, às vezes com outras palavras de carinho e amizade adicionadas em manuscrito.
O protocolo é muito rígido: para a imensa maioria, Elizabeth assina “Elizabeth R.” (“R” de Regina, rainha em latim). A uns pouco íntimos, sobretudo parentes e amigos de infância, identifica-se como “Lilibet”, seu apelido carinhoso desde menina.
Elizabeth escreve à mão o nome de cada um deles e adiciona às palavras impressas a menção manuscrita “with love” (“com amor”). O príncipe Phillip assina “Papa”. A fotografia mostra a família quase completa (com exceção justamente de Charles e Diana).
Por ser uma comunicação privada, o cartão não consta dos arquivos oficiais ingleses. Talvez Diana o tenha presenteado a algum amigo ou auxiliar, como costumava fazer.
Não se pode adivinhar por quais caminhos e por quantas mãos terá andado este cartão nos mais de trinta anos desde que a rainha o expediu. Foi adquirido recentemente, de um colecionador inglês que o possuíra por cinco anos.