O trajeto entre a igreja e o salão de festas era curto – coisa de poucos metros de caminhada –, mas havia se formado um inesperado e incontrolável corredor polonês. De um lado, manifestantes gritavam “Fora Temer”, cuspiam, jogavam ovos, garrafas e até pedras portuguesas nos convidados da festa – que, no outro extremo, tentavam se proteger dos ataques com as mãos, abaixando-se. Com guarda-chuvas, seguranças contratados para o evento tentavam socorrer os convidados do bombardeio. No meio, a noiva ria amarelo, o rosto transparecendo contrariedade, tentando sublimar o que acontecia.
Em uma noite fria de julho, o casamento da deputada estadual paranaense Maria Victoria havia se transformado numa batalha campal. Quando ela cruzou a trincheira e adentrou os salões da Sociedade Garibaldi, um clube de descendentes de italianos localizado no Centro histórico de Curitiba, recolheu-se. Oficialmente, fora retocar a maquiagem. No salão, sua mãe, a vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, em prantos, era consolada por amigos. Mais adiante, o pai da noiva, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, implorava aos seguranças que reforçassem a vigília nas portas. A família Barros – filiada ao Partido Progressista – tinha um problema.
Naquela semana, o casamento da deputada havia dominado as rodas de conversa na cidade. Tudo começou quando o jornal Gazeta do Povo informou que a montagem da estrutura necessária para dar conta dos mais de mil convidados – e que ocultou a fachada tombada pelo patrimônio histórico – fora erguida sem autorização. Em seguida, veio à tona a lista de presentes pedidos pelos noivos: garrafa térmica de prata de 2,3 mil reais, açucareiro de 400 reais, só para se ter uma ideia. Os manifestantes contrários ao governo do qual o pai da noiva faz parte viram no evento uma oportunidade.
No dia do casamento, os militantes organizados contaram com a participação de indignados casuais. A Sociedade Garibaldi fica no Largo da Ordem, no qual, aos fins de semana, jovens de bairros pobres e da região metropolitana se divertem entornando garrafas de vinho barato ou destilados misturados a refrigerantes, sorvidos em embalagens PET chamadas de “tubão”.
“Quem organizou o casamento não tem noção do que é o Largo da Ordem à noite. Um casal comum teria problemas para fazer a pé o percurso que eles pretendiam”, resumiu um jornalista que acompanhou a manifestação. Maria Victoria, uma jovem bonita, de sorriso fácil, foi saudada com gritos pouco usuais em protestos de esquerda. “Vagabunda” e “puta” eram ouvidos a todo momento. Um dos convidados replicou aos manifestantes: “Pobres”, gritou. A polícia interveio com o cardápio habitual: bombas e cassetetes.
“Não foi por falta de aviso”, disse-me um deputado estadual paranaense que esteve na festa. “Quando eles me contaram onde iam fazer o casamento, eu não disse que estavam loucos porque não sou indelicado. Mas falei que haveria manifestações. Eles até pediram que não se votasse [na Assembleia] nada polêmico naquela semana, para não acirrar os ânimos. Mas o país está conflagrado”, contou.
Os planos do clã Barros para se tornar a nova oligarquia paranaense coincidem com o ocaso de velhos líderes do Estado. O ex-governador e atual senador Alvaro Dias, prestes a completar 50 anos de vida pública, tenta se apresentar como novidade para a disputa pelo Palácio do Planalto pelo Podemos, novo nome do velho e obscuro PTN – cujo maior feito em sua história de 70 anos foi ter sido a sigla que levou Jânio Quadros à presidência. Antes, militou em um improvável Partido Verde. Seu irmão, o ex-senador Osmar Dias, deve disputar o governo do Estado sob o desgaste de ter ocupado uma diretoria do Banco do Brasil durante os anos Dilma Rousseff, quando a instituição foi enrolada na Lava Jato. Os Dias são adversários antigos dos Barros.
O senador Roberto Requião, do PMDB, também vive um momento de baixa. Em 2014, quando concorreu ao governo do Estado, sequer foi ao segundo turno. Ele perdeu para o atual governador, o tucano Beto Richa, que – mesmo aspirando uma vaga ao Senado – é pressionado por aliados para completar seu mandato como governador para não deixar o governo nas mãos de Cida Borghetti. Com os Dias e Requião em baixa, assim como os manifestantes, Barros também enxergou uma oportunidade.
