Premiado com o Urso de Prata, em Berlim, e vários troféus Mucuripe, em Fortaleza, O clube foi bem acolhido pela crítica dos grandes jornais do Rio e São Paulo.
Chama atenção, em primeiro lugar, o tom preciso e a densidade incomum do filme dirigido pelo chileno Pablo Larraín. Também se destacam a qualidade e adequação física dos atores e da atriz Antonia Zegers aos personagens, e o roteiro de Guillermo Calderón e Daniel Villalobos, que trata a perversidade humana de forma perturbadora.
Filmado em apenas duas semanas, com orçamento baixo, O clube serve, além de tudo, como modelo de produção a ser considerado em outros países, como é o caso do Brasil.
A luz diurna deixa os interiores na penumbra, e as cores sem brilho. A câmera se move pouco. Desloca-se apenas para acompanhar personagens. De forma geral fixos, os planos contribuem, com a fotografia de Sergio Armstrong, para criar atmosfera opressiva que, pouco a pouco, instala-se, domina o filme e o torna inquietante.
Mais do que nos crimes do passado, O clube se concentra é na manipulação dos moradores da pequena cidade. Os manipuladores são padres católicos e uma freira, refugiados com um galgo em uma casa à beira-mar. Para se livrarem de quem os atormenta reavivando o passado, desconhecem restrições e vão a extremos imprevistos.
Segundo Larraín, O clube não pretende ser uma denúncia. “Não somos jornalistas”, declarou. “Nem queremos fazer juízo de valores. Procuramos trazer imagens que respeitem o espectador, ao mesmo tempo em que tentamos surpreendê-lo, saindo da superfície.”
(http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-116315/)
Larraín espera, conforme declarou, que o espectador entenda por que razão o cachorro dos padres e os de outros moradores da cidade são galgos. Mas parece pouco provável que essa compreensão possa ocorrer.
“Por um lado,” disse Larraín, “em vez de fazer penitência, eles se dedicam a treinar e levá-lo [o galgo] para passear, algo que pessoalmente me irrita. E há seu aspecto simbólico: o galgo é o único cachorro nomeado na Bíblia.”
(http://cultura.elpais.com/cultura/2015/02/09/actualidad/1423496577_587535.html)
Nesse mesmo artigo do El país é mencionada a matança anual de galgos que ocorre no final da temporada de caça, na Espanha. Segundo informa a Agência de Notícias de Direitos Animais (http://www.anda.jor.br/02/03/2015/fevereiro-marca-temporada-caca-consequente-abandono-galgos-espanha), “todo ano cerca de 50.000 galgos são abandonados ou cruelmente assassinados no país. Para os caçadores, os galgos têm vida útil máxima de 3 a 4 anos, a partir desse momento o animal não é mais considerado apto para auxiliar na caça. Nesse momento, termina sua vida […] A dramática situação de maus-tratos que vivem os galgos espanhóis é tão grave que foi denunciada em outubro de 2011 fora das fronteiras espanholas, pela Eurocâmara, que enviou uma carta ao presidente espanhol, na qual pedia que pusesse fim a essa barbaridade.
Parte da carta diz: ‘Os galgos são severamente golpeados, queimados vivos, queimados por ácido, atirados em poços, presos em cavernas ou abandonados por caçadores quando já não servem, até morrerem’. Estas mesmas palavras foram assinadas pelo presidente do Intergrupo de Bem Estar Animal da Eurocâmara Carl Schlyter e os eurodeputados Kartika Támara Liotard e Raul Romeva. A mesma entidade reconhece, através do artigo 13 do Tratado de Lisboa, que os animais são seres sencientes [aqueles que percebem pelos sentidos] e que consequentemente devem ser respeitados pelos estados membros. Também a organização Anistia Internacional denunciou o abuso de exploração dos animais em atividades de caça.”
Em O clube, os galgos ocupam o lugar que poderia ser de meninos e meninas, homens e mulheres, vítimas de abusos e maltratos pelos quais os responsáveis, algumas vezes, são quem menos se poderia imaginar fosse capaz de tamanhas atrocidades.