As convicções políticas de Barros parecem tão sólidas quanto prego em pudim. Depois de quase dez anos na base de apoio das gestões Lula e Dilma – do qual chegou a ser vice-líder do governo –, ele abandonou Dilma sem aviso e apoiou Michel Temer, votando a favor do impeachment.
A quatro dias da votação que tiraria a presidente do cargo, a vice-governadora Cida Borghetti foi a Brasília participar de uma cerimônia no Palácio do Planalto na qual se anunciaria investimentos no porto de Paranaguá. Pouco antes do evento, estava no gabinete do marido – que ainda era apenas deputado federal –, quando recebeu um telefonema. Sua assessora informava que a presidente lhe pedia um encontro reservado de última hora – talvez uma última tentativa de manter o casal ao seu lado.
“E agora, Ricardo?”, afligiu-se, repassando a questão ao cônjuge. Havia dias, a imprensa noticiara que Dilma Rousseff – num último suspiro para tentar manter-se no cargo – cogitava entregar a Barros o desejado Ministério da Saúde. No entanto, na véspera, o PP havia anunciado que deixaria a base de apoio da presidente, da qual Barros era o vice-líder na Câmara.
“Cida ficou muito nervosa. Pelo telefone, deu pra ouvir o Ricardo dizer a ela: ‘Você toma a decisão. Mas não é pra ir’, contou-me a jornalista Ruth Bolognese, a assessora que ligou para a vice-governadora naquele dia. Ela não só declinou do encontro com a presidente, como faltou ao evento em que deveria discursar e que era o motivo de sua ida a Brasília. Queria evitar qualquer chance de encontrar com Dilma. Só seria vista, por sua entourage, à noite, já no aeroporto, quando voltava a Curitiba.
Naquele mesmo dia, Ricardo Barros desembarcou da base de apoio do governo petista. Mal anunciou sua saída da base, ele passou a conspirar contra a presidente, em apoio explícito a Michel Temer, culminando, no domingo seguinte, com a votação pelo prosseguimento do processo de impeachment. Menos de um mês depois, com a ascensão de Temer, veio a recompensa. Ele foi empossado ministro da Saúde.
O casal Ricardo Barros e Cida Borghetti confirma a presença dela em Brasília naquele dia, mas negam a conversa sobre a desistência de ir ao encontro da então presidente. Confrontada com a negativa do casal, Ruth Bolognese, hoje ex-assessora de Cida, foi enfática: “Sustento o que eu disse. Eu vivi o episódio.”
Ricardo Barros e Cida Borghetti se conheceram nos primeiros dias de 1989 numa festa em Caiobá, o pomposo enclave das famílias tradicionais curitibanas na praia de Matinhos. Com 30 anos incompletos, Barros fora eleito prefeito de Maringá, sua cidade natal, meses antes, pelo Partido da Frente Liberal. Ela, que mal chegara aos 24, escrevia, apresentava e dirigia programas em uma produtora de vídeo.
“Cida costuma contar que perguntou a um amigo que estava na festa quem era o padre, apontando para Barros, que estava todo de preto”, disse-me uma fonte próxima ao casal. A hoje vice-governadora, segundo a fonte, era à época “uma socialite muito admirada pela beleza”. Mas já mostrava algum pendão pela política – era filiada ao antigo Partido Democrático Social Jovem, a versão matinê da legenda que sucedeu a Arena. O casamento, dali a dois anos, seria o segundo do ministro da Saúde. Com a primeira mulher, Barros teve duas filhas – todas vivem afastadas dos holofotes e da política. Com Cida, veio a terceira herdeira – Maria Victoria Barros, eleita deputada estadual no Paraná aos 22 anos, em 2014, e candidata a prefeita de Curitiba dois anos depois, quando ficou em quarto lugar com 5,66% dos votos.
Cida Borghetti também foi deputada estadual, entre 2003 e 2010. Sua assessoria disse que ela é “recordista de leis estaduais no Paraná”: em dois anos, apresentou 101 projetos. O mais lembrado é o que criou o Dia Estadual de Luta contra o Câncer de Mama. Em 2011, elegeu-se deputada federal, ocupando o lugar do marido, que disputara (e perdera) uma vaga no Senado. Seu projeto mais emblemático em Brasília, apresentado em 2011, mexia no Estatuto da Criança e do Adolescente. Dizia o seguinte: “Na condição de estudante, é dever da criança e do adolescente observar os códigos de ética e de conduta da instituição de ensino a que estiver vinculado, assim como respeitar a autoridade intelectual e moral de seus docentes.” Previa, como penas, suspensão por prazo indeterminado e, até, “encaminhamento a autoridade judiciária competente.” Acabou arquivado.
Apesar dos ovos, garrafadas e pedradas vistos do lado de fora, a festa do casamento de Maria Victoria foi descrita pelos presentes como “um sucesso”. Numa transmissão ao vivo, no Facebook, o colunista social Reinaldo Bessa – único jornalista a circular no local –, entrevistou Dudu Sperandio, chef de cozinha de alguma fama em Curitiba. Ele parecia espantado com o que via no bufê – trazido de Campo Mourão, cidade próxima a Maringá, em duas carretas e dois ônibus. “Vi uma lagosta fantástica, devia pesar uns dois quilos e meio. A lagosta mais linda que já vi aqui em Curitiba”, disse na transmissão. A família não revela quanto gastou na festa.
Mesmo sem a presença de Michel Temer – que foi convidado –, o incerto futuro de seu governo dominou a conversa nas rodas de políticos. No dia anterior, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitara a primeira denúncia de Rodrigo Janot contra o peemedebista. “O casamento foi um ato político. Não foi um evento do Ricardo, da Cida e da Maria Victoria, mas do ministro, da vice-governadora e da deputada estadual. A escolha do local foi proposital. Fazendo uma festa pequena, eles não iam chamar atenção”, comentou um aliado do ministro, para quem o banquete simbolizou a chegada definitiva dos Barros à capital.
“Para o sujeito comum, o que ficará desse casamento? Uma noiva agredida no dia mais importante de sua vida. Será que os Barros perderam algo com isso?”, prosseguiu. Confrontei o ministro com essa versão. Recebi, por escrito, uma resposta: “Quando seu adversário está cometendo um erro, não o interrompa.”
A transferência do núcleo de poder dos Barros de Maringá para Curitiba é um movimento iniciado em 2014, com a eleição de Cida Borghetti como vice-governadora do tucano Beto Richa, e aprofundado dois anos depois com a candidatura de Maria Victoria à prefeitura. À época, o ministro ouviu de aliados pedidos para que reconsiderasse: temia-se que a jovem deputada não desse conta do recado. Saiu-se mal, mas chegou à frente do candidato do Partido dos Trabalhadores, o deputado estadual Tadeu Veneri, e do filho do senador Roberto Requião. Os poucos votos foram alardeados pelos críticos da família e podem ter ecoado em Maringá. Após vencer o primeiro turno no QG político da família, Silvio Barros II perdeu a moral – e a prefeitura para o pedetista Ulisses Maia.
Erguida sobre o solo vermelho e fértil que fez do noroeste do Paraná uma potência agropecuária, Maringá é uma cidade jovem – fará 70 anos em 2017 –, planejada – as ruas arborizadas protegem do calor sufocante –, desenvolvida – ostenta um Índice de Desenvolvimento Humano superior ao da capital paulista – e rica – com pouco mais de 400 mil habitantes, tem o 59º maior PIB do país. E tem filhos ilustres: o juiz federal Sérgio Moro, ícone da operação Lava Jato, nasceu e se formou em direito na cidade.
Como é comum nas jovens cidades do norte e noroeste do Paraná, Maringá trata seus pioneiros com reverência. Bárbara Cecily Netto Barros, mãe de Ricardo Barros, é um deles. Bárbara é filha de Odwaldo Bueno Netto, herdeiro de uma quatrocentona família paulistana que resolveu correr o mundo e acabou na Ilha de Santa Helena – uma possessão britânica no Atlântico, a meio caminho entre as costas da África e da América do Sul, onde, em 1821, morreu exilado Napoleão Bonaparte. Ali, se casou e teve filhos, entre eles a mãe de Ricardo Barros.
Após uma passagem por Nova York, Bueno Netto e a família voltaram ao Brasil a tempo de participar da colonização do noroeste do Paraná, onde a abundância de terra fértil e barata atraía gente do Brasil todo. Caso do mineiro Silvio Magalhães Barros, que vivia em São Paulo mas decidiu tentar a vida no Sul como ajudante de agrimensor.
À medida que cravava raízes em Maringá, o pai do ministro da Saúde começou a se fazer influente na política local. “Nossa casa estava sempre aberta a uma boa reunião”, relembrou Bárbara, num vídeo disponível na internet.
Em 1960, Silvio Magalhães Barros se elegeu vereador pelo partido conservador União Democrática Nacional. Com a imposição do bipartidarismo pelo AI-2, mudou de lado e foi para o Movimento Democrático Brasileiro. Pelo partido de oposição à ditadura, se fez deputado estadual e federal. Em 1973, por fim, saiu das urnas eleito prefeito de Maringá. Dois anos após completar o mandato, em 1979, um infarto fulminante matou-o. Tinha 51 anos.
A morte do pai teve impacto profundo na vida de Ricardo Barros. “Ele era estudante [de engenharia civil], ainda muito jovem, a gente achava que ele era muito irresponsável, que só queria saber de namorar e andar de moto. Mas ele virou o homem da casa”, relatou o irmão mais velho do ministro, Silvio Barros II, numa entrevista concedida em 2016 ao jornalista Aroldo Murá no livro Vozes do Paraná. O irmão, também político, foi prefeito de Maringá entre 2005 e 2012.
Silvio Barros II já descreveu o pai como um homem “muito rigoroso, em todos os sentidos”. A ponto de proibi-lo de estudar biologia, como desejava. Silvio Barros, o pai, tinha duas máximas, segundo o biólogo frustrado: “Os filhos devem superar o pai para melhor” era uma. “O que é justo não se agradece”, a outra.
A personalidade do pai parece ter sido herdada integralmente pelo ministro Ricardo Barros. Amigos, políticos e observadores têm uma impressão convergente sobre ele: “extremamente pragmático”, “um trator”, “homem que acorda cedo e trabalha muito”. Um amigo próximo me disse: “Ele tem um meio sorriso… não é um sujeito expansivo. Uma pessoa me disse que não gosta do Ricardo porque sempre ouve um ‘muito prazer’ quando se encontram, ele nunca lembra dela, o que não é muito próprio de políticos.”
“Ele não perde tempo com devaneios políticos”, disse-me outro amigo. “Ele tem algo da personalidade do Eduardo Cunha. Não se irrita, não vibra, não se entristece. É um homem extremamente frio. E é de chegar chutando as canelas”, relatou um antigo aliado.
Os adversários prescindem de eufemismos: “boçal” é um adjetivo repetido com frequência quando o ministro é citado. Um veterano e respeitado político paranaense – interlocutor frequente de Fernando Henrique Cardoso e José Serra – e um provável candidato ao governo do Estado se recusaram a falar sobre Barros por não terem “nada de bom” a dizer sobre ele.
A descrição que o próprio Barros faz de si mesmo é sucinta: “Sou sincero e corajoso, obstinado na busca por meus objetivos. E um político de resultados”, jactou-se, por escrito, em um e-mail enviado na semana seguinte ao caos do casamento da filha. Não apenas o ministro recusou o pedido de entrevista, mas também a vice-governadora Cida Borghetti e Silvio Barros II, em uma ação que pareceu conjunta. “Ricardo Barros é o comandante do clã. Não se faz nada sem passar por ele”, falou Ruth Bolognese, a ex-assessora da família.
A amigos, Cida Borghetti gosta de dizer que “agradece a Deus” por Ricardo Barros ter tido um inimigo histórico no PP: o ex-deputado federal José Janene, morto em 2010 e figura recorrente nas delações premiadas da operação Lava Jato. A Janene se atribui a nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras, que assumiu com a missão de arrecadar propina para o partido.
Cida Borghetti, que costuma se referir a Janene sempre com apelidos que fazem menção à ascendência árabe dele, acredita que isso livrou o marido de figurar no escândalo de corrupção que ganhou as manchetes em 2014. Barros foi direto quando perguntei qual era sua relação com Janene: “Inimigos políticos.”
“Aparentemente, Barros dorme tranquilo mesmo com a Lava Jato nas ruas. A razão disso é o controle que Janene tinha do partido no Paraná. Barros só cresceu após a morte dele”, narrou uma fonte. A operação, até agora, só atingiu o ministro de raspão: ele aparece numa lista com nomes de duas centenas de políticos que receberam dinheiro da Odebrecht – o que, a princípio, não é ilegal. Nas planilhas da empreiteira, o ministro é identificado como “Areia”. A campanha dele em 2014, financiada com declarados R$ 3,13 milhões, não traz registros de doações da mega-empreiteira. Por outro lado, há dinheiro doado ao PP, e repassado a Barros, por Galvão Engenharia, JBS e BTG Pactual (do banqueiro André Esteves) – todos enroscados nas investigações.
Ricardo Barros filiou-se ao então PPB, embrião do PP, no início dos anos 90. Saíra do PFL por desavenças com a cúpula nacional do partido. Encontrou a nova legenda dominada por Janene – paranaense de Santo Inácio, mas que fez carreira política em Londrina, cidade que mantém com Maringá uma rivalidade ao estilo Rio x São Paulo. Mas tratou de cavar seu próprio espaço. Logo, era empossado vice-líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara.
Com a eleição de Lula, em 2003, se colocou na oposição, mas por pouco tempo. Logo, foi nominado vice-líder da bancada do petista – cargo que repetiu sob Dilma. “Barros não tem, e faz questão de não ter, um compromisso ideológico. Ele tem para si que a política é um jogo, jogado quase sempre nos bastidores, do qual quer sempre fazer parte”, disse-me uma fonte.
Os holofotes inerentes ao cargo de ministro parecem ter dado vazão a uma faceta até então desconhecida de Ricardo Barros: a capacidade de fazer declarações desastradas. Em pouco tempo, criticou pacientes do SUS por “inventar” doenças; falou que homens não iam ao médico por falta de tempo, por trabalharem mais que as mulheres – essa ganhou uma reprimenda pública da filha dele, então em campanha pela prefeitura de Curitiba –; falou que médicos fingem trabalhar, e com isso ganhou a inimizade de entidades da categoria.
Perguntado se algumas delas lhe causou arrependimento, Barros tergiversou. “Tiraram minha fala do contexto”, argumentou. Segundo uma pessoa próxima, os dissabores não parecem incomodá-lo. “Ele adora ser ministro. Certa vez, me disse não se importar com quem não gosta dele. O que importa, para Ricardo Barros, é ser importante.”
Assim que foi empossado no cargo, numa quinta-feira, Barros marcou eventos oficiais para o fim de semana em Curitiba e Maringá. Naturalmente, estava acompanhado da mulher. Ele repetiria a estratégia ao longo de setembro, com a campanha eleitoral nos municípios a todo vapor, visitando cidades em que apoiava candidatos para prometer recursos para a Saúde. A prática se manteve desde então. Em julho, o ministro marcou dois eventos oficiais na região de Curitiba, ambos às sextas-feiras, quando costuma ir à cidade para o fim de semana.
No dia seguinte ao casamento, a noiva distribuiu uma nota à imprensa. “A pré-candidatura de Cida Borghetti ao governo do Paraná foi a motivação dos protestos incentivados e financiados pelos partidos e sindicatos de esquerda”, escreveu. Em entrevista a uma emissora de rádio local, o ministro Ricardo Barros disse que os manifestantes tentaram “produzir uma insatisfação que de fato não existe” contra Michel Temer. Pedi que ele comentasse a aprovação do presidente, que estava em pífios 7%, segundo o Datafolha. “Não há pressão popular para a saída dele”, limitou-se a dizer. É um mistério imaginar qual seria a postura de Barros no dia seguinte a uma eventual queda de Temer.
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Errata: versão anterior deste texto trazia a informação de que o ex-deputado federal José Janene havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Janene morreu em 2010. Nesses casos, o processo é arquivado